Diante da resistência do governo federal desde que a vacinação infantil contra covid-19 foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na última semana, no dia 16 de dezembro, diversas organizações e entidades médicas têm se manifestado sobre a eficácia e segurança do vacina da Pfizer, bem como sobre a urgência da imunização da população pediátrica.
Nesta quinta-feira (23), a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI COVID-19) atualizou uma nota divulgada em defesa da inclusão de crianças de 5 a 11 anos na campanha nacional de vacinação contra o coronavírus. A decisão foi tomada de forma unânime e se baseou nos dados epidemiológicos nacionais e internacionais sobre o impacto da covid-19 nas diferentes faixas etárias, considerando o risco de infecção, transmissão e agravamento (hospitalização e morte), além de informações sobre a segurança desse imunizante em larga escala, entre outros.
No documento, a associação destacou que "a chegada de uma nova variante como a ômicron, com maior transmissibilidade, faz das crianças (ainda não vacinadas) um grupo com maior risco de infecção, conforme vem sendo observado em outros países onde houve transmissão comunitária desta variante. Neste contexto epidemiológico, torna-se oportuno e urgente ampliarmos o benefício da vacinação a este grupo etário".
A câmara técnica também apresentou estatísticas alarmantes sobre a letalidade da doença entre a população infantil. De acordo com dados do sistema nacional SIVEP-Gripe, atualizados até o dia 6 de dezembro de 2021, só neste ano 12.921 crianças com idade entre 0 a 11 anos tiveram diagnóstico de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) por covid-19, das quais 727 evoluíram para óbito. Desde o início da pandemia, foram contabilizadas um total de 1.449 mortes.
Na faixa etária de 5 a 11 anos, grupo-alvo da vacina da Pfizer aprovada pela Anvisa, em 2020 foram registrados 2.978 casos de SRAG por covid-19, com 156 mortes. Já em 2021, o número de ocorrências foi maior, passando para 3.185 casos, com 145 mortes. No total, portanto, 301 crianças morreram — o que, em 21 meses de pandemia, significa 14,3 mortes por mês ou uma a cada dois dias. Esses números representam, ainda, uma incidência de 29,96 casos e 1,46 óbitos a cada 100 mil habitantes.
Outro ponto levantado pela CTAI COVID-19 é o de que agências regulatórias e de saúde pública de outros países, como Canadá, Estados Unidos, Israel, e até mesmo a União Européia já aprovaram o uso da vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech, baseadas no cenário epidemiológico local, eficácia e segurança do imunizante. Para se ter ideia, só nos EUA, até o dia 9 de dezembro, mais de 7 milhões de doses foram aplicadas nos pequenos de 5 a 11 anos e apenas 8 casos de miocardite foram registrados — todos classificados como de evolução clínica favorável.
Com todas essas evidências, a câmara técnica declarou que "os benefícios são muito maiores do que os riscos, pilar central de avaliação de qualquer vacina incorporada pelos diversos programas de vacinação, seja no Brasil ou no mundo". A nota é assinada por diversas organizações, entre elas a Associação Brasileira de Saúde Pública (ABRASCO), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e as sociedades brasileiras de Pediatria (SBP), de Infectologia (SBI) e de Imunizações (SBIm).
Nesta sexta-feira (24), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também publicou um manifesto no qual defende a vacinação contra covid-19 para crianças de 5 a 11 anos e pede urgência na decisão do Ministério da Saúde. O documento foi motivado pela fala do ministro Marcelo Queiroga que, na última quinta-feira (23), declarou que "os óbitos de crianças estão dentro de uma patamar que não implica em decisões emergenciais".
"Ao contrário do que afirmou recentemente o ministro da Saúde, o número de hospitalizações e de mortes motivadas pela covid-19 na população pediátrica, de forma geral, incluindo o grupo de crianças de 5-11 anos, não está em patamares aceitáveis. Infelizmente, as taxas de mortalidade e de letalidade em crianças no Brasil estão entre as mais altas do mundo", ressaltou a entidade.
No início da semana, a própria SBP e as sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm) e de Infectologia (SBI) já tinham tornado público o parecer encaminhado à Anvisa na ocasião em que as entidades foram consultadas. No texto, entre outras informações, as instituições ressaltaram que os estudos realizados com o imunizante da Pfizer apontaram uma eficácia de 90,7% para a prevenção da covid-19 pelo menos 7 dias após a segunda dose e em um período de aproximadamente 2 a 3 meses. Além disso, quanto à segurança, não foram observados eventos adversos graves associados à vacinação.
Relutante quanto à vacinação infantil, o governo federal decidiu abrir uma consulta pública. A medida foi divulgada no Diário Oficial da União (DOU) da quarta-feira (22), mas o formulário só ficou disponível para a população opinar nesta sexta-feira (24). A consulta, que ficará aberta até o dia 2 janeiro de 2022, inclui questões que foram motivo de muito embate nos últimos dias, como a necessidade de prescrição médica para que as crianças possam tomar a vacina.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/12/com-uma-morte-cada-dois-dias-e-risco-da-variante-omicron-vacinacao-de-criancas-de-5-11-anos-e-urgente-defendem-entidades-medicas.html