Nos últimos dois meses, a cidade de São Paulo tem sofrido um aumento significativo de casos de Influenza A, vírus da gripe. No Sabará Hospital Infantil, localizado na região central da capital, só em dezembro, 42% dos testes rápidos deram positivos para Influenza A, entre 1 e 15 de dezembro. Em novembro, esse número foi abaixo de 10%.
Segundo Francisco Oliveira, gerente médico e infectologista do Sabará Hospital Infantil, os casos de gripe começaram a ressurgir em novembro, apesar de ainda serem em menor quantidade quando comparados aos registrados na primeira quinzena de dezembro. "Ficamos alguns meses praticamente sem fazer esse tipo de diagnóstico", afirma. Mesmo com esse crescimento, Oliveira destaca que, felizmente, os quadros das crianças, na maioria das vezes, foram leves. No entanto, é preciso ter cuidado, pois o vírus Influenza pode causar complicações mais graves, principalmente nos pequenos com menos de 2 anos de idade ou em grupos de pessoas com outras comorbidades.
O Influenza tende a circular com mais intensidade durante o inverno, no entanto, neste ano, estamos vendo um comportamento um pouco menos habitual desse agente infeccioso. De acordo com o médico do Sabará, alguns fatores podem ajudar a explicar esse novo cenário. No primeiro semestre do ano, por exemplo, estávamos vivendo um pico da pandemia da covid-19, então, as pessoas usavam mais máscara e evitavam aglomerações. Além disso, parte dos alunos ainda estava no ensino remoto ou estudando em sistema híbrido.
Com menor contato entre as pessoas, o Influenza passou a se propagar menos — vale lembrar que ele também é transmitido por tosse e espirros, assim como o coronavírus. "Quando as pessoas não estão tendo contato com esse vírus, a tendência é que o nível de imunidade contra com esse agente diminua. Muitas crianças, principalmente os menores que nasceram nessa época do ano, nunca chegaram a ter contato com esse vírus", explica o especialista.
Após a flexibilização de algumas medidas de segurança contra a covid-19, as pessoas passaram a se aglomerar mais e até mesmo a relaxar no uso da máscara, embora o item de proteção facial continue sendo obrigatório tanto em espaços fechados quanto abertos. Com isso, o vírus encontrou um ambiente propício para se disseminar.
Outro ponto importante é quanto à vacinação. Oliveira explica que, em 2021, a cobertura da vacina contra o influenza foi abaixo do esperado e isso também pode ter contribuído para a maior circulação do vírus.
De forma geral, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo também notificou o aumento considerável de casos de Influenza na cidade, assim como ocorre no Rio de Janeiro. Em novembro de 2021, a SMS da capital registrou um total de 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de covid-19. Já agora em dezembro, só na primeira quinzena, a pasta já contabilizou um total de 91.882 atendimentos com quadro respiratório, sendo 45.325 suspeitos de covid-19.
Entre as crianças, até o momento, em 2021, já foram registrados 77 casos de Influenza, informou a pasta à CRESCER – nove casos foram notificados em novembro e sete na primeira quinzena de dezembro. Em 2020, foram 89 registros.
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) também tem demostrado aumento por todo o país. No município de São Paulo, em 2021 foram registrados 119.873 casos com necessidade de hospitalização. Desses, 205 (0,2%) foram confirmados como provocados pelo vírus Influenza – sendo 20 (9,8%) positivos para Influenza A (H1N1) pdm09A, quatro (3,8%) para influenza A (H3) sazonal, 134 (34,3%) para influenza A (não subtipado) e 47 (19,9%) para influenza B.
Em nota à CRESCER, a Rede D’Or São Luiz também informou que seus hospitais em São Paulo estão, em média, com um volume de atendimento em seus prontos-socorros 50% maior do que o habitual. "O aumento deve-se principalmente ao surto de síndrome gripal na cidade. A maioria dos casos, provocados pelo vírus Influenza, é de pouca gravidade", diz o comunicado da rede.
De acordo com Eduardo Medeiros, professor de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo, o aumento de casos de influenza A pode, sim, estar relacionado com a circulação maior do tipo H3N2. O especialista comenta que ainda não há números fechados, mas já há alguns sequenciamentos que apontam para essa tendência.
O H3N2 é um subtipo do vírus Influenza A que já causou uma epidemia em Hong Kong. Recentemente, ele sofreu algumas alterações que foram identificadas em Darwin, na Austrália, e a nova cepa do vírus ganhou o nome de H3N2 Darwin. Segundo o professor Medeiros, como essas mutações são recentes, ainda não temos uma vacina que contemple essa nova cepa. "Vai entrar na formulação da vacina para 2022", afirma.
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De acordo com a pediatra e colunista da CRESCER, Ana Escobar, as pessoas que não tomaram a vacina da gripe não precisam se imunizar neste momento. "Quem já tomou a vacina ou quem não tomou está suscetível do mesmo jeito, porque a vacina de 2021 não pega esta variante do vírus", ressalta a especialista em seu perfil no Instagram.
Fique atento! Os sintomas do vírus Influenza são bem parecidos com os da covid-19. "Como você vai saber se é um ou se é outro? Testando. Se você identificar essa gripe, existe um tratamento. Com um medicamento que o seu médico pode orientar", pontua a pediatra Ana Escobar.
O infectologista do Sabará explica que, geralmente, a gripe é uma doença de início súbito. Dessa forma, a criança já começa com tosse, febre alta, dor no corpo, às vezes tem dificuldade na alimentação e apresenta até mesmo diarreia. É possível, ainda, que algumas se queixem de dor na garganta e no peito.
Segundo Eduardo Medeiros, dependendo do quadro clínico dos pequenos, existem medicações específicas para combater a infecção, por isso, é importante procurar um médico. No entanto, há algumas recomendações que os pais já podem fazer em casa, como alimentar bem o filho e mantê-lo hidratada.
Em relação às medidas de prevenção, o professor da Unifesp cita que as crianças têm um papel importante na transmissão do Influenza, então, o uso da máscara, a higienização das mãos e o distanciamento social continuam sendo extremamente importantes, principalmente agora com a chegada das festas de fim de ano.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2021/12/gripe-em-sp-hospital-infantil-relata-42-de-testes-positivos-para-influenza-em-criancas-so-em-dezembro.html