Minhas férias chegaram e eu decidi fazer uma viagem em família. Fui pouco a pouco convencendo minha mãe, sogra, irmã e cunhada a irem, trazendo minha sobrinha de 7 anos. Meu filho de 1 ano e 3 meses também foi. Obviamente, ponderei o trabalho que eu teria para ir com um bebê até os Estados Unidos, um voo longo pela frente. Eu também teria de carregá-lo na maior parte do dia, enquanto estivéssemos nos parques de diversões. Então, minha programação giraria em torno dele.
“Ah, não vale a pena, ele nunca vai se lembrar.” Ouço isso com frequência. Assim como já ouvi que não vale a pena fazer festa. Ele nunca vai lembrar. Para que fazer viagens? Dá na mesma levá-lo ao parquinho do prédio. Acho essa teoria um perigo! Primeiro, porque o que não conseguimos acessar em nossa memória na idade adulta não deixa de estar registrado. Nesses primeiros anos de vida, a atividade cerebral é inimaginável. Somos sedentos por informação e novidades.
+ Já pensou em fazer intercâmbio em família? Saiba como funciona
Quando eu estava grávida, li um livro pelo qual me apaixonei, chamado Infância – A Idade Sagrada, de Evânia Reichert. Ali, aprendi sobre todo esse processo que passamos e sobre a primeira poda cerebral, em que as ligações neurais que não estão “firmes”, por não terem sido estimuladas, são cortadas. O mais interessante foi descobrir que crianças que receberam muito afeto têm mais ligações e são mais resistentes (médicos e cientistas, desculpem-me pela explicação rasa). Foi o suficiente para eu entender que todo o estímulo é válido.
Acreditar que, quando um bebê se tornar adulto, não terá acesso rápido (algumas pessoas, por meio de técnicas como a meditação e a regressão, relatam lembrar) ao seu passado e, por isso, limitar o que oferecemos a ele é algo muito sério. É subestimar a criança. Só o fato de meu filho conviver por vários dias em uma casa com toda a família, sair da rotina, aprender a dormir no carrinho, onde der e como der, já é uma grande conquista.
+ 10 resorts e hotéis para ir com bebês
Eu não acredito que ele se lembre da comemoração de seu aniversário de 1 ano, mas aquele sentimento de reunião familiar e acolhimento fará parte de sua formação. Essa memória remota é o que nos constitui e, se algo falta ali, o trabalho que dá para rever isso na vida adulta é enorme. Alguém que tem medo de avião por um dia ter passado por uma forte turbulência pode chegar ao psicólogo e contar como aconteceu o trauma todo. E quando não sabemos por que temos determinados comportamentos? Muito pode ter a ver com essa primeira infância ou até mesmo com a vida intrauterina.
Minha pouca experiência tem me mostrado que não devo poupar esforços para oferecer tudo o que posso. Se meu filho não tiver consciência de tudo, certamente isso estará na estrutura do seu ser.
Rafa Brites é repórter, apresentadora e mãe de Rocco, 1 ano.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Rafa-Brites-Mae-na-real/noticia/2018/08/rafa-brites-meu-filho-nao-deve-se-lembrar-de-seu-aniversario-de-1-ano-mas-aquele-sentimento-de-acolhimento-fara-parte-de-sua-formacao.html