Conversando sobre a amamentação e seus desafios em uma roda de mulheres ouvi uma frase que bateu fundo em mim:
- A decisão final de amamentar ou não é da mulher!
Me lembrei (e não pude evitar falar) do dia em que me sentei na frente da pediatra dos meus filhos gêmeos (Dra. Ana Heloisa Gama, minha parceira e consultora no “Amamentar é...” ) e disse a ela que não aguentava mais; eu queria secar o meu leite. Eles tinham três meses, período no qual eu não havia dormido mais que quinze minutos entre uma mamada e outra, e ainda sentia dores ao amamentar.
Minha argumentação era fortíssima: desde o nascimento daquelas duas pequenas criaturas eu ainda não sentira nem uma brisa de prazer materno, só um cansaço indescritível!!!
E eu tinha este direito, o de entrar no quarto dos meus bebês feliz e sorridente para pegá-los no colo com alegria, brincando e mordiscando... Mas não era isso que acontecia, exaurida pelas noites não dormidas meu desejo era o de desaparecer num sono profundo desses dos quais a gente acorda sem nem saber em que dia está!
+ "Sempre é possível ajudar uma recém mãe perdida e desesperada", diz Chris Nicklas
Quem acompanha meu trabalho há tempos sabe o final da história: amamentei meus filhos até os nove meses, e levando-se em consideração o meu estado emocional, esse tempo é quase uma eternidade.
Mas não é sobre o tempo que quero falar.
O importante para destacar aqui é que a decisão de seguir amamentando, assumindo que daria conta daquele desafio enorme, foi minha. E só a tomei porque me permiti pensar em parar.
Hábil na forma de lidar com meu desespero, astuta e sábia em sua escuta, a médica sentada à minha frente sabia que, por trás do meu discurso, estava um pedido de ajuda. Nem eu sabia, mas parar de dar o peito me custaria muito mais emocionalmente do que cumprir a minha jornada materna.
Não ouvi sermão, nem argumentos médico-científicos. O que recebi foi um olhar empático e o acolhimento respeitoso de outra mulher que sabe (porque, no fundo, todas sabemos) do sentimento profundo de solidão que pode nos sequestrar em meio a essa travessia que é a maternidade.
E assim, a frase que ouvi de sua boca enquanto eu chorava um rio de lágrimas foi :
- Eu entendo.
Fizemos ali um vínculo que se mantém até hoje.
Não me sinto uma heroína. Pelo contrário, só eu sei dos sentimentos ambíguos e amargos que em muitos momentos me tomaram de assalto na minha trajetória.
Mas é fato que amamentar me serviu de recurso, em diversas etapas da construção da minha maternidade. Especialmente quando um estranho desconforto se apoderava de mim, como se eu não soubesse como ali havia chegado.
Amamentar é um dos caminhos de construir um vínculo com o bebê. E os vínculos são a base da vida. Sem eles não sobreviveríamos.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2018/08/nem-eu-sabia-mas-parar-de-dar-o-peito-me-custaria-muito-mais-emocionalmente-do-que-jornada-materna-diz-chris-nicklas.html