Friday, December 31, 2021

Saiba como a nova Classificação Internacional de Doenças altera diagnósticos na infância

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Começa a valer a partir deste 1.º de janeiro a nova Classificação Internacional de Doenças - a CID-11, que foi anunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) durante uma assembleia realizada ainda em 2019. Mas o que isso significa na prática?

Saiba como a CID-11 altera o diagnóstico de doenças presentes na infância (Foto: Pexels)

 

A CID é usada para padronizar mundialmente as doenças. E é graças a essa padronização de códigos, usada ao redor do mundo, que é possível acompanhar a incidência e o avanço dos mais diversos tipos de doenças e seus tratamentos.

Antes dessa atualização, estava em vigor a CID-10, aprovada em maio de 1990. Mas de lá para cá muita coisa mudou. Segundo a OMS, a nova classificação conta com cerca 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte versus 14.400 da CID-10.

Entre essas mudanças, as principais relacionadas à saúde na infância estão na classificação de casos de autismo, a inclusão dos distúrbios causados por jogos eletrônicos e a remoção do que era chamado de "transtorno de identidade de gênero". Além disso, a síndrome de burnout foi detalhada como um fenômeno ocupacional - um ganho mais o diagnóstico de mães e pais.

Diagnóstico mais detalhado para o autismo

Ouvida pela CRESCER, a Dra. Ana Márcia Guimarães, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) explica que as mudanças relacionadas ao autismo permitem uma assistência mais individualizada aos pacientes.

“O que mudou basicamente sobre o autismo é que a classificação na CID-11 leva em consideração o nível intelectual e a linguagem da criança. Se ela tem ou não déficit intelectual, se tem uma linguagem funcional, com comprometimento leve ou grave. Na CID-10, essa classificação era mais genérica, o que não permitia individualizar o diagnóstico e, portanto, o tratamento. Agora, cada perfil terá um código diferente”, explica.

 

A individualização é importante para que as crianças tenham garantidos os seus direitos a terapias mais específicas. “Isso pode mudar a assistência. Pode mudar o tipo de terapia que o convênio deve cobrir, ou o número de sessões, por exemplo. O código certo garante uma assistência mais adequada”, detalha a especialista.

CID-11 inclui distúrbios causados por jogos eletrônicos (Foto: Pexels)

 

O perigo dos jogos eletrônicos

Outra mudança importante trazida pela CID-11 é a inclusão de um código criado para configurar distúrbios causados por jogos eletrônicos. “Na CID-10 não existia um transtorno de saúde relacionado aos jogos eletrônicos. A gente usava o termo “uso problemático da internet”, mas era mais difícil conseguir terapia, conseguir que o convênio pagasse o tratamento. Agora há um código para o vício no jogo”, afirma Dra Ana Márcia.

"O quadro de distúrbio se configura por irritabilidade, crises agressivas quando impossibilitada de acessar ao jogo... Crianças com vício de jogo apresentam os mesmos sintomas físicos de abstinência que uma pessoa com vício de drogas, em graus variáveis, claro. Mas ela pode ter sintomas físicos: sudorese, taquicardia, além de prejuízos do desempenho acadêmico e social.”

 

Identidade de gênero: uma conquista

Ao contrário do movimento de inclusão que ocorreu com os distúrbios por eletrônicos, o que antes era chamado de transtorno de identidade de gênero deixou - finalmente - de ser considerado uma doença.

“O Transtorno de Identidade de Gênero tinha um CID no CID-10, era tratado como transtorno mental. Agora, o termo usado é incongruência de gênero. Não é uma doença, nem um transtorno. A pessoa nestes casos precisa ser acolhida por uma equipe multidisciplinar. E o CID funciona para que a pessoa receba esse apoio, no aspecto biopsicossocial”, diz a especialista ouvida pela CRESCER.

Os tratamentos incluem, por exemplo, terapias, exames para procedimentos de troca de sexo, quando a pessoa desejar, além do direito fundamental de pleitear a mudança de sexo e ser respeitada.

 

Mais atenção ao burnout

Para além da saúde das crianças, pensando agora na saúde dos pais, um destaque relevante foi o detalhamento da Síndrome de Burnout, incluída desde a CID-10 como um fenômeno ocupacional. 

"A Síndrome de Burnout ganhou um capítulo no CID-11, um avanço extremamente importante para que questões ligadas ao estresse crônico do trabalho possam ser reconhecidas como questão ocupacional crônica. Nomear também facilita a cobertura de procedimentos por operadoras de saúde, estimula empresas a criarem processos ao observarem a recorrência de atestados ou relatórios com esse CID, além da possibilidade de contabilizar casos. Ter a Síndrome de Burnout no CID faz repensarmos que exaustão do trabalho vai além de uma questão do trabalho", defende a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, da Clínica Theia.

Vale destacar, porém, que, segundo a OMS, a síndrome se refere especificamente a fenômenos no contexto do trabalho enquanto ocupação formal e não deve ser aplicada para descrever experiências em outras áreas da vida - como o conhecido Burnout Materno.

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/12/saiba-como-nova-classificacao-internacional-de-doencas-altera-diagnosticos-na-infancia.html