Wednesday, May 12, 2021

Covid-19: crianças transmitem pouco ou não transmitem?

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O papel das crianças na transmissão da covid-19 é muito discutido no meio acadêmico. Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por exemplo, aponta que as crianças parecem não ter um papel tão significativo como fonte de infecção do vírus. Publicado na revista acadêmica Pediatrics, o estudo, nomeado como "A Dinâmica da infecção por Sars-cov2 em crianças e contatos domiciliares em uma favela no Rio de Janeiro", contou com a participação de 323 crianças (0 e 13 anos), 54 adolescentes (14 e 19 anos) e 290 adultos, residentes no bairro Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro. De acordo com os dados, 45 crianças (13,9%) tiveram testes positivos para a covid-19 e nenhuma delas teve quadros graves, devido ao coronavírus.

Máscaras devem ser usadas corretamente para evitar a propagação do vírus (Foto: August de Richelieu/ Pexels)

 

A infecção assintomática foi mais prevalente em crianças menores de 14 anos de idade do que em aqueles maiores de 14 anos - 74,3% e 51,1%, respectivamente. Além disso, o estudo mostrou que todas as crianças diagnosticadas com a covid-19 tiveram contato com um adulto infectado com evidência de infecção recente. 

Realizado entre maio e setembro de 2020, o estudo contou com 667 participantes e 259 famílias inscritas. Segundo os pesquisadores, a partir dos dados coletados, é possível inferir que as crianças não parecem ser a fonte de infecção por covid-19 com mais frequência e, geralmente, adquirem o vírus de adultos. "Nossas descobertas sugerem que locais como, escolas e creches podem ser reabertos com segurança se medidas de mitigação de covid-19 adequadas estiverem em vigor e os funcionários devidamente imunizados", diz a publicação. 

 

Por que as crianças transmitiriam menos? 

 

 

No início da pandemia, pouco se sabia sobre o papel das crianças na transmissão do coronavírus. Francisco Oliveira, médico e infectologista do Hospital Infantil Sabará (SP), explica que se acreditava que o coronavírus se comportaria como o vírus que causa a influenza, sendo assim, os pequenos transmitiriam o vírus com mais frequência "Em seguida, começaram a aparecer as primeiras evidências que as crianças não teriam um papel tão importante na transmissão. Embora, até hoje, os estudos, que avaliam a carga viral - quantidade de vírus que as crianças eliminam - tenham discordância. 

O infectologista ressalta que as crianças têm uma chance maior de serem assintomáticas. Isso significa que elas tossem ou espirram menos, tendo menos probabilidade de transmitir o vírus. Apesar de essa não ser uma afirmação conclusiva, é uma hipótese avaliada pelos especialistas. 

Segundo o médico, há um outro fator que também pode impactar a transmissão. "Biologicamente, as crianças têm uma quantidade de receptores - locais em que o vírus se liga - menor que os adultos. À medida que elas vão envelhecendo, esse número aumenta. O fato de ter menos receptores faz com que as crianças eliminem uma quantidade menor de vírus, principalmente até os 10 anos de idade", afirma Oliveira. 

Em relação ao estudo, o especialista ressalta que a publicação mostra que as crianças com menos de 14 anos não foram infectadas primeiro e levaram o vírus para a casa. Pelo contrário, elas tiveram contato com um adulto infectado com evidência de infecção recente. "Isso é muito compatível com a observação que temos no hospital. Quando atendemos as crianças no pronto-socorro ou as internamos, conseguimos identificar em mais de 80% das vezes essas crianças têm alguém em sua casa que está assintomática ou que tem o diagnóstico recente de infecção", explica o médico. Isso não quer dizer que não existe a transmissão entre crianças, mas esse evento é menos frequente. 

Para o especialista, os dados sobre o papel de transmissão da covid-19 pelas crianças são importantes para avaliar a abertura das escolas. Segundo ele, o afastamento dos alunos das unidades de ensino pode gerar um impacto significativo na geração futura, principalmente nas famílias mais carentes. Por isso, o médico ressalta que é importante fornecer condições necessárias para que as escolas reabram com segurança. "A sociedade precisa se mobilizar para que as escolas sejam priorizadas". 

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/05/covid-19-criancas-transmitem-pouco-ou-nao-transmitem.html