Thursday, May 27, 2021

“Como pai, sempre coloco assuntos que ajudem na criação dos filhos nos meus livros”, diz Lázaro Ramos

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Comemorando uma trajetória de mais de 10 anos como autor de livros infantis, Lázaro Ramos lança nesse mês duas obras literárias para os pequenos: o inédito O Pulo do Coelho e uma nova edição de Edith e a Velha Sentada, seu primeiro trabalho do gênero.

No primeiro, ele conta a história de um coelho de circo que cansa de sair da cartola e decide ser mágico em uma fábula sobre lidar com fracassos e ter a coragem de perseguir seus sonhos; e, no segundo, a aventura de uma menina que encontra de forma inesperada, dentro da própria cabeça, a energia e o equilíbrio para enfrentar o dia a dia.

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Em entrevista à CRESCER, Lázaro, que é pai de João Vicente, 9, e Maria Antônia, 6, fala sobre as motivações que o levaram a escrever, até agora, seis livros para as crianças e dá dicas para incentivar a leitura desde cedo:

Lázaro Ramos (Foto: Júlia Rodrigues)

 

 

 

 

 

De onde veio a vontade de revisitar o ‘Edith e a Velha Sentada’?

Curiosamente percebi que o livro pode auxiliar os pais nesse período pandêmico. É uma história que fala sobre encontrar o equilíbrio no uso da tecnologia. Logo no começo da pandemia, tanto na minha casa quanto nas conversas com amigos e mensagens que via nas redes sociais, os pais estavam tendo muita dificuldade para encontrar o meio termo entre deixar o filho o tempo todo no tablet ou tirar para sempre os dispositivos eletrônicos e proibir a criança de usar. Essa história ajuda a construir um caminho alternativo.

O livro fala também sobre autoestima, um assunto que nunca deixa de ser importante. Nessa nova edição, a história não mudou, apenas atualizei alguns termos porque a tecnologia avançou muito em uma década. Fiquei muito feliz em revisitar esse trabalho e perceber que ele continua atual, mesmo tendo sido lançado há 11 anos.

Como surgiu ‘O Pulo do Coelho’?

'O Pulo do Coelho' veio em parte da minha experiência como pai de duas crianças. Resolvi falar sobre liberdade e autonomia porque são questões que vivo dentro de casa. Você começa a dar mais responsabilidades para as crianças, deixando que escovem os dentes sozinhas ou arrumem a cama, de acordo com a idade. Os pequenos pedem cada vez mais essa liberdade, mas tem desafios para conquistá-la. Por isso, criei uma fábula sobre um coelho que quer fugir do circo e virar mágico, deixando para trás a vida controlada que levava e se tornando dono de sua própria história.

Uma das frases que orienta o livro é ‘Não existe nem sucesso, nem fracasso que seja eterno’. É importante trabalhar isso com as crianças desde cedo. Elas ouvem muitos “nãos” dos pais, e precisam entender como lidar com essas frustrações. Nós adultos também estamos engessados por essa busca pelo sucesso e quando algo dá errado, muitas vezes ficamos estacionados, horas e dias sem saber como lidar com o fracasso... Muitos se sentem perdedores e não têm recursos para sair disso. A história vem dessa consciência de que nem tudo vai dar certo e precisamos buscar caminhos para nossa realização mesmo assim.

Edith e a Velha Sentada, Pallas, R$49. Texto de Lázaro Ramos e ilustrações de Edson Ikê. A partir de 9 anos (Foto: Divulgação)

 

Do primeiro livro infantil publicado até o mais recente, como você avalia sua trajetória como autor infantil?

Os primeiros livros, escrevi para a criança que eu fui, sobre os assuntos que queria ouvir. Depois que tive filhos, o ‘Caderno Sem Rimas da Maria’ e o ‘Cadernos de Rimas do João’ vieram da minha relação e das conversas com eles. Há livros também sobre minha observação de mundo. Amo observar a relação das crianças com o espaço e as pessoas. A forma como elas organizam as brincadeiras, pensam e se divertem me inspira. Sou fascinado porque acho que é nessa fase da vida que nascem nossas maiores qualidades e lutas. Tem coisas em mim que vejo que vem lá de trás e tento levar cura através da literatura. As crianças têm uma cabeça maluquinha e acho importante resgatar essa doidice porque isso é alimento para vida.

Depois de uma década como escritor, os mesmos temas ainda te interessam?

É curioso, não é algo intencional, mas todos os meus livros, de uma forma ou de outra falam sobre afetividade. Desde sempre precisamos conversar sobre isso, entender como um afeta o outro e que todos precisamos de afeto. Isso é o motor do mundo e o que está sempre presente nas minhas histórias. Além disso, tenho opinião sobre tudo, mas nos livros, procuro não dá-la de forma direta e sim estimular reflexões. Busco o sentimento. Meus livros trazem um pouco do meu jeito de conversar. Acredito que isso venha um pouco da carreira de ator, dos espetáculos que fiz, sempre fui pelo emocional, o racional não funcionava muito comigo.

Aprendo sempre a cada livro que publico. Aprendo em relação à linguagem porque é muito difícil falar com crianças. Aprendo através do olhar deles. No ‘Edith e a Velha Sentada’, por exemplo, a história mudou depois que algumas crianças leram uma versão inicial do texto e, sem saber quem era o autor, disseram que preferiam uma narrativa mais equilibrada ao invés de uma lição de moral sobre o uso da tecnologia. Foi isso que fiz e acho que ficou muito melhor.

Já, ‘O Pulo do Coelho’ é mais sofisticado. Aprendi com meus outros livros como meu sentimento poderia contribuir com a infância. Mas tenho dois compromissos que guiam todas as minhas histórias: primeiro criar uma leitura agradável para as crianças, entretenimento de qualidade, fazer com que se sintam parte da história e, como pai, sempre tento colocar assuntos que ajudem na criação dos filhos.

O Pulo do Coelho, Editora Carochinha, R$39,90. Texto de Lázaro Ramos e ilustrações de Lais Dias. A partir de 8 anos (Foto: Divulgação)

 

‘O Pulo do Coelho’ é um livro para os pais lerem juntos com os pequenos?

Com certeza, no ‘O Pulo do Coelho’ e em outros livros gosto de colocar um estímulo para o adulto também. Se você pensar a história pode ser sobre uma pessoa que quer trocar de emprego, mas quando pede demissão não sabe lidar com a nova realidade. Pode ser sobre uma pessoa que está casada há muito tempo e quer se separar, mas quando pede o divórcio, não sabe como seguir. Esse livro tem uma camada para o adulto, o que sai de uma forma natural quando escrevo. Acho que a boa literatura infantil oferece algo para todas as idades. Os adultos vão encontrar algo de interessante também.

Na sua casa, como você incentiva a leitura?

Meus filhos, felizmente, gostam muito de livros, mas é um trabalho diário.  Quando eles eram bebês, demos um livro de banheira para terem o primeiro contato. Lemos para eles todas as noites. E, o que acho mais importante, a gente lê na frente deles. É muito difícil querer que o filho leia se a pessoa não lê nada. O exemplo é o melhor estímulo.

O assunto literatura faz parte do nosso dia a dia. A Taís e eu conversamos sobre os livros que lemos durante as refeições e as crianças se interessam naturalmente. Isso é algo com que tenho muito cuidado porque demorei a gostar de leitura. Descobri o prazer em ler só aos 15 anos, antes disso, considerava uma obrigação. Mas quando entendi que ler era companhia, era uma maneira de ficar mais esperto, e conhecer novos mundos não parei mais. Por isso, me esforço muito para apresentar os livros de uma maneira natural e não como uma tarefa.

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