Wednesday, December 1, 2021

Dia Mundial de Combate à AIDS: os desafios do diagnóstico e do tratamento de crianças com HIV

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Só em 2020, pelo menos 300 mil crianças foram infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) no mundo. Isso significa que a cada dois minutos uma criança é contaminada. Os números são de um relatório divulgado pelo UNICEF na última segunda-feira (29).

HIV AIDS (Foto: Pexels)

 

Publicado em razão do Dia Mundial de Combate à AIDS, celebrado em 1 de dezembro, o documento alerta para a necessidade de que os pequenos soropositivos recebam os cuidados médicos necessários – hoje, apenas pouco mais da metade das crianças com HIV tem acesso ao tratamento antirretroviral (TARV). 

“A menos que aumentemos os esforços para resolver as desigualdades que impulsionam a epidemia de HIV, que agora são exacerbadas pela covid-19, veremos cada vez mais crianças infectadas e mais crianças perdendo sua luta contra a AIDS”, disse Henrietta Fore, diretora executiva do UNICEF.

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Apesar do panorama mundial não ser favorável, o cenário no Brasil é um pouco mais animador. A taxa de diagnósticos de HIV em crianças com menos de 5 anos diminuiu 47,2% na última década. Em 2009, eram registrados 3,6 casos/100 mil habitantes. Dez anos depois, o número caiu para 1,9/100 mil habitantes. Em 2020, apenas 22 novos casos foram identificados para essa faixa etária. 

Transmissão de mãe para filho

Quase todas as infecções por HIV em crianças com menos de 12 anos acontecem de mãe para filho: o vírus é transmitido na gravidez, na hora do parto ou durante a amamentação. Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, 88,8% das crianças foram contaminadas dessa forma em 2019.

Hoje existem vários protocolos para evitar que isso aconteça. Tanto é que o número de crianças HIV positivo, nascidas de mães infectadas, diminuiu consideravelmente nas últimas décadas. "No começo da epidemia, a taxa de transmissão vertical era de mais ou menos 25%. Ou seja, um em cada quatro bebês de mães soropositivas se contaminava. Hoje, menos de 1% das crianças se contaminam, quando a mulher segue todas as medidas recomendadas na gestação", explica a infectologista Denise Peluso, do Ambulatório de Pediatria do Instituto de Infectologia Emilio Ribas (SP).

Os cuidados começam já no pré-natal, quando as mulheres devem fazer, pelo menos uma vez, um teste de HIV. O ideal é que ele seja repetido pelo menos três vezes, uma a cada trimestre. "O fato de uma mulher ter o exame inicial negativo não exclui o risco de que ela possa ter um outro exame positivo mais para frente. Ela pode se infectar na gestação e levar até 3 meses para positivar. Por isso é tão importante fazer sexo seguro, com preservativo, mesmo durante a gestação e a amamentação", diz Sonia Maria de Faria, chefe do Serviço de Infectologia Pediátrica do Hospital Infantil Joana de Gusmão, referência na Grande Florianópolis (SC) no atendimento de crianças e adolescentes expostos ao HIV.

Mulher grávida (Foto: Foto de Rafael Henrique no Pexels)

 

Caso o resultado aponte para a presença do vírus no organismo, a mãe deve começar, ainda durante a gestação, a tomar medicamentos antirretrovirais (ARV), para inibir a multiplicação do HIV no organismo e, assim, diminuir as chances de transmiti-lo para o bebê.

Foi exatamente o que fez a publicitária Thais Renovatto, 38. Quase oito anos depois de descobrir que era soropositiva, ela decidiu que queria ser mãe e engravidar. Continuou tomando os antirretrovirais, repetindo os exames periodicamente e fazendo acompanhamento com o infectologista durante toda a gestação. Ela conseguiu ter um parto normal e seus dois filhos (João, 4, e Olívia, 3) nasceram livres do vírus. "Até eu pegar o exame deles e ver que eram HIV negativo fiquei bem aflita, por mais que soubesse que fiz tudo direitinho. Achava que era culpa minha caso eles se infectassem. Mas aí eu entendi que esse cuidado todo era, na real, a minha maior prova de amor", disse em entrevista à CRESCER.

Como é feito o diagnóstico?

Filhos de mães soropositivas podem ter o vírus HIV detectável já no nascimento. Por isso, o bebê precisa passar por testes para identificar qual é sua carga viral. Segundo a infectologista Denise, o protocolo mais recente é de que esses testes sejam feitos em quatro momentos: ainda na sala de parto, com 15 dias de vida, com 45 dias e, depois, entre 2 e 3 meses.

O diagnóstico só é feito depois de que pelo menos dois desses testes, obtidos a partir de amostras de sangue diferentes, sejam positivos. Nesse caso, a criança deve começar o tratamento imediatamente. Se todos forem negativos, ainda é necessária uma última confirmação: um exame sorológico, para medir a quantidade de anticorpos, é repetido por volta dos 18 meses de vida. Com mais um negativo, é comprovado, finalmente, que a criança está livre do HIV.

Sala de parto bebê (Foto: Unsplash/Christian Bowen)

 

Cuidados após o nascimento

Independente do resultado dos testes, todo recém-nascido exposto ao HIV deve fazer uma terapia profilática. Isso significa que logo depois de nascer, o bebê já deve começar a tomar medicamentos antirretrovirais para evitar que o vírus "entre" nas células.

A recomendação do Ministério da Saúde é de que a Zidovudina (AZT) já seja administrada imediatamente após o nascimento, de preferência nas primeiras quatro horas de vida. Depois, a medicação é mantida por pelo menos mais 28 dias, até que saiam os resultados dos primeiros testes e os médicos avaliam a necessidade de seguir ou não com o tratamento.

Antes de receber a notícia de que eram HIV negativos, os filhos de Thais também tiveram de fazer a terapia profilática com AZT. "O João tomou o xarope por seis semanas, enquanto a Olívia só precisou tomar por quatro. Aí fizemos os testes e tivemos a certeza de que eles não precisariam fazer o tratamento", lembra a mãe, que contou a sua experiência com HIV e maternidade no livro "5 anos comigo".

Tratamento antirretroviral em crianças com HIV

Uma vez diagnosticado que a criança é HIV positivo, ela precisa fazer acompanhamento periódico com o infectologista e adotar uma rotina de tomar os medicamentos todos os dias, como um paciente de qualquer outra doença crônica, como diabetes ou hipertensão. Na prática, a criança não precisa fazer grandes alterações na rotina e consegue manter a mesma qualidade de vida de antes.

A combinação de medicamentos usada para o tratamento depende da avaliação clínica, da idade e do peso de cada criança. "Depois que confirmamos que se trata de uma criança infectada, administramos sempre três medicamentos, todos em forma de xarope ou pó que dilui em água", explica Denise Peluso, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas (SP). O esperado é de que oito semanas depois do começo do tratamento a criança já tenha uma diminuição considerável da carga viral e o HIV fique indetectável. "Os medicamentos que temos hoje são extremamente potentes e trazem poucos efeitos colaterais", completa.

antibiótico remédio (Foto: Thinkstock)

 

Segundo Sônia Maria de Faria, do Hospital Infantil Joana de Gusmão (SP), a diferença para o tratamento dos adultos é a quantidade de remédios que precisam ser usados. "O adulto pode tomar um único comprimido com medicamentos combinados, enquanto com a criança precisamos de três antirretrovirais diferentes, até que ela tenha idade e peso suficientes para tomar comprimido também", diz. Com o avanço da ciência, a forma de administrar os remédios para os pequenos também foi facilitada. "Antes, esses xaropes precisavam ser administrados de 8 em 8 horas. Hoje a maioria dos medicamentos pediátricos são administrados uma ou duas vezes ao dia apenas. Antes, a criança precisava levar o remédio para a escola para tomar lá, por exemplo, hoje não precisa mais. Se não quiser, a família nem precisa tornar público o diagnóstico", afirma.

Cuidados psicológicos

Além do acompanhamento clínico com o pediatra, é fundamental que as crianças HIV positivas e suas famílias tenham o apoio de uma equipe multidisciplinar e suporte psicológico especializado. Especialmente na fase da pré-adolescência, quando finalmente é feita a revelação do diagnóstico.

Segundo Sônia, não há um momento específico ideal para que a família conte para a criança que ela é soropositiva. Tudo varia da maturidade de cada criança. O recomendado é que isso seja feito aos poucos, depois dos 10 anos. "Não se revela de supetão o diagnóstico. Vamos mostrando que a criança tem alterações imunológicas, que precisa fortalecer suas defesas até, finalmente, revelar o HIV. A psicóloga tem um papel fundamental nesse processo de acolhimento, não só para a criança mas também para os pais."

É preciso esperar que a criança tenha uma capacidade maior de compreensão para que entenda o que o diagnóstico significa e saiba lidar com os estigmas que ainda existem em relação ao assunto. "No Brasil temos um programa de HIV/AIDS muito bem estruturado e nos últimos anos progredimos muito em relação a diagnóstico, tratamento e sobrevida, mas pouco em relação ao preconceito. Antes, dar um diagnóstico de HIV era como uma sentença de morte. Hoje nada mais é do que um diagnóstico de uma doença crônica, como qualquer outra. Precisamos finalmente entender isso", finaliza.

 

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2021/12/dia-mundial-de-combate-aids-os-desafios-do-diagnostico-e-do-tratamento-de-criancas-com-hiv.html

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