Friday, September 17, 2021

Vacinação contra covid-19 para adolescentes: o que você realmente precisa saber?

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Na última quarta-feira (15), o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica recomendando que a vacinação dos adolescentes de 12 a 17 anos se restringisse somente aos jovens que apresentam deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. A medida vai na contramão de uma recomendação anterior do próprio governo federal, que - em 2 de setembro - indicava a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades a partir do dia 15 deste mês.

Mas por que essa decisão foi tomada e o que isso significa, na prática, para os jovens que já receberam a primeira dose? A CRESCER reunir respostas para as principais dúvidas dos pais sobre a decisão do Ministério da Saúde e sobre a vacinação de crianças e adolescentes. 

Adolescentes começarão a ser vacinados em SP a partir desta quarta-feira (18) (Foto: Pexels)

 

Por que o Ministério da Saúde mudou de ideia?

De acordo com dados apresentados pela pasta, mais de 20 mil jovens foram vacinados com imunizantes não aprovados pela Anvisa e tiveram efeitos adversos – até o momento, a Agência reguladora só autorizou o uso da vacina da Pfizer/Biontech para esta faixa etária.

A nota técnica menciona também que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes, com ou sem comorbidades, e diz que a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela covid-19 apresentam evolução benigna e são assintomáticos ou oligossintomáticos (com poucos ou leves sintomas). O órgão relata ainda que os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos, apesar dos efeitos adversos serem muito raros. 

Desde ontem, a CRESCER procurou o Ministério da Saúde para entender se essa decisão poderia atrasar o fim da pandemia. Mas até o momento ainda não obtivemos resposta.

 

Meu filho tomou a vacina. Devo me preocupar?

 

O Ministério da Saúde relatou 1.545 casos de efeitos adversos entre os jovens, sendo que 1.378 foram por erro de imunização. Só no estado de São Paulo foram 26 efeitos adversos não graves e 7 graves. Desses casos graves, há uma investigação de um suposto óbito relacionado à vacina da Pfizer de um adolescente de 16 anos. No entanto, não se sabe se o paciente teve outras comorbidades.

Ainda relacionado à vacina da Pfizer, alguns jovens apresentaram miocardite (inflamação do músculo cardíaco) após o recebimento da vacina. No entanto, a pediatra Ana Escobar, professora de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da CRESCER, explicou que estudos comprovaram que a imensa maioria dos casos de miocardite entre adolescentes que receberam o imunizante se reverteram, sem sequelas. “O risco de miocardite pós vacina é de 2.7 para 100 mil aplicações, enquanto o risco de miocardite por covid-19 é de 11 para cada 100 mil. Então o risco de miocardite por covid-19 é muito maior”, disse a médica.

De acordo com Marcelo Queiroga, Ministro da Saúde, a recomendação inicial era começar a vacinar esse grupo a partir do dia 15 de setembro. No entanto, mais de 3,5 milhões de adolescentes já foram vacinados. Segundo o órgão, o estado que mais aplicou o imunizante em jovens foi São Paulo, com 1,35 milhão doses, seguido do Rio de Janeiro com mais de 384 mil de doses.

 

E agora, ele deve receber a segunda?

O Ministério da Saúde recomenda que somente os adolescentes com comorbidades – que receberam o imunizante da Pfizer – tomem a segunda dose. Os adolescentes com comorbidades que tomaram outras vacinas não devem receber uma segunda dose no momento, pois o Ministério não aprovou a intercambialidade de vacinas nessa faixa etária. Já os adolescentes sem comorbidades, que receberam qualquer imunizante, devem parar com a primeira dose.

No entanto, alguns estados, como São Paulo, pretendem continuar vacinando todos os adolescentes – com ou sem comorbidades- com o imunizante da Pfizer. "O Governo de São Paulo lamenta a decisão do Ministério da Saúde, que vai na contramão de autoridades sanitárias de outros países. A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações. A medida cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com eles", diz a nota da pasta, enviada à imprensa.

Segundo a instituição, três a cada dez adolescentes que morreram com a covid-19 não tinham comorbidades em São Paulo. O governo paulista informou ainda que já vacinou 73% dos adolescentes.

 

A vacina é mesmo importante para os adolescentes?

Segundo defende a Dra Ana Escobar, quanto menor a quantidade de pessoas com o vírus circulando, mais protegidas todas as pessoas estarão. “Com os adolescentes vacinados, haverá menos vírus circulando entre a população”, avaliou a especialista.

Estudos realizados em diversos países estimam que o número de casos de covid-19 na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total de casos confirmados, informou a Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas esse público não está isento de desenvolver formas graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2021, do total de 1.357.406 casos de SRAG hospitalizados até 7 de agosto, 73,9% (1.002.860) foram confirmados para a covid-19. Destes,14.948 casos ocorreram na faixa etária de 0-19 anos, correspondendo a 1,5% do total. Em relação às mortes, no mesmo período, foram registrados 1.105 óbitos nesta faixa etária, representando 0,35% de um total de 319.142 óbitos por SRAG associada à covid-19.

Com a palavra, as entidades médicas

Depois da decisão do Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) reforçou seu posicionamento a favor da vacinação dos adolescentes e a importância da continuidade no plano de vacinação do grupo entre 12 e 17 anos. "A entidade discorda do recuo do Ministério da Saúde (MS) em relação à vacinação de adolescentes sem comorbidades após o anúncio do início da vacinação desse grupo", diz a nota. Segundo a instituição, a medida prejudica o avanço do combate da pandemia, ao gerar receio na população: "Abre espaço para fake news", reforça a SBIm.

Segundo o infectologista e pediatra Marco Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a nota do Ministério da Saúde "causou confusão". "O contexto da nota não é claro, não há uma clareza sobre o que existe por trás dessa recomendação, e entendemos que as orientações de vacinar os adolescentes devem ser mantidas. Não há um fato novo que motive alterar as recomendações", afirmou ele à CRESCER.

 

"Minha opinião, inclusive, é que deveríamos ter a possibilidade de utilizar a Coronavac nas crianças e adolescentes. Outros países já autorizaram o uso desse imunizante, talvez tenham tido acesso a dados que ainda não temos, mas é importante que isso seja recolocado para a Anvisa. Por enquanto, a mensagem principal é tranquilizar, principalmente os pais, de que não há motivo para preocupação quanto à vacinação de adolescentes no Brasil", completou.

O infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), disse a CRESCER que é importante que os adolescentes sejam vacinados, mesmo que eles, geralmente, apresentem quadros menos graves, pois, em alguns casos, os jovens podem ter algumas complicações como a covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, que acaba agravando os casos da doença. Além disso, os adolescentes também são transmissores do vírus. "A vacinação está mais do que indicada e recomendada e hoje nós só temos vacinas testadas, explica o médico. Para os pais que ainda sentem receio de vacinar os filhos, o pediatra ressalta que não há motivo para preocupação. "Nessa população, a vacinação é muito segura. Temos mais de 15 milhões de doses aplicadas em todo mundo e um perfil de segurança excelente", disse o especialista.

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/09/vacinacao-contra-covid-19-para-adolescentes-o-que-voce-realmente-precisa-saber.html