Wednesday, September 29, 2021

OMS lança plano para reduzir os casos de meningite bacteriana evitáveis em 50% e as mortes em 70% até 2030

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“A meningite mata 250 mil pessoas por ano, e deixa 1 em cada 5 pessoas com sequelas devastadoras. Hoje, já temos muitas ferramentas [para combatê-la]. Agora, o desafio é torná-las acessíveis”. Foi assim que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, abriu o evento virtual, nesta terça-feira (28/9), para lançar o plano Defeating Meningitis By 2030: A Global Road Map — Derrotando a Meningite até 2030: um roteiro global. O movimento tem como um dos seus objetivos reduzir os casos de meningite bacteriana, por meio da vacinação, em 50% e as mortes em 70%.

Segundo o diretor, em novembro de 2020, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou um Roteiro Global com estratégias para prevenir e controlar a meningite até 2030. Além disso, a iniciativa busca amparar às pessoas que desenvolvem sequelas com essa doença, que afeta principalmente bebês, adolescentes e jovens adultos. “Esse é um documento com prioridades, atividades e marcos claros em diversas áreas. Se implementado, ele trará benefícios não só para o controle da meningite, mas também para fortalecer os programas de imunização e o acesso aos cuidados primários de saúde. A pandemia da covid-19 é uma demonstração da capacidade mundial de responder às ameaças globais à saúde com inovação e determinação. Com a mesma inovação e determinação, vencer a meningite é o nosso objetivo”, pontou Ghebreyesus.

Mike Ryan, diretor-executivo da OMS, também ressaltou a importância de se ter um plano para combater a meningite. De acordo com o diretor, os pais enfrentam momentos de terror quando precisam levar seus filhos ao sistema de saúde na esperança que eles sobrevivam à meningite, que é "brutal". Com essa iniciativa de luta contra essa doença tão grave, Ryan espera que muitas crianças também possam ser salvas. "Protegemos as crianças com uma vacina eficaz, damos a elas acesso a cuidados médicos adequados e serviços de reabilitação para reduzir e mitigar os impactos da doença que tiveram”, afirma o diretor-executivo.

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Vacina contra meningite B foi lançada na rede privada (Foto: Thinkstock)

 

Para a médica Katherine O'Brien, diretora do departamento de imunização da OMS, a vacinação já salvou muitas vidas. Segundo a especialista, o plano lançado pela OMS está totalmente alinhado com a agenda de imunização para não deixar ninguém para trás. Ela ainda acrescentou que o novo roteiro também prevê a introdução de novas vacinas eficazes contra a doença. “É a hora de acabar com o sofrimento desnecessário da meningite", afirma. 

Experiências pessoais 

Durante o evento, o médico Amit Rawal — cofundador da Avnee Foundation, instituição que busca prevenir as consequências da doença meningocócica — compartilhou sua história pessoal. Com apenas cinco meses, sua filha, Avnee, perdeu a vida após contrair a meningite tipo B. “É difícil e emocionante quando dizemos às pessoas que temos duas crianças em casa, mas que tivemos três filhos”, conta o pai.

A pequena Avnee, que hoje dá nome a fundação do pai, nasceu em 2013 e foi a primeira filha de Rawal e sua esposa, Melissa. “Embora tenha sido maravilhoso naqueles primeiros cinco meses, o que aconteceu depois ainda é difícil de compreender”, lembra o médico.

Em outubro de 2013, sua bebê acordou com febre. No entanto, no início a menina estava respondendo bem à medicação. “Ela estava sorridente, feliz e interagindo, mas minutos depois, notei uma erupção em sua pele. E congelamos”, diz o especialista. Naquele momento, ele percebeu que Avnee poderia ficar muito doente. “É devastador caminhar pelo hospital com sua bebê, que embora tenha tido febre, parecia bem. Duas horas depois, erupções cutâneas tomaram parte do seu corpo, ela começou a ter convulsões. Inacreditavelmente, 15 horas depois do primeiro sinal de febre, a perdemos”. 

Após contar sua história pessoal, Rawal ressalta sobre a importância de se prevenir a meningite com as vacinas disponíveis. “Hoje estou emocionado, porque a Organização Mundial da Saúde revelou o roteiro para derrotar a meningite até 2030. Uma meta desafiadora, mas alcançável”. O médico ainda acrescentou a importância de exigir apoio e recursos de organizações de saúde, legisladores e instituições filantrópicas para cumprir esse objetivo.  

O médico Ziad Memish, diretor de pesquisa e inovação no King Saud Medical City, na Arábia Saudita, também ressaltou a importância do programa lançado pela OMS e compartilhou a experiência do seu país em combater a doença. Na Arábia Saudita, ele salientou que a meningite meningocócica se espalhava muito em eventos que reuniam um grande público no país, como os religiosos, tanto que o país passou por muitos surtos de meningite no passado devido a esses encontros.

De acordo com o médico, a chave para combater esses surtos foi a prevenção, com os programas de vacinação do governo. “Acho que a mensagem é muito clara: um dos pilares desta iniciativa é prevenir epidemias de meningite”, diz o especialista.

Como combater a meningite até 2030?

Durante o ano de 2020, consultas com o público e especialistas foram realizadas para propor um projeto global para reduzir significantemente o número de casos e mortes da doença. Entre os objetivos estão: eliminar epidemias de meningite bacteriana; reduzir os casos de meningite bacteriana com prevenção por meio da vacinação em 50% e as mortes em 70% e melhorar a qualidade de vida após a meningite de qualquer causa.

O roteiro global do combate à meningite foi aprovado na 73ª Assembleia Mundial da Saúde. Esse projeto estabelece um plano para combater as principais causas de meningite bacteriana aguda: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e estreptococo do grupo B, que também causam sepse e pneumonia e foram responsáveis por mais de 50% das 250 mil mortes por meningite por todas as causas em 2019. Segundo a OMS, vacinas eficazes que protegem contra doenças causadas por todos os quatro organismos estão atualmente disponíveis ou em desenvolvimento.

Para alcançar seu objetivo, o roteiro se baseia em cinco pilares fundamentais: prevenção e controle de epidemias, diagnóstico e tratamento, vigilância de doenças, apoio e cuidados para pessoas afetadas com a meningite e envolvimento e engajamento na causa.

SOBRE A DOENÇA

 

 

A doença meningocócica invasiva (DMI) é considerada rara. A média de notificações varia em cada país de 0,1 a 2,4 casos por 100 mil habitantes, de acordo com dados de 2017, afirma a GSK. No entanto, essa doença potencialmente grave e imprevisível pode levar o paciente a óbito em menos de 24 horas e é a principal causa de risco de vida por meningite bacteriana na maior parte do mundo industrializado. Cerca de uma em cada dez pessoas que contraem a doença morrem, mesmo recebendo o tratamento adequado.

Além disso, cerca de 20% dos pacientes que sobrevivem à DMI podem sofrer uma sequela física ou neurológica grave (perda de membros, de audição ou convulsões). A incidência mais alta ocorre no grupo mais vulnerável (de bebês e crianças pequenas), seguido por um segundo pico mais baixo em adolescentes e jovens adultos. No caso do Brasil, este segundo pico não é observado, mas existem estudos que demostraram que a população de adolescentes e jovens adultos é a carreadora do meningococo na garganta e nasofaringe, o que pode implicar na transmissão da infecção.

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No total, há 12 tipos de meningococos; no Brasil, o mais comum é o tipo C (80% dos casos), seguido do tipo B. Os tipos A, W e Y são menos frequentes. A doença atinge mais comumente crianças e adultos jovens. Entre 5% e 10% dos pacientes podem vir a falecer, o que geralmente ocorre entre um e dois dias após o início dos sintomas. Apenas a vacina contra o tipo B está disponível exclusivamente na rede privada. O restante faz parte do Calendário de Vacinação do SUS.



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