Sunday, April 25, 2021

Thaís Vilarinho: "Não regule nenhuma forma de afeto, independentemente da idade do seu filho"

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Mãe e filho brincando (Foto: Getty Images)

 

Não compreendo. Não faz sentido. Na verdade, acho um absurdo essa história que se arrasta por tanto tempo e que se expressa da seguinte maneira: “Não o pegue tanto no colo, você vai acostumá-lo mal”. Não seria acostumar bem, o movimento de abrir os braços para acolher um filho? Tenho certeza que sim. Recebo mensagens e mais mensagens de mães com medo de acostumar “mal” seus filhos.

Mal? Sério? Então quer dizer que bom mesmo é deixar o bebê que outro dia estava dentro de você chorar, esgoelar no berço porque precisa de aconchego? Bom mesmo é deixá-lo se sentir desamparado? O certo, então, é você ir contra aquela vontade gostosa que nasce no seu coração de aninhar sua cria nos seus braços, cheirar aquele minicangote e dormir juntinho?

Querida leitora, eu sei que, muitas vezes, cansa. Conheço cada pedacinho da sua exaustão, conheço profundamente a sensação do braço formigando, a vontade de não ter peso sobre eles, de poder respirar aliviada e se jogar na sua cama para descansar. Mas, por favor, esqueça essa porcaria de crença. Seu bebê precisa sentir seu cheiro, se aquecer no seu calor. É assim com todos os mamíferos. Seu filho precisa do seu colo hoje para se sentir seguro amanhã, e poder caminhar com as próprias perninhas.

 

Mal mesmo é se sentir desamparado e inseguro”
Thais Vilarinho


 


“Ah, então vou segurar meu filho no colo o dia todo.” Vamos combinar uma coisa? Nem 8, nem 80. É importante sempre fugir dos extremos. Mas se eu posso fazer um pedido é: não regule nenhuma forma de afeto, independentemente da idade do seu filho. Seja especialista em colo que aconchega e em cafunés que acalmam. Seja mestre em abraços que aliviam qualquer desconforto e em beijos que curam machucados. Seja doutora na arte de estender os braços, quando seu filho vier correndo ao seu encontro. Seja Ph.D. no olhar que enxerga a alma. Seja professora na arte de oferecer carinho. Jamais regule a sua vontade. Jamais regule acolhimento. Se liberte, e liberte o seu filho dessa crença limitante. Mal mesmo é se sentir desamparado e inseguro.

Eu, daqui do futuro, garanto que o carregar, o amparar, o socorrer, o aconchegar deixam um buraco enorme e saudoso dentro da gente. As mãozinhas pedindo por colo no chão da cozinha enquanto você lava a louça, o choro pedindo mamãe no meio da noite, os passinhos que vêm apressados na sua direção com um bico, porque alguém tirou algo da mãozinha dele no parquinho farão uma falta que eu não consigo explicar com palavras. Só consigo sentir com o coração.

Querida leitora, um dia, as mãos vazias certamente irão incomodá-la. Por isso, não hesite em usá-las o máximo que você puder hoje.
 

 Thaís Vilarinho é fonoaudióloga e escritora. É mãe do Matheus, 13, e do Thomás, 10. Autora dos livros Mãe Fora da Caixa, Mãe recém-nascida e do infantil Deixa eu te contar... (Foto: Arquivo pessoal)

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