Essa pode parecer uma pergunta banal e simples de se responder, o que não é verdade, e eu já explico o porquê. Frequentemente, recebo essa pergunta de pais e mães, tanto nas redes sociais como no consultório. Muitos não têm certeza de como responder a essa situação. Muitas vezes, tentam acalmar a criança, o que tende a piorar as coisas e, às vezes, simplesmente cedem. Muitas confessam querer estabelecer limites, mas não sabem como fazê-lo de uma forma que a criança compreenda e que não atice um acesso de raiva. E aí vem o dilema: quando meu filho já está entregue ao choro, gritos e raiva, devo ou não agir? E o mais importante: como?
Posso dizer que a resposta a essa pergunta não é um simples sim ou não. Acho que a melhor maneira de pensar em soluções é desenhar alguns cenários. Aqui, vou desenhar três.
No primeiro cenário, vamos levar em consideração a idade da criança. Digamos que ela tenha em torno de 18 meses, ou mesmo que seja uma criança um pouco mais velha. Nesse caso, devemos pensar que essa criança ainda não é muito bem articulada, embora entenda muito, muito bem a linguagem, não consegue usá-la expressivamente. Ainda temos que considerar o fato de que talvez, ela esteja pedindo o que deseja um pouco tarde demais.
Nesse caso, devemos aprender a identificar e ensinar a criança a expressar verbalmente sinais de cansaço, fome, sono e sede, porque se ela esperar até que esteja com muita fome, muito sono ou muito cansaço, as chances de ela se entregar a um processo de raiva, choro e birra, aumentam consideravelmente. E, quando isso acontece, dificilmente uma criança dessa idade conseguirá expressar seu desejo usando apenas palavras. Ela até consegue, mas, como está no limite, as palavras que domina não saem.
Nesse caso não há mal nenhum em ceder ao desejo, afinal, o que ela está demandando: comida, água, descanso – você já daria de qualquer forma. Além disso, convenhamos: elas são demandas razoáveis, certo?! Mas nem por isso, eu me deixaria ser sugada pelo caos que a criança está vivendo no momento. O que isso significa? Manter a calma. Sim, eu sei que é difícil nesse momento, porque tememos o julgamento dos outros (as pessoas julgam mesmo) e a vergonha.
Então, respire fundo e simplesmente ignore o julgamento e a vergonha. Não perca de vista que, nesse cenário, você está lidando com uma criança de 18 meses, e esse tipo de comportamento, nesse contexto, é perfeitamente esperado e normal. Não significa que você não é uma boa mãe, não significa que seu filho é má pessoa ou que você, como mãe, esteja fazendo algo errado.
O outro cenário típico é aquele em que a criança já está no processo de birra e quer sair dele. A coisa acontece mais ou menos assim: a criança chorando, diz “Eu quero aquela bebida que você sempre me dá!” Você, então, oferece a bebida e ele diz: “Não quero nesse copo, quero num copo diferente”. Você dá o copo, agora ela diz que a bebida está quente e quer gelada. Isso te parece familiar? Aposto boas fichas que sim! Nesse caso, a gente começa a notar que as demandas se tornam bastante irracionais. Esse é um sinal de que a criança está começando a abandonar os sentimentos que a levaram para a birra. Então, nessa situação, não vale a pena ficar tentando responder às suas demandas, porque realmente nada vai satisfazê-la nesse momento, porque o que ele precisa fazer é sentir as emoções que estão dentro dela agora.
Nesse cenário, tudo que precisamos fazer é suportar a frustração da criança, sem nos frustrar. Devemos simplesmente olhar para ela com aceitação, respirar, e manter a calma. Essas tempestades emocionais passam quando permitimos que elas aconteçam e não as empurramos com a barriga ou tentamos consertá-las.
Se decidir ir pelo caminho de ficar tentando consertar a situação, você desperdiçará sua energia e se sentirá frustrada e culpada por não conseguir ajudar seu filho. Olhe essa situação como uma experiência positiva, não algo que esteja fazendo de errado. Então, nesses casos, eu responderia inicialmente os pedidos que seu filho está fazendo, mas pararia ao perceber de que não se trata das demandas ou pedidos do seu filho, exatamente como mostrei no exemplo aqui, e sim do seu desejo de sair da birra.
O terceiro cenário é quando temos que dizer não para alguma coisa: seu filho quer uma determinada sobremesa, e você diz não. Ou ele quer brincar no parquinho por mais tempo, mas vocês têm que ir embora. Nessas horas, nosso filho pode começar a gritar e a chorar, exigindo aquilo que ele quer. Nesse caso, é realmente importante não ceder, mesmo que a criança chore. E acredite, ele vai! Sobretudo em se tratando de uma criança de 2 anos ou menos, talvez um pouco mais velha. Sei que para nós, mães, é uma situação difícil porque é uma criança muito pequena ainda. Até agora, todas as suas necessidades eram muito diretas, não havia muitos “nãos” a dizer.
Nem nosso filho tentava uma disputa de poder conosco para ver quem manda.
Assim, se cedemos ao que uma criança quer, porque ela continua gritando e chorando, seja pois temos medo do julgamento dos outros ou porque realmente não nos sentimos confortáveis com os gritos e o choro, estamos transmitindo a ela, mesmo sem querer, duas mensagens: uma é a de que temos medo dela quando estão imersas nessa mistura de sentimentos que a birra provoca.
A outra é a de que eles precisam persistir nas suas demandas porque, em algum momento, vão descobrir que cedemos, e é muito atraente para a criança continuar tentando e tentando só para ver até onde vai nosso limite. Por isso, nesse contexto, ceder ao pedido da criança, pode levá-las a um processo de lógico de recompensas: choro e tenho o que quero.
Como vocês podem ver, é preciso levar em consideração o contexto em que a birra ocorre para saber melhor como agir, cedendo ou não ao pedido da criança. No processo educativo, não há fórmulas prontas, mas há bússola. E como gosto de ressaltar, a bússola indica a direção, mas é preciso que você considera o trajeto, a situação do terreno ou do percurso que você tem para ser bem-sucedido.
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