A coordenadora de treinamento e desevolvimento Roberta Allegrini Nabhan, 36, se preparou durante toda a gravidez para amamentar seu primeiro filho, Matheus. O pequeno chegou há pouco mais de duas semanas e foi, então, ela descobriu que é impossível fazer previsões. "Eu li sobre o assunto, troquei informações com amigas e familiares, mas quando acontece com a gente é diferente. São questões inesperadas, é difícil lidar com isso. Os primeiros dias foram muito difíceis. Mesmo com a minha preparação, ele não pegou o bico e, além disso, nasceu bem pequeno, com 37 semanas. Não tinha muita força para sugar", diz.
Outra agravante é que a apreensão aumenta conforme as horas vão passando. "Próximo da alta, ele ainda não tinha mamado. Ficamos preocupados, pois sabíamos da importância do leite materno", comenta o pai, o músico André Kurchal Romualdo, 36. "Quando o leite desceu, meu peito empedrou e ele acabou tomando complemento no copinho. E aí comecei a ficar apreensiva, estávamos quase recebendo alta e não sabíamos ao certo como alimentá-lo", lembra Roberta.
Mas o desespero dos pais durou pouco tempo. "Ainda no hospital, diante de todas as dificuldades, recebemos ajuda de diversos profissionais de saúde: fonoudióloga, pediatra, obstetra, enfermeiras... Eles me ajudaram a fazer diversas tentativas para que o Matheus pegasse o peito", conta. "Os profissionais me acalmaram e, no mesmo dia, ele pegou meu peito. Primeiro, usamos bico de silicone e, aos poucos, estamos tirando. Ainda estamos nos adaptando, mas não teria conseguido chegar até aqui sozinha. Acho que, nesse momento, não temos estrutura psicológica e nem conhecimento técnico pra resolver esses problemas. E o time todo envolvido fez total diferença. Cada pessoa que entrava para falar com a gente já sabia o que estava acontecendo, então, foi realmente uma conexão", completa.
O QUE É REDE DE APOIO?
Segundo o pediatra Moisés Chencinski, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SP-SP), "rede de apoio é toda a estrutura que está ao redor da mãe pra que ela possa, com mais tranquilidade e sem tanta preocupação, se dedicar ao aleitamento materno e cuidados com seu bebê". Portanto, inclui, por exemplo, o pai, os avós, uma amiga, uma vizinha, o hospital, o pediatra e a consultora em aleitamento materno.
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No entanto, de acordo com o especialista, ainda há muito o que ser feito para que se tenha uma estrutura realmente propícia para estimular o aleitamento materno, começando pelos próprios hospitais. "Nas próprias maternidades — exceto os que possuem a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) —, quase não há uma orientação oficial. Hoje, o que acontece, são experiências pessoais de profissionais, isto é, cada um acaba expondo a sua experiência. É o que chega até as mães", lamenta. "Se você escrever 'aleitamento materno' no Google, vão aparecer milhares de informações, mas nem sempre elas serão adequadas. Temos excesso de informação, mas pouco informação adequada", diz.
"Todas as mães deveriam ter pelo menos uma mamada do começo ao fim assistida por um profissional habilitado e capacitado. É nesse momento que se pode observar alguns pontos importantes", completa. O especialista ainda chama atenção para a importância de políticas públicas que favoreçam o aleitamento materno. "Não basta apenas licença maternidade de 6 meses, também é importante oferecer uma sala de apoio à amamentação — onde ela possa tirar seu leite —, além de um local para armazená-lo adequadamente até que seja administrado ao bebê", diz.
COMO AJUDAR?
A cada dia, Roberta e o pequeno Matheus estão mais adaptados, mas, pra isso, além do apoio dos profissionais, eles contam com a presença constante do pai, o André. "Eu tentei me infomar o máximo possível para poder passar tranquilidade pra ela. Além da gravidez, tem o parto e depois a amamentação, é tudo com ela, sobrecarrega muito a mãe. Tento sempre acalmá-la e não desespera-la. Quanto mais tranquila, mais leite ela vai produzir", conta o pai. "Além de me passar segurança, ele também me ajuda, nem que seja segurando o bebê pra eu conseguir fazer a pega correta", completa Roberta.
Segundo a pediatra neonatologista, Mônica Carceles Fráguas, da Maternidade Pro Matre Paulista, os pais também tem responsabilidades nessa fase. "Ele tem que saber que é parte daquilo. Ele pode e deve contribuir de diversas maneiras, começando já no pré-natal: participando das consultas, aprendendo na maternidade, ouvindo as orientações dos especialistas. Depois, fazendo uma tarefa da casa ou com o bebê, como ficar encarregado do banho", sugere a especialista. "Às vezes, a mãe não tem companheiro, mas uma companheira, uma amiga, mãe, irmã, alguém que vai ajudar. Essas pessoas próximas também precisam saber que existem situações difíceis. Tem horas em que a mãe não aguenta e ela também deve respeitar o limite dela. Se ela não conseguir amamentar, também deve receber apoio", completa.
"Amamentar não deve doer. Se doer, algo está inadequado no processo", alerta o pediatra Moises. Segundo Mônica, a maioria das mães enfrentam algum tipo de problema na amamentação. "Pequenos problemas, todas têm, mas problemas grandes acontecem em menor quantidade. Normalmente, a maior dificuldade é a pega. Mas é importante lembrar que todas as mulheres podem amamentar e todas as pessoas podem ajudar, de alguma forma, nesse processo", afirma.
Os especialistas ainda dão mais algumas dicas de como fazer isso:
— Não faça comentários que atrapalhem;
— Evite palpites. Muitas vezes, as mães recebem uma orientação correta, mas chegam em casa, ouvem informações diferentes e ficam confusas;
— É importante que as pessoas próximas também se informem com especialistas como pediatras, obstetras e consultores em aleitamento materno para dar o suporte necessário. A internet não é o melhor lugar para buscar informações seguras;
— Pergunte se a mãe precisa de algo: tempo para um banho, uma refeição ou apenas uma companhia;
— Incentive, mas sem pressão. A mulher precisa de segurança e tranquilidade para produzir o leite do seu bebê.
"Todo mundo acha que o leite materno é importante. Todo mundo acha que devemos ser amamentados, mas na hora de dar apoio, nem sempre acontece. Rede de apoio é o mundo conspirando a favor da amamentação", completa o pediatra Moisés. "Eu sinto dor, às vezes, ainda choro amamentando, mas vamos até o final, pois o benefício pra ele é enorme e quando vejo a carinha de satisfação, então, não tem recompensa maior. Tenho licença de 6 meses, pretendo amamentar o máximo que eu puder, e continuamos com nossa rede de apoio", finaliza Roberta.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Amamentacao/noticia/2019/08/rede-de-apoio-e-o-mundo-conspirando-favor-da-amamentacao.html