Eram duas as enfermeiras que se revezaram lá em casa, assim que voltei da maternidade.
Com gêmeos não tinha como ser diferente. Sozinha, é que eu não podia ficar!
Na gravidez, nos meses durante os quais eu fiquei em repouso, entrevistei algumas moças que me foram indicadas, mas com nenhuma senti um click. E assim fui adiando a decisão de quem me ajudaria nos primeiros dias de vida de Luca e Nina.
Quando recebi alta desci até o berçário da maternidade e perguntei se alguém estaria livre para estar na minha casa no dia seguinte bem cedo. Apostei na sorte!
Eram sete da manhã e já tocava a campainha. Estávamos todos, desde bem cedo, em plena função com os bebês.
A enfermeira chegou, de jardineira jeans, bem magrinha e serelepe. Sua energia nem parecia a de quem havia passado a noite anterior inteira cuidando de vários bebês num berçário.
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Foi uma benção. Organizada, segura e experiente me deu uma sensação de que o mundo inteiro não estava a ruir, rsrsrsrs!
Logo criou uma rotina de tarefas, banho, horários de sono, cuidou de mim, me deu orientações quanto a cicatriz da cesárea... Pronto! Tudo ia dar certo, pensei.
Em meio a um papo delicioso me disse: - Olha, que legal! Você já conversa com seus bebês como se fossem pessoas!
Sua expressão era de reconhecimento do meu movimento, natural e espontâneo, para me relacionar com aquelas pequenas figurinhas que nada mais faziam que mamar, dormir e os barulhinhos típicos de um neném que nem sabe ainda que existe. Pois para mim eles já eram indivíduos, pessoas desejantes. Eu já, nos primeiros dias de suas vidas, construía nossa relação, descartando os bebês sonhados durante a gestação e abraçando os reais.
No dia seguinte de manhã veio a outra enfermeira. Completamente diferente da primeira. Mais formal, menos engraçada, muito protocolar. Mas, para ser sincera, eu estava num tal estado de tensão que qualquer ajuda era bem-vinda.
Com essa a conversa era outra, ou melhor, nem era!
Eu não me sentia à vontade com ela. Não são muitas as lembranças que tenho da nossa relação, pois logo parei de chama-la. Mas uma coisa ficou bem marcada em minha memória: sempre que ela me dava um dos bebês para mamar ficava ao meu lado de pé, como que a esperar pelo fim da mamada. Me dava um certo mal-estar, como se minha privacidade estivesse sendo invadida. Não que ela falasse qualquer coisa, ou me apressasse, mas sua postura dava a entender que meu papel ali era somente dar o peito, mais nada. E toda vez que o bebê acabava de mamar ela imediatamente se debruçava sobre mim para tirá-lo dos meus braços. Os arrotos e o embalar ficavam ao seu encargo.
Aquilo foi me incomodando... Num grau! Que nem sei dizer!
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Um dia lhe falei: deixe ele aqui comigo. No meu colo. Quero ficar com o meu bebê. Sua cara foi de incrédula.
– Mas precisa descansar. Deixe o comigo para arrotar - já estendendo os braços, como que ignorando o meu desejo de simplesmente ter um dos meus filhos no colo, sem que fosse para dar o peito!
Pode?!
O que está acontecendo aqui, pensei? Tenho que barganhar com a enfermeira para ficar um pouco com meus filhos sem que seja executando uma “função”?
Alguma coisa se passava ali. Era como se eu caísse para a posição de coadjuvante na cena materna. Aparentemente era em nome do meu descanso, mas me desculpem, no fundo outras coisas estavam em jogo.
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Aliás muitas coisas estão em jogo numa comunidade, quando uma mãe acaba de ter o seu bebê.
Como é difícil para certas pessoas reconhecerem o protagonismo materno!
É comum que nos sintamos inseguras e frágeis. Não sabemos muito se estamos desempenhando bem o papel materno, afinal nem sabemos direito do que ele se trata.
As pessoas que nos rodeiam neste momento têm que ter em mente que sua principal função é nos fortalecer e encorajar.
Não aceite nada diferente disso. E se puder livre-se dos narcisistas que não aguentam ver a importância que uma mãe tem na chegada do seu bebê.
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