Apesar da pouca idade, as gêmeas Luiza e Clara, de 1 ano e 4 meses, já têm uma história de superação. Elas nasceram prematuras extremas, com apenas 25 semanas. Foram longos 4 meses de UTI neonatal, onde enfrentaram infecção e outras complicações. Mas assim que receberam alta, uma nova teve início. "Me avisaram que, por conta da prematuridade, elas poderiam ter sequelas. E, aos poucos, fui notando que algo estava errado com a audição delas", lembra a mãe, a designer Andrea Cardoso, 34.
"Primeiro, pediram para refazer alguns exames. Depois, notei que quando uma chorava forte, a outra não acordava. Passamos por diversos especialistas até chegar a um diagnóstico", diz. Luiza e Clara são completamente surdas. A causa mais provável, segundo o otorrinolaringologista Jamal Azzam, foram os tratamentos que elas receberam nos primeiros meses de vida. "Foi muito tempo de UTI, com uma série de procedimentos e medicamentos potencialmente lesivos para a audição", explica.
Por conta disso, Andrea teve que redobrar os cuidados com as filhas. "A maior diferença é que, com uma criança ouvinte, basta você dizer 'não mexe' ou 'cuidado', que ela ouve. Mas com as meninas eu tinha que estar sempre perto, gesticulando para que pudessem entender. Além disso, elas ainda não falam, apenas balbuciam. Com o passar do tempo, foi diminuindo ainda mais, pois, como não ouviam, não recebiam estímulos. É um pouco triste, porque vai ficando um silêncio em casa", conta Andrea.
A ESPERANÇA: UM IMPLANTE COCLEAR
"Eu, como a maioria da população, era muito ignorante quanto à surdez. Quando descobri que elas não ouviam, a primeira coisa que pensei era que teria que aprender libras para se comunicar com minha filhas. Até que ficamos sabendo da possibilidade de fazer um implante coclear", lembra.
Depois de meses de exames e consultas, as meninas passaram por uma cirurgia no último dia 30 de junho. O Implante Coclear consiste em um aparelho eletrônico digital de alta complexidade tecnológica, utilizado para restaurar a função auditiva nos pacientes portadores de surdez sensorioneural severa a profunda. É como se ele substituísse a função do ouvido.
O dispositivo possui um componente interno, que é implantado cirurgicamente, e um externo, fixado no crânio, atrás da orelha, que capta os sons e os transmite aos eletrodos, substituindo a função das células lesadas. "O resultado é muito próximo ao de pessoas com audição normal. Mas o tipo de audição é um pouco diferente. Adultos que perderam a audição e foram submetidos ao implante relatam que é outro tipo de som, mas que rapidamente se adaptam e acabam convivendo bem", explica o otorrinolaringologista.
OS PRIMEIROS SONS
Um mês depois do procedimento — com a cirurgia já cicatrizada —, chegou o momento de ligar o aparelho. A ativação foi realizada no consultório médico na última semana. "Foi um dia bastante intenso, longo e cansativo. Era preciso ativar um aparelho por vez, esperar, ativar outro, esperar... Além de fazer paradas para pra mamar e trocar fraldas. Eu brinco que a ficha ainda não caiu, porque a adrenalina não baixou. Mas a ativação mesmo, pra mim, aconteceu assim que chegamos em casa, às 11h da noite. Foi quando estávamos sozinhos com elas, sem pessoas falando, sem celulares ou entrevistas. E foi sensacional. Com tudo em silêncio, falamos com elas, ligamos os brinquedos que elas sempre brincam e elas sorriram! Elas olhavam, dava pra ver que elas estavam ouvindo", conta a mãe, emocionada.
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Foi uma grande consquista, mas Andrea sabe que ainda tem um longo caminho pela frente. "A ativação foi um passo nessa caminhada. Agora, temos todo um processo de adaptação — pois, elas estão na fase de querer tirar o aparelho — e um acompanhamento fonoaudiológico até se acostumarem e entenderem os sons. É muita informação. É claro que estou ansiosa pra saber se vai dar tudo certo. Fico feliz com a possibilidade de elas terem uma vida normal, mas estamos vivendo um dia de cada vez", afirma.
Agora, a ideia é tentar manter a rotina normal. "Ainda é tudo muito novo. Agora, quando elas começam a chorar, colocam as mãos nos ouvidos pra tirar o aparelho. Elas nunca tinham ouvido o próprio choro estão estranhando. Mas começamos com uma programação baixinha, ou seja, o volume mais baixo. A cada semana, conforme a adaptação delas, vamos aumentando", diz. O aparelho externo deve ser retirado antes do banho e à noite, para dormir. É um processo longo e gradual. "É um constante espera. Tem que ter muita paciência. Mas foi como um outro parto, foi o nascimento delas pro som. Pude cantar pra ela pela primeira vez, eu chorei", finalizou.
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