Agosto, mês dos pais. Assim como em aniversários e São João, fico ansioso pelo beijo matinal, doido para ganhar alguma coisa, nem que seja uma meia – mas escolhida por eles. O que os meus filhos dizem nesse dia guardo para o ano inteiro como alimento.
Fico até tímido em contar, afinal, está na cartilha que nós, homens, não temos este tipo de conversa. Será? Certa vez, inspirado pelo grupo de mães da escola, resolvi criar um grupo de pais. Durante um tempo, talvez três horas, falamos de paternidade, dúvidas e comemorações, mas… rapidamente, o assunto mudou para piadas, esporte e trabalho. E em uma semana o grupo mudou de nome e definhou.
Por que será que a gente não conseguia falar mais sobre isso? Naquele grupo, pouco compartilhamos experiências emotivas. Pois é, ainda somos cercados pelo velho conceito de como um pai deve se comportar. É quase como se fossemos auxiliares e não responsáveis pela criação, assim como as mães.
Essa experiência me fez questionar: como é que me dei conta do que era ser pai? Quando recebi a notícia, naquele clássico momento em que se abre o exame, chorei, emocionado. Comecei a fazer planos, ter medos, pensar na escola que escolheria, antecipei situações trazidas por aquele pedaço de papel onde se lia “positivo”. Para minha surpresa, uma semana depois, a intensidade do sentimento diminuiu. A verdade é que, naquele momento, tudo o que eu pensava sobre ser pai vinha do meu racional. O coração ainda não entendia o que significava ter essa responsabilidade e esse prazer. Passei quase os nove meses me cobrando silenciosamente para sentir algo mais.
Como numa piada de sitcom, na véspera do nascimento de João, minha coluna travou e comecei a sentir dores fortes. Tomei uma injeção que aliviou a dor, mas não o incômodo físico.
Quando meu primeiro filho nasceu e troquei olhares com ele, a dor sumiu. Foi como se, junto com ele, tivesse nascido um pai aqui. E ao olhar para a Taís, vi que o amor se multiplicava em dois seres além de mim. Agora eu entendia. Da razão, ser pai passou ao coração.
Cresci a partir do momento em que meus filhos vieram ao mundo. Eles provocaram transformações, novos compromissos e prazeres. A gente cresce junto. E algo se acrescenta à minha identidade: agora sou também “o pai de”. Nessa caminhada, encontro um novo estímulo, que é a necessidade de rever o nosso modelo de masculinidade.
Falar sobre esse tipo de emoção pode ser natural, sim. Percebemos em casa, tanto em mim, quanto na minha companheira e nos filhos, o impacto positivo de saber que somos corresponsáveis nas tarefas do lar e na gestão familiar. Isso muda a história e já vejo as crianças pensando diferente.
Não temos um formato exato, mas vamos seguindo, com erros e acertos. Com estímulos mútuos, dividimos a carga; com a consciência de que não dá para ser perfeito, mas dá para ser presente.
E assim vamos nascendo pais, a cada decisão. Feliz dia dos pais.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Lazaro-Ramos-Em-construcao/noticia/2019/08/descoberta-da-paternidade.html