Friday, October 29, 2021

Mitos e verdades sobre a vacina contra a covid-19

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Não é incomum as pessoas se depararem com informações sobre vacina hoje em dia, principalmente quando o assunto é covid-19. No entanto, é necessário estar atento! Muitas fakes news vêm circulando ultimamente e acabam atrapalhando o processo de imunização. 

Pensando em esclarecer as dúvidas dos leitores relacionadas às vacinas contra o novo coronavírus, a CRESCER conversou com Max Igor, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, Francisco Oliveira, gerente médico e Infectologista do Sabará Hospital Infantil e com o infectologista pediátrico Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Os especialistas falaram de alguns mitos e verdades sobre a imunização. Confira! 

Quem se infectou com a covid-19 não deve tomar a vacina?

É muito frequente uma pessoa pensar que como já foi infectada pelo coronavírus, já está imunizada e nem precisa mais tomar a vacina. No entanto, tome cuidado com essa afirmação. Afinal, já foram vistos casos de pessoas que se reinfectaram. Segundo Francisco Oliveira, a imunização é indicada mesmo para quem teve uma infecção documentada. O médico explica que estudos já mostraram que o nível de anticorpos pode cair, então é possível que depois de um tempo após a infecção natural também se espere uma queda da imunidade. Dessa forma, a vacinação é importante para garantir uma proteção mais prolongada para a população. "Imunizar pessoas que já tiveram uma infecção prévia pode estimular uma resposta imunológica muito melhor. É como se estivesse dando uma dose de reforço, o que faz com que a duração da imunidade se prolongue", afirma o infectologista. 

CDC recomenda vacina da Pfizer para crianças e adolescentes, nos EUA (Foto: Pexels)

 

Não tive reação à vacina, ela não funcionou?

Pode ficar tranquilo! Se você não teve que ficar de cama após cada uma das doses, isso não quer dizer que não funcionou. De acordo com o infectologista Max Igor, a reação da vacina não está associada diretamente à resposta vacinal. O médico explica que as proteínas da covid-19 causam, geralmente, uma resposta inflamatória muito intensa. As pessoas que têm mais reação provavelmente são mais sensíveis ao estímulo inflamatório. Francisco Oliveira também acrescenta que certas vacinas são mais reatogênicas e provocam mais reação que outras. Por exemplo, a vacina da AstraZeneca costuma ter um percentual de reação mais elevado que as outras, mas há pessoas que tomam esse imunizante e não têm reação nenhuma.

A vacina causa a doença? 

Não, nenhuma das vacinas disponíveis no Brasil contra a covid-19 podem causar a doença, elas apenas ensinam o sistema imunológico a se defender dos agentes virais. A diferença entre elas está na forma como isso acontece, ou seja, na maneira como fazem o nosso organismo ter essa resposta. A CoronaVac é produzida com o vírus inativado, ou popularmente conhecido como vírus "morto", assim não poderia causar a doença, destaca o infectologista do Hospital Sírio-Libanês.

Outro mecanismo é o de RNA mensageiro, usado pela Pfizer. Esse tipo de vacina carrega apenas um código genético do vírus, que funciona como se fosse um "manual" para que as células do corpo produzam determinadas proteínas e, assim, ativem o sistema imunológico.

Por fim, ainda temos as vacinas desenvolvidas com a tecnologia de vetor viral, como nos casos dos imunizantes da AstraZeneca (Oxford/Fiocruz) e da Janssen (Johnson & Johnson), que são produzidas a partir de um adenovírus (tipo de vírus que causa o resfriado comum) modificado, que não pode se replicar nem provocar a doença. Como isso é feito? Esses adenovírus são usados como transportadores, carregando informações genéticas do coronavírus para estimular a resposta imunológica. Isso significa que, ao receber a vacina, o corpo inicia um processo de defesa, produzindo anticorpos contra aquele invasor. Assim, se uma pessoa vier a entrar em contato com o vírus da covid-19, o organismo já terá uma memória capaz de combater o vírus. 

Estou doente. Posso tomar a vacina?

De acordo com Francisco Oliveira, é recomendado adiar a vacinação em casos de quadro infeccioso agudo. Por exemplo, pessoas que estão com febre alta devem esperar esse cenário passar para tomar a vacina, porque há a dificuldade de diferenciar se essa febre está sendo provocada como uma reação vacinal ou se está sendo causada pela doença. Já no caso de pessoas que tiveram covid-19, o recomendado é esperar 28 dias, contando a partir do primeiro dia do sintoma. 

A vacina pode causar trombose?

Esse tipo de efeito adverso não é muito frequente, mas as vacinas de vetores virais — como  da AstraZeneca e da Janssen, conforme citado anteriormente — têm sido associadas a casos de trombose. De acordo com Francisco Oliveira, algumas pessoas que tomaram esses imunizantes tiveram um risco aumentado de apresentar eventos trombóticos, que é quando há a formação de coágulos em determinadas veias do corpo.

O médico explica que, geralmente, isso acontece em pessoas mais jovens e porque há a produção de anticorpos contra as plaquetas (substâncias responsáveis pela coagulação), induzida pela vacinação. "O anticorpo acaba agrupando as plaquetas. O agrupamento de plaquetas com outras substâncias que participam da coagulação formam os coágulos, o que leva à obstrução de alguns vasos", explica o especialista. 

Kfouri esclarece que esse tipo de trombose não é a habitual, mas sim uma versão autoimune, "que cursa com plaquetas baixas [justamente porque estão agrupadas], que chamamos de trombocitopenia automine. O risco varia por volta de um caso a cada cerca de 500 mil doses aplicadas. Então, o benefício, o número de vidas salvas e casos prevenidos é muito maior do que o eventual risco desse quadro", ressalta o médico. Ele acrescenta: "como se trata de um tipo de trombose diferente, autoimune, não tem nenhuma contraindicação a quem já teve trombose. Todo mundo deve ser vacinado normalmente, independente de ter tido ou não trombose no passado". 

O mesmo é defendido pela Anvisa. De acordo com a agência, casos raros de trombose em combinação com trombocitopenia (TTS) têm sido detectados no Brasil e no mundo, mas, até o momento, os benefícios das vacinas da AstraZeneca e da Janssen superam os riscos do uso desses produtos. Por isso, o órgão mantém a recomendação de se vacinar a população com esses imunizantes, que só não estão indicados para as gestantes – elas podem tomar as outras opções disponíveis, como CoronaVac e Pfizer.

Em nota, a Anvisa também ressalta a importância do diagnóstico precoce. Então, fique atento a sintomas como falta de ar, dor no peito, inchaço ou dor nas pernas, dor abdominal persistente e sintomas neurológicos, incluindo dores de cabeça graves. Também devem ser considerados como alerta a ocorrência de visão turva, confusão, convulsões, petéquias (pequenas manchas vermelhas ou marrons em partes do corpo), hematomas ou outras manifestações hemorrágicas em áreas do corpo diversas do local da vacinação, após a aplicação da vacina.

A vacina causa o aborto?

Renato Kfouri destaca que não há evidências de que a vacinação de gestantes traga qualquer malefício. "Já temos muitas gestantes vacinadas, especialmente nos Estados Unidos, mostrando que essas mulheres, comparando com grávidas não vacinadas, não tiveram maior incidência de malformações nos bebês, parto prematuro ou mesmo o abortamento. Não houve nenhuma mudança no perfil das gestações", afirma.

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O infectologista Max Igor também ressalta a segurança das vacinas. "Ela não causa uma resposta inflamatória tão alta. O sistema imune das pessoas é feito para produzir anticorpos contra várias coisas. Isso não é algo que faça mal ao bebê. De toda forma, evita-se aplicar a vacina nos primeiros três meses, porque é o período de embriogênese, formação dos órgãos", explica.

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O especialista lembra que a própria covid-19 é extremamente perigosa para as grávidas, trazendo diversas complicações, entre elas o aumento do risco de trombose, por exemplo. "Por provocar alterações da coagulação, a covid-19 pode causar uma limitação da atividade da placenta, podendo levar ao parto prematuro ou abortamento". Ou seja, ele reforça que a doença é um risco muito maior para a gestante.

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A vacina muda o DNA? 

De acordo com Max Igor, o nosso DNA está dentro do núcleo da célula. Dessa forma, o RNA — tecnologia usada por algumas vacinas, como a da Pfizer — não chega ao núcleo da célula. "O RNA serve para levar mensagem para produzir proteínas do vírus. É como dar um manual para as células produzirem proteínas do vírus, só que esse manual é rasgado após uso. O RNA é degradado", diz o médico. 

Preciso fazer exame para sabe se estou protegido?

Segundo o infectologista Francisco Oliveira, não é recomendado que as pessoas façam esse tipo de exame, principalmente porque os anticorpos (que costumamos medir por exames) representam apenas uma parte da nossa resposta imune. Dessa forma, existe outro compartimento da resposta imunológica, que são as células de memórias e alguns tipos específicos de resposta de linfócitos, que não conseguimos medir por meio da dosagem de anticorpos. "Esse tipo de resposta imunológica está preservado. É o que garante o que chamamos de memória imunológica. Quando um corpo tem contato novamente com o agente, mesmo que não tenhamos anticorpo já pronto, nós vamos responder de forma muito mais rápida, produzindo anticorpos, do que da primeira vez que tivemos contato com o agressor", explica o especialista. 

Assim, o médico enfatiza que o fato do exame vir negativo ou com dosagem baixa de anticorpos não significa dizer que não existe resposta imunológica, que a vacina não funcionou. "Nós temos tipos de linfócitos que coordenam a resposta imunológica. Eles ficam com a memória do contato prévio com o agente infeccioso. Quando temos contato novamente com o vírus, eles começam a se multiplicar e vão estimular a produção de anticorpos", esclarece. Assim, realizar esse tipo de exame só vai trazer mais dúvidas.

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Após a vacina estou 100% protegido? 

Duas doses da vacina têm alta eficácia no combate à covid-19, mas não significa proteção 100%. O infectologista Max Igor explica que há chances, apesar de bem pequenas, de algumas pessoas desenvolverem quadros graves da doença ou mesmo morrer após serem infectadas, mesmo estando imunizadas, principalmente no Brasil em que a circulação do vírus ainda é muito alta. "Essa situação de proteção maior vai existir quando a doença circular menos", destaca o médico. Então, é importante manter os cuidados, como o uso de máscaras, álcool em gel e evitar aglomerações. 

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