Tuesday, October 26, 2021

Deh Bastos: E todos os outros dias depois do “Dia das Crianças”?

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Todo outubro, Mês das Crianças, eu me lembro de uma vez que fui impactada com o conteúdo incrível da Cila Santos no perfil @militanciamaterna em que ela dizia: Parem de tratar as crianças como se elas fossem um problema.

Menina brincando em caixa de papelão (Foto: cottonbro/Pexels)

 

“Uma sociedade com valores tão deturpados não está preparada para amar crianças de verdade. Para respeitá-las. Para entendê-las. Para querer oferecer o melhor possível para cada uma delas. Para vê-las em toda sua potência, força e beleza. Somos uma sociedade de valores tão individuais e utilitaristas formada por adultos que também tiveram sua infância roubada, e precisamos ser capazes de quebrar esse ciclo sem fim de violências. Em algum momento precisaremos dar um basta. Não são as crianças que são um problema, são os adultos que em algum momento esquecem da criança que já foram. Elas são a potencial solução para esse mundo tão complicado em que vivemos e nós somos incapazes de reconhecer e investir nisso.”

Cila Santos é escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Como ela me diz “segue trincando os dentes e indo em frente.” Esse texto da Cila deu as palavras certas para um sentimento que eu sempre tive, um incômodo com a forma como as crianças são invisibilizadas nessa sociedade viciada em “resultados”.

Já reparou que as queixas sobre as crianças são, na maior parte das vezes, sobre as demandas não atendidas do adulto? Por exemplo: meu filho/filha não dorme direito... não come bem... não larga o celular... não me obedece (ranço dessa palavra).

O adulto não abre mão do protagonismo de jeito nenhum. O José, meu filho, nunca gostou muito de dormir e eu já sofri muito com privação do sono. Mas quando me perguntavam se ele dormia bem eu respondia: “ele dorme bem para os padrões dele”. E as pessoas ficavam me olhando com cara de ué e às vezes complementavam perguntando “e você?”. Aí, sim, eu abria o bocão para chorar e contava que eu não dormia bem, mas que isso não era um problema do José.

As crianças não são extensão de nós mesmos, elas têm direito de serem respeitadas como indivíduos: com sentimentos, vontades, preferências, emoções diferentes das nossas.

E como uma mãe preta racializada que luta por uma educação antirracista não posso deixar de dizer o quanto essa invisibilidade é ainda mais cruel com as crianças pretas e os estereótipos. E mais uma vez enaltecendo o texto riquíssimo de Cila Santos: “Uma sociedade com valores tão deturpados não está preparada para amar crianças de verdade. Para respeitá-las. Para entendê-las. Para querer oferecer o melhor possível para cada uma delas. Para vê-las em toda sua potência, força e beleza. Somos uma sociedade de valores tão individuais e utilitaristas formada por adultos que também tiveram sua infância roubada, e precisamos ser capazes de quebrar esse ciclo sem fim de violências. Em algum momento precisaremos dar um basta. Não são as crianças que são um problema, são os adultos que em algum momento esquecem da criança que já foram. Elas são a potencial solução para esse mundo tão complicado que vivemos e nós somos incapazes de reconhecer e investir nisso.”

Reescrevendo aqui algo que eu já disse em outros textos... não é sobre os nossos filhos, é sobre as nossas crianças, porque TODAS as crianças são nossas enquanto sociedade.

E você? O que vai fazer pelas crianças quando outubro acabar?

Deh Bastos, Criando Crianças Pretas (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

 

Deh Bastos é comunicadora de nascença, mãe do José, mulher preta e gorda. É autora do @criandocriancaspretas

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