A pandemia da covid-19 fez com que muitos pais evitassem ao máximo levar os pequenos ao hospital. Em muitos casos, as consultas virtuais, por meio de videochamadas, acalmam o coração, ao permitir um papo "cara a cara" com o pediatra. Mas e quando é preciso uma avaliação física mais precisa?
Pais de crianças com problemas congênitos ou doenças graves, que dependem de acompanhamento médico constante, não têm como escapar das idas frequentes ao consultório. Mas um aparelho que promete acompanhamento clínico de casa pode reduzir as distâncias - e os riscos - para esses pacientes.
É o caso do pequeno Guilherme Augusto Cruz, de oito meses, que foi diagnosticado com cardiopatia congênita ainda durante a gestação. Depois de duas cirurgias realizadas - uma aos nove dias de vida e outra aos cinco meses -, o menino pode ser acompanhado à distância, de sua casa, apenas com a ajuda do aparelho ligado à internet.
“Com a pandemia, a telemedicina acabou tomando uma proporção enorme. Isso já acontecia em outros países, mas aqui foi alancado pela pandemia. Esse é um aparelho extremamente funcional, com dados de ampla qualidade técnica, e que permite que boa parte das vezes a criança não precise ser levada ao hospital. Nos casos de crianças com doenças de alta complexidade, que precisam ser monitoradas e passar por atendimentos médicos frequentes, o aparelho permite que ofereçamos um atendimento híbrido, parte presencial, quando necessário, e parte à distância, sempre que possível.”, defende o médico Rogério Carballo Afonso, Gerente Médico de Novos Negócios e Telemedicina do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo.
Com o Tytocare, os médicos fazem verificação dos batimentos cardíacos de Guilherme, medição de temperatura e ausculta pulmonar e respiratória. “No início, também foi observada a ferida operatória e depois os pontos e cicatrização”, conta à CRESCER a mãe Fernanda Cruz, 42.
Segundo a mãe, o aparelho não precisa ficar o tempo todo conectado ao paciente, ele é utilizado somente durante as consultas online. “É um aparelho pequeno com alguns acessórios, que você conecta conforme a necessidade de utilização”, explicou. Além disso, Fernanda conta que o dispositivo é indolor e não invasivo. A criança não sente dor ou incômodo durante a utilização.
Para Fernanda, o aparelho foi essencial para ajudar na recuperação do bebê. “A cirurgia do Guilherme foi bastante delicada e exigiu muitos cuidados e atenção no pós-operatório. Devido à atual situação, o ideal é evitar o máximo possível as saídas, sobretudo com um bebê recém-operado. Com o aparelho, conseguimos diminuir as visitas presenciais ao consultório sem perder a atenção que o momento exige. Espero que cada vez mais pessoas tenham acess”, disse.
Guilherme foi escolhido para usar o aparelho por se tratar de um pós-operatório de cirurgia cardíaca complexa, que apresentou arritmia grave no pós-operatório e necessitou de medicações antiarrítmicas em altas doses. “O Tytocare está sendo importante na monitorização da ausculta e da frequência cardíaca para que seja realizado de uma forma mais segura para o paciente”, explica a médica Monica Satsuki Shimoda, cardiologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil e responsável pelo acompanhamento do Guilherme.
Fora do Brasil, aparelhos como o TytoCare, que permitem com que pacientes sejam examinados à distância - com aferição de temperatura, auscultas do pulmão, coração e abdômen, avaliações de ouvido e garganta e até fazer imagens de lesões na pele com alta precisão - já são uma realidade. No Brasil, porém, a tendência ainda é bastante restrita, principalmente devido ao custo elevado.
O aparelho pode ser usado muito além da pediatria, por diversas especialistas, mas ainda não é vendido ao consumidor final no Brasil, estando disponível apenas para operadoras de saúde, hospitais e clínicas, que disponibilizam aos seus pacientes. Atualmente ele é trazido para o Brasil pela startup Tuinda Care, que tem como aceleradores o Sabará Hospital Infantil (São Paulo) e o Pequeno Príncipe (Curitiba). Mas há quem opte por comprar o aparelho fora do país, onde custa cerca de 300 dólares.
“Nos outros países, isso é comprado pelos pais, da mesma forma que você tem em casa um termômetro ou um medidor de pressão, por exemplo. Hoje em dia ainda é muito caro, mas acredito que a tendência seja ele se popularizar ao longo do tempo", afirma Dr Rogério.
No caso do Sabará, o Tytocare é oferecido como parte do tratamento de alguns pacientes, quando necessário, por um tempo determinado, avaliado caso a caso. E o financiamento do aparelho ainda é um desafio, apesar dos seus benefícios. "Estamos no processo de convencimento das operadoras de saúde, buscando comprovar a economia que ele gera evitando idas desnecessárias ao hospital, além de otimizar a experiência do cliente. Esperamos conseguir em breve consolidar parcerias comerciais para viabilizar essa tecnologia para cada vez mais gente", diz o especialista.
Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/06/telemedicina-na-pandemia-aparelho-que-permite-examinar-criancas-distancia.html