Quando sua filha tinha apenas 20 dias, a odontopediatra Cinthia Maria Baggio de Luca da Cunha, 31, que mora em Ponta Grossa, no Paraná, passou por um verdadeiro pesadelo. Após a amamentação, a pequena Isadora acabou engasgando com o leite materno e ficou por um tempo com dificuldade de respirar. "Eu a fiz arrotar e, após esse tempo, a coloquei em um moisés ao meu lado, enquanto eu trabalhava no computador, durante o dia. Eu não ouvi barulho algum, mas, quando olhei, ela estava de olhos abertos e com o leite escorrendo pelas narinas", diz a mãe à CRESCER.
Assustada com a situação, Cinthia fez a manobra de Heimlich duas vezes, mas não teve sucesso. "Talvez, eu não estivesse fazendo da forma correta. Fiz um curso de primeiros socorros em crianças, mas, quando é nosso filho, a emoção toma conta da razão", disse a profissional. "A cada manobra, olhava e ela não respirava. Percebi que jogava a cabecinha para trás, buscando ar e assim, seus lábios foram ficando arroxeados".
Logo depois, Cinthia lembrou que sua pediatra havia lhe dado uma amostra de soro para a limpeza nasal diária da sua filha. "Eu o peguei e apartei com toda força na narina esquerda. Foi quando percebi que o leite escorreu pela narina direita e ela começou a chorar", relata a mãe. A pequena Isadora, hoje com 1 ano e um mês, se recuperou, mas esse dia ficou marcado para a família. Cinthia, que também é mãe da Maria Alice, 4, diz que essa foi uma das situações mais traumáticas que passou na vida e postou o relato em seu Instagram @dra_tulipa. "Certamente, foi um dos momentos mais difíceis da minha vida, pois vi que perderia minha filha, se não fizesse nada".
O que fazer em casos de engasgo?
Apesar de o soro ter funcionado com Cinthia, o pediatra Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), explica que não há uma indicação para tratar engasgo lavando o nariz da criança com soro. O ideal é, inicialmente, deixar a criança em pé para que o leite vá para o esôfago e saia da via aérea. No entanto, se a criança dá sinais de obstrução, começa a ficar roxa e não emite nenhum som, é preciso fazer as manobras de emergência, colocando a cabeça do bebê mais baixa do que a barriga e dando cinco tapinhas nas costas.
Mesmo não sendo indicado para ser usado em momentos de emergência, o soro pode ser um aliado dos pais nos cuidados de higiene do dia a dia da criança. Segundo o pediatra, lavar o nariz do bebê é um hábito importante para manter a passagem do nariz limpa, o que faz com que a criança respire com mais facilidade. Os pais só devem ficar atentos para não colocar uma quantidade muito grande.
O engasgo é uma situação que assusta muitas famílias e, por isso, é necessário estar atento. Gubert explica que até os cinco meses, as crianças têm uma comunicação aberta do estômago com o esôfago. Nos casos em que o bebê mama além da conta, é possível que o leite retorne do estômago para via aérea superior, seja na garganta, nas narinas e até para a traqueia. "Nos primeiros meses de vida, os pais devem estar atentos para ver se não estão dando uma quantidade de leite maior do que a criança precisa", explica o profissional.
O médico recomenda que os pais não manuseiem muito os filhos após a amamentação, evitando, por exemplo, trocar a fralda do bebê logo em seguida, pois isso pode fazer com que o líquido retorne mais facilmente. De acordo com Gubert, engasgos fatais em bebês, que só se alimentam de leite materno, não são tão comuns, pois as crianças acabam tendo mecanismo de defesa para fazer com que o leite saia. "Qualquer líquido que tente entrar na via da respiração, o corpo não deixa e a criança acaba tossindo para não aspirar", explica.
Como lavar o nariz das crianças com soro?
A lavagem nasal não é indicada apenas para os pequenos. Ela é benéfica em qualquer idade. No entanto, na infância, é ainda mais importante, já que nem todas as crianças sabem assoar o nariz. Em locais onde o clima é muito seco, nem é preciso estar com o nariz escorrendo ou entupido para que os pediatras receitem a prática diariamente. Além de ajudar a desobstruir, a medida também evita o desenvolvimento de doenças respiratórias.
Segundo a otorrinolaringologista Maura Neves, da Universidade de São Paulo (USP) e Clínica MEDPRIMUS, as crianças chegam a ter de 8 a 11 infecções respiratórias por ano. Isso significa que, praticamente todos os meses, seu filho pode ter uma doença. O procedimento pode ser realizado desde o nascimento, mas ela alerta que deve ser orientado pelo médico. “Nas crises, preconizamos as lavagens até quatro vezes ao dia e, na prevenção, mesmo sem sintomas clínicos, duas vezes ao dia”, diz a especialista.
Confira, abaixo, algumas das principais orientações para o procedimento.
ÁGUA OU SORO?
Para realizar a lavagem, deve-se usar sempre soro fisiológico 0,9%. Em relação à quantidade, não há um consenso. "As crianças menores, em torno de 1 ano, têm uma superfície nasal em torno de 2 a 3 centímetros cúbicos e, portanto, os pais podem usar algo em torno de 2 a 3 ml de soro", explica. Segundo a especialista, conforme a criança for crescendo, pode-se aumentar a quantidade de soro.
E SE A CRIANÇA ENGOLIR O SORO?
Segundo Maura Neves, o líquido pode ser deglutido ou sair pela narina, tanto faz. Ou seja, se a criança engolir, não tem problema nenhum. Mas ela reitera que não deve ser utilizada água no lugar do soro.
PODE-SE USAR SPRAY NASAL?
Caso os pais não queiram usar seringa e soro fisiológico, uma alternativa são os sprays nasais. "Vai da preferência individual”, diz. "Cada método vai ter um momento ideal de uso. Quando a criança está com muito catarro, o melhor é a seringa, que tem leva volume maior de soro. Já o spray pode ser facilmente administrado pelas próprias crianças, dependendo da idade. E ainda tem os aerossóis, que também são facilmente encontrados nas farmácias brasileiras. Esses têm pressão e bicos adequados para a lavagem", completa Maura.
EXISTE ALGUMA SOLUÇÃO NASAL NÃO INDICADA?
A orientação é evitar as soluções que contenham o conservante chamado cloreto de benzalcônio. "Temos evidências de que ele pode ser lesivo para a mucosa nasal respiratória. Por isso, surgiro que essa substância seja evitada. É importante que os pais sempre leiam os rótulos atentamente antes de comprar e utilizar um produto. Existem muitas opções disponíveis no mercado", afirma.
COMO DEVE SER A SERINGA?
A maneira mais eficiente para realizar a higienização nasal são com as seringas plásticas. No entanto, a especialista recomenda que os pais deem preferência para as fabricadas especialmente para essa função. “Eu recomendo as de bico e não as de rosca. Pois, nas crianças, a rosca da seringa por ser grande e machuca a narina. Caso você não consiga encontrá-las, as seringas (sem agulha) também são uma boa opção”, explica Maura.
LAVAGEM NASAL SUBSTITUI O UMIDIFICADOR?
A lavagem, segundo a médica, não dispensa o uso do umidificador de ambientes. A explicação é que, enquanto o soro lava o nariz, removendo crostas, o eletrodoméstico age umidificando o ar do ambiente. No entanto, o aparelho não deve ser usado durante longos períodos, já que um ambiente úmido demais é o cenário ideal para a proliferação de fungos e bactérias.
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