Me sinto um polvo.
Na gravidez, por causa da dificuldade em me agachar com aquela barriga de gêmeos, eu desenvolvi técnicas que chamava de #seviranos30: pegar coisas que caíam no chão com os pés, por exemplo, virou um clássico e uma constante. Quantas vezes a caneta do bloco de notas caiu ou o carregador do celular e eu os resgatei, antes do próximo comentário ao vivo, com o espaço entre os dedos dos pés?
Agora, com os gêmeos fora da barriga, já aperfeiçoei a técnica, como se fosse um verdadeiro polvo - quero ninar João com uma mão enquanto dou de mamar a Pedro segurando com o outro braço - e uso o pé para pegar o controle que caiu e deixo o outro de sobreaviso para eventuais imprevistos.
Brincadeiras à parte, tenho pensado muito na imagem do molusco marinho desde que me dei conta de que me tornei mãe de gêmeos faz pouco mais de uma semana. É verdade também que eu nunca gostei de fazer uma coisa de cada vez. Sou muito agitada e, diferentemente do André [Rizek], gosto de fazer tudo ao mesmo tempo agora: assisto a série comentando no Twitter ao mesmo tempo em que respondo a uma fonte por Whatsapp.
Ao me deparar agora com a nova rotina que, aos poucos, dia a dia vamos nos adaptando, fico pensando que toda mãe tem essa característica: se desdobrar em mil para abraçar tudo, para dar conta do recado. Aqui, o recado é dobrado. Nesses primeiros dias, sei perto de zero sobre maternidade mas já tenho a completa convicção de que perdi o controle absoluto das coisas. Que eu vou ter medos e inseguranças o tempo todo sobre a saúde dos bebês, por exemplo, e que todos os clichês sobre amor aos filhos são verdadeiros.
Conversando com o doutor Renato Kfouri [pediatra e neonatologista] esses dias, ele me perguntou se eu estava mais calma, já de alta da maternidade. Eu devolvi: “acho que jamais estarei a partir de agora” rsrs. Nem calma, tampouco segura: delego tarefas, como banho, para o André porque eu estou com medo mas, em compensação, o meu maior temor, a amamentação, tem se revelado o momento mais incrível com a duplinha. O mais legal é ver como são tão diferentes! Tanto fisicamente quanto de personalidade. Nunca achei que isso seria possível de perceber tão rapidamente mas, sim, a gente tem se divertido com o jeito de um e de outro, desde o choro até as mamadas.
E tenho visto a importância do pai presente e da rede de apoio, sim. Seria impossível sem ela. Não tenho família no Rio, só somos eu e André. O cansaço, a privação de sono, os medos ficam mais diluídos por poder contar com ajuda e com amor, que é o que me cerca aqui do meu isolamento. André só não dá de mamar porque não pode - o resto, se deixar, quer fazer tudo.
Vi um pai nascer no parto e tem me dado muita segurança tê-lo em casa neste primeiro momento. Além da Margarida, enfermeira que me ensina todos os dias com sua experiência de profissional da saúde sobre amor, paciência e superações nesta fase.Tenho pensado muito também no que li na gestação, sobre a maternidade real. Sim, já me culpo ou me cobro se meus horários da mamada são rejeitados por um ou pelo outro. Se choram e eu não sei o motivo. Mas tento pegar leve comigo, converso comigo mesma e com eles! Dá uma sensação de vitória quando a gente consegue acalmá-los e só consigo pensar no Gil quando os vejo dormindo juntinhos, depois de uma tarde do barulho: “ A paz..invadiu o meu coração”.
Andréia Sadi, jornalista, paulistana, 33 anos, mãe de João e do Pedro. Comento política na GloboNews ,TV Globo e CBN apresento o programa em Foco, na GloboNews e escrevo sobre os bastidores da política no G1. Por aqui, maternidade e tudo mais que couber.
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