Uma revisão realizada por pesquisadoras do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e, publicada recentemente no Physiological Reports, concluiu que os anticorpos passados de mãe para filho durante a amamentação podem oferecer proteção para o bebê contra inflamações gastrointestinais e doenças respiratórias, incluindo a covid-19. No entanto, ainda não se sabe com certeza se esses anticorpos podem neutralizar o vírus da covid-19.
As pesquisadoras revisaram mais de 100 estudos com o objetivo de investigar por que as crianças são menos acometidas pela covid-19 e se a amamentação poderia ter um papel protetor contra o vírus.
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Segundo a revisão, o leite humano contém proteínas, aminoácidos, íons, microrganismos e outras moléculas que têm funções imunoestimulatórias, que protegem o bebê contra doenças infecciosas. Isso significa que o leite materno exerce um papel protetor fundamental no início da vida e pode fornecer proteção contra diversas infecções, possivelmente também contra o vírus da covid-19. Além de proteger, o leite materno também tem um potencial terapêutico e pode aliviar sintomas respiratórios e gastrointestinais.
“A associação da amamentação com a baixa incidência de manifestações gastrointestinais, como diarreia e infecções respiratórias, sugere que o leite materno é essencial para fornecer os elementos necessários para a prevenção de inflamações intestinais frequentes, diminuir doenças respiratórias durante o período pós-natal e apoiar o desenvolvimento imunológico infantil”, diz o estudo.
A proteína predominante no leite materno é chamada de “sIgA” e representa 25% do total de proteínas e 90% dos anticorpos presentes no leite humano. Essa proteína oferece ao bebê proteção contra infecções respiratórias e intestinais. A interrupção da amamentação leva à baixa ingestão de proteínas e pode afetar a nutrição, o desenvolvimento e a resposta à infecção do recém-nascido.
Além disso, um estudo recente relatou a presença de proteínas sIgAs contra o vírus da covid-19 em 100% das mães recuperadas da doença. Como esses anticorpos persistem no leite materno em níveis elevados por pelo menos 7 meses após o parto, eles podem servir para prevenir a infecção pelo vírus. A produção em grande escala desses anticorpos pode também ajudar na recuperação em casos graves.
As pesquisadoras concluem que, como não há muitos dados relatando a presença do vírus da covid-19 em amostras de leite materno e considerando os benefícios da amamentação, é recomendável que os bebês não deixem se ser amamentados mesmo em casos de infecção por covid-19.
“Quando nós estudamos os elementos do leite separadamente, vimos que todos têm um papel importante no quadro de inflamação intestinal. E juntas, essas moléculas tornam o leite um alimento muito importante na proteção das crianças”, destaca a professora Patrícia Gama, coordenadora do estudo, ao site do ICB-USP.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/04/leite-materno-mesmo-o-de-maes-nao-vacinadas-pode-atuar-na-protecao-de-bebes-contra-covid-19-descobrem-pesquisadoras-da-usp.html