Lindsay Flach, 31, atleta de heptatlo pelos Estados Unidos, chamou a atenção nas redes sociais na última semana. No domingo (27), a americana participou das classificatórias para as Olimpíadas de Tóquio e, mesmo que tenha passado longe da zona de classificação, foi o destaque da competição por um motivo especial: ela conseguiu concluir as sete etapas da prova, um dia depois de anunciar que estava grávida de 18 semanas.
O heptatlo é uma prova de atletismo que combina sete especialidades diferentes: 100 metros com barreiras, 200 metros e 800 metros rasos, salto em altura, salto em distância, arremesso de peso e lançamento de dardo.
No último domingo (27), houve um evento para fechar a lista e decidir quem seriam os atletas da modalidade que representariam os Estados Unidos em Tóquio. Lindsay ficou em 15º lugar dentre as 18 competidoras. Essa foi a terceira vez que ela tentou uma classificação olímpica. Em 2012, acabou o evento em 14º lugar e em 9º em 2016.
As classificatórias aconteceram na cidade de Eugene, no estado de Oregon. No dia da competição, a temperatura chegou a 40 °C. Para não colocar o bebê em risco, Lindsay teve de adaptar sua participação. Ela fez apenas uma tentativa de arremesso de peso e de salto em distância, em vez das três que são permitidas. Nos 800 metros rasos, ela também concordou em sair da pista depois de apenas 100 metros.
“Meu marido e meu técnico estavam um pouco preocupados que eu fosse teimosa e tentasse continuar. Foi muito difícil ter de sair da pista, mas eu não tive escolha, sabendo que havia um pequeno com quem eu precisava me preocupar", disse em entrevista ao Yahoo Sports.
Ainda que seu desempenho tenha ficado abaixo de seu recorde pessoal, Lindsay conta que não está chateada por não ter conseguido a vaga para Tóquio. Segundo ela, mais importante do que isso, é ter mostrado o quão fortes as mulheres grávidas podem ser. "Foi muito difícil psicologicamente porque eu sabia que não seria capaz de competir no mesmo nível de 18 semanas atrás, mas eu só queria provar que as mulheres podem chegar lá. Agora estou terminando um capítulo e começando outro."
A temporada de 2020 deveria ter sido a última da carreira de Lindsay. Ela pretendia tentar mais uma vez participar das Olimpíadas e, depois, se aposentaria para poder se dedicar à família. Com a pandemia de covid-19, precisou mudar de planos. Quando foi anunciado o adiamento dos Jogos de Tóquio, ela decidiu que não dava mais para esperar e começou as tentativas para engravidar. Em março de 2021, descobriu que estava esperando um bebê.
“Foi agridoce. Eu estava muito animada porque sempre quis ter filhos, mas também foi um choque saber que, ao mesmo tempo, minha carreira no atletismo havia acabado", disse. Apesar do clima de despedida, Lindsay fez questão de competir ao menos uma última vez antes de se aposentar.
Quando descobriu que estava grávida, perguntou ao médico se poderia levar a ideia adiante. Ele concordou, desde que ela treinasse com moderação, tomasse cuidado com possíveis quedas e prestasse atenção a qualquer possível sinal de alerta.
“Minha grande preocupação era ter certeza de que eu estava saudável e que o bebê também. Minha gravidez foi muito difícil no começo, tive cerca de 12 semanas de muito enjoo e vômitos, o que afetou minha rotina de treinos. Se as seletivas olímpicas tivessem acontecido há três semanas, eu não sei estaria lá", explicou.
Na última sexta-feira (25), um dia antes do começo das classificatórias, Lindsay revelou em suas redes sociais que estava grávida e que pretendia competir mais uma vez. Ela postou uma foto de sua barriga com a legenda: "Minha terceira seletiva olímpica e, desta vez, um pouco diferente das outras. O segredo agora não é mais segredo".
A publicação dividiu opiniões. Enquanto seus fãs a parabenizaram, algumas pessoas a questionaram sobre a decisão de seguir competindo. “Tive algumas reações negativas quando o anunciei. As pessoas dizendo que eu estava arriscando a vida do bebê, que mulheres não devem fazer isso quando estão grávidas, que eu estava sendo egoísta e ocupando o lugar de outra pessoa. Eu meio que esperava que isso acontecesse, mas ao mesmo tempo sabia que seria muito cautelosa e não arriscaria a me machucar ou machucar o bebê."
Tem gestante que fica com medo de praticar exercícios, achando que pode colocar sua saúde ou a do bebê em risco. Há também quem queira tirar o atraso de toda uma vida sedentária nos nove meses da gravidez.
Mas, se a gestante não tem nenhuma contraindicação, fazer exercícios é, inclusive, recomendado. Segundo as diretrizes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, as grávidas devem fazer ao menos 150 minutos por semana de atividade aeróbica de intensidade moderada – que é aquela em que não se vai ao limite do esforço e varia de pessoa para pessoa.
“Eles ajudam não só no controle do peso, como também a fortalecer a musculatura que vai ser exigida nesse período e, posteriormente, durante a amamentação. Melhoram a circulação sanguínea e podem ajudar a diminuir o inchaço, comum no fim da gestação. Além das vantagens para o físico, é indiscutível que há ganhos na disposição. As grávidas têm menos queixas de dores musculares e articulares. E se sentem mais animadas”, diz a ginecologista e obstetra Fernanda Valente, da clínica Invita Medicina Reprodutiva (SP).
Antes de mais nada, é preciso conversar com o seu médico para que ele libere a atividade física. “Em linhas gerais, pode praticar exercícios toda gestante que seja saudável, não apresente sangramento e cujo feto esteja evoluindo de forma adequada durante o pré-natal”, afirma Fernanda Valente. O melhor cuidado, claro, é respeitar os limites do organismo e as orientações do professor e do médico. “Lembre que a jornada agora é outra. O mais importante é a nova vida que está chegando e não o sonhado corpo fitness. Isso pode ficar para depois do parto”, reforça o ginecologista e obstetra Alberto Guimarães, da Unifesp (SP).
É essencial prestar atenção à intensidade dos exercícios. A capacidade física da gestante fica diferente. Mesmo quem já era ativa antes da gravidez vai perceber que é preciso adequá-los a cada fase. É comum ter a frequência cardíaca aumentada e um pouco de falta de ar durante os exercícios. Além disso, há um risco maior para lesões articulares, por exemplo, porque as articulações tendem a ficar edemaciadas (inchadas) e ocorre uma maior frouxidão dos ligamentos.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2021/07/gravida-de-18-semanas-americana-participa-de-classificatorias-para-olimpiadas-de-toquio.html