O aprendizado das palavras evolui com a idade. Mas como as crianças integram estas informações? Foi o que buscou responder o estudo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária. Por meio da tecnologia, os pesquisadores alemães avaliaram essa integração durante o aprendizado das palavras.
"Sabemos que as crianças usam muitas fontes de informações diferentes em seu ambiente social, incluindo seu próprio conhecimento, para aprender novas palavras. Mas a imagem que emerge da pesquisa existente é a de que as crianças têm um monte de truques que podem usar", diz Manuel Bohn, um dos pesquisadores.
Elas tendem a associar novas palavras com novos objetos desconhecidos. "Por exemplo, se você mostrar à criança um objeto que elas já conhecem - vamos dizer que seja uma xícara - junto com um objeto que elas nunca viram antes, ela, normalmente, vai pensar que a palavra que ela nunca ouviu antes pertence ao novo objeto. Por quê? As crianças usam informações na forma de seu conhecimento pré-existente das palavras (aquela coisa que você usa para beber líquidos é chamado de "xícara") para deduzir que o objeto que não tem nome é associado ao nome que não tem um objeto. As outras informações vêm do contexto social: as crianças lembram de interações passadas com um interlocutor, por exemplo, para descobrir o que ele deverá falar em seguida", explica o cientista, que reforça que, no mundo real, as crianças aprendem as palavras de maneiras bem mais complexas, em que mais de apenas uma informação está disponível. "Eles precisam usar o conhecimento deles sobre as palavras ao mesmo tempo em que interagem com alguém. Aprender palavras exige que a criança integre múltiplas, diferentes fontes de informações". E aí os pesquisadores quiseram entender como elas combinavam todas essas infomações, que, muitas vezes, são até conflitantes, para aprender.
Para isso, eles usaram um modelo parecido com um programa de computador. Um time de pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, do MIT e da Universidade de Stanford conduziu uma série de experimentos com crianças de 2 a 5 anos para medir o quanto cada uma delas era sensível a diferentes fontes de infomações. Então, eles criaram um modelo cognitivo computadorizado, para tentar detalhar como todas essas informações eram combinadas pelos pequenos. "Nós inserimos ali a sensibilidade das crianças a diferentes tipos de informação, que medimos antes, em experiências separadas, e aí o programa simula o que aconteceria se essas fontes de informações fossem combinadas de uma maneira racional. O modelo dá previsões sobre o que deveria acontecer em novas situações hipotéticas, em que todas essas informações fossem combinadas", explia Michael Henry Tessler, um dos coordenadores da pesquisa. Por fim, o grupo de cientistas transformava essas situações hipotéticas do programa em experiências reais, com as crianças, para ver quais das previsões do modelo realmente aconteciam no mundo real. "É impressionante como o modelo racional da integração de informações previa o comportamento real das crianças nessas situações. Isso quer dizer que estaamos no caminho certo tentando entender - por uma perspectiva matemática - como as crianças aprendem a usar a linguagem", diz Bohn.
Ao longo do desenvolvimento, as crianças tornam-se mais sensíveis às fontes de informação individuais, mas o processo de raciocínio social que integra estas fontes permanece o mesmo, mostra o estudo.
Patrícia Romagnani, mestre em educação e pedagoga terapêutica da Universidade Positivo, em Curitiba, reforça que a interação social está presente no processo de construção do pensamento da criança e sua capacidade cognitiva, de integrar a informação que recebe.
“A interação social é uma fonte fundamental para que essa apropriação de diferentes bases de cultura possa fazer com que a criança tenha acesso a algo construído por ela como uma informação, que é a matéria prima para o seu desenvolvimento. A interação é fundamental para essa matéria prima, então a cultura vai ser formando de forma ativa, ela não é estática", aponta.
Primeiro a criança recebe a informação de um grupo social – pais ou irmãos mais velhos – e atribui a ela um significado, criando um sistema simbólico por meio desta relação social. Os bebês fazem isso pelo choro, expressões e movimentos. “Na interação com os adultos, a criança vai interpretando, construindo signos e produzindo informações que constituem formas para que ele entenda esse meio. Ele absorve essa cultura e transforma, faz leituras, interpreta e produz o que a gente chama de sínteses, estabelecendo relações", explica.
A psicopedagoga observa que nós, humanos, construímos um signo, um significado para tudo. “Quando alguém, coloca o dedo indicador na frente do lábio, todo mundo sabe culturalmente que esse é um sinal de silêncio. Essa interação social que vai produzindo, essa relação da criança que ela vai experimentando, com diferentes pessoas, idades, culturas, ela vai produzindo os sentidos. Quanto mais experiências e vivências, mais ela desenvolve essa capacidade”, conclui.
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