Mamadas noturnas são um capítulo à parte na vida de uma mãe que amamenta.
Para essa mãe, não era diferente. A mudança repentina no padrão das mamadas, que transformou a madrugada numa sequência de pequenos sobressaltos, a tirou completamente do eixo e sua inquietação era visível. Depois de experimentar por três meses intervalos generosos, que chegavam a sete horas, ser acordada de hora em hora durante a noite toda, não estava nos seus planos. Este, normalmente, é o problema: assim que temos filhos insistimos em ter planos...
Planejar um dia, nas suas 24 horas de duração, pode soar útil para nós, mas para um bebezinho não faz sentido algum. O que é dia? O que é noite? Nascemos já conhecedores de tais conceitos? Não, de forma alguma. Ao contrário, ao nascer, estamos submetidos ao nosso organismo que nada mais quer do que encontrar um tal “equilíbrio dinâmico”, que assim que é encontrado, se perde num piscar de olhos. Fome, sono, fezes, urina, arrotos, cólicas, frio, calor... E se somarmos isso tudo a todos os eventos que se passam em nosso cérebro e sentidos no encontro com o mundo cá fora, cheio de estímulos! Ufa! Que revolução. Sim, nascemos e mergulhamos em ondas nunca antes navegadas por nossa breve existência.
Nascemos com alma de descobridores, desbravadores.
Enquanto isso, a mãe quer dormir. Eu não pensava, como tantas outras milhões de mulheres não pensam, em outra coisa a não ser: preciso planejar o meu dia, para conseguir descansar.
Somos egoístas? Não, eu não diria isso. Essa é uma visão muito simplista e reducionista da maternidade. Somos o que somos. Despreparadas para as demandas de um bebê, este ser tão fora de órbita que cai de paraquedas em nossas vidas e sai deslocando tudo o que demoramos dezenas de anos para por no lugar.
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"Eu quero saber o que eu fiz de errado?!". Ela me perguntou desesperada como se houvesse uma resposta, um método ou técnica que pudesse colocá-la no mesmo lugar onde estava há algumas semanas.
Nada, eu lhe disse. Não tem nada a ver com você, tem a ver com o começo da vida e essa loucura que é nascer e ainda não ser humano, não saber do funcionamento das coisas, não saber nem das coisas em si!
A vida é um processo, e há que se ter paciência com seu ritmo, às vezes com passadas largas e rápidas e outras em câmera lenta. Olhar o bebê e ver o que ele realmente é. Este é o desafio. Ainda mais porque quando começamos a achar que entendemos o que se passa ali dentro dele, aquele serzinho que acreditávamos conhecer e poder prever, já não está ali, cresceu, já tem outras demandas. E é essa mágica que assusta e encanta. É virar para o lado e ver que ele já caminha, fala e está indo para a escola, onde volta cheio de histórias.
Encontrar maneiras de fazer a criança dormir faz parte do jogo. Sim, porque se há uma coisa que temos que ensinar, pois está no caldo da cultura, é que de dia aprontamos e de noite descansamos. Mas aceitar que não temos o controle das coisas, é preciso. E como é duro fazer isso!
Digo por experiência própria! Quantas quedas de braço enfrentei com a vida por querer dar conta de botar ordem na rotina dos meus bebês quando nasceram. E quanto mais nadava contra a maré, mais naufragava. Parece até que os bebês sabem da nossa incapacidade de incorporar sua natureza. Quanto mais queremos que eles durmam mais eles despertam, nos lembrando a todo o momento o quanto precisam de nós. E aquele sentimento avassalador de que nunca é suficiente, que nós não bastamos, e adivinhem o que? Que nosso leite não sustenta... E então, oferecemos a mamadeira.
Quantas histórias já não ouvi terminarem assim. Carregadas de tristeza e frustração.
Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2020/03/mamadas-noturnas-dificuldade-de-planejar-uma-rotina-com-o-bebe.html