Thursday, March 26, 2020

Coronavírus: o sofrimento de pais proibidos de visitar seus bebês na UTI neonatal, em SP e SC

Pezinho de prematuro (Foto: Thinkstock)


 

A primeira filha do casal Jair e Michelle* nasceu no dia 20 de março, na Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo. Michelle estava com 37 semanas de gestação, mas a bebê teve restrição de crescimento, nasceu com baixo peso e teve dificuldade para respirar. Logo foi encaminhada para a UTI neonatal do hospital.

Em meio à pandemia mundial pelo coronavírus, os protocolos de segurança e higiene para entrada na UTI foram redobrados. Além da higienização das mãos, os pais colocavam máscaras, avental e passavam álcool gel antes de tocar na filha.

“Nós fomos muito conscientes sobre os riscos da Covid-19 e proibimos visitas. Mesmo no dia do parto, apenas eu e minha esposa viemos ao hospital”, conta Jair.

Assim que a filha do casal foi para a UTI, eles passaram a se revezar nos cuidados com a pequena. Em geral, Michelle passa o dia com a bebê por conta da amamentação. Jair chega à noite para que ela possa descansar. “Como moramos em um bairro longe do hospital, optamos por alugar um apartamento na rua que fica atrás da maternidade. Dessa forma, eu posso visitar minha filha de madrugada, ler um livrinho para ela, nem que seja apenas por dez minutos”, conta Jair.
 

Orientações do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim (Foto: Arquivo pessoal)


 

Acontece que a partir desta quinta, dia 26, o hospital mudou as regras para a entrada na UTI. De acordo com as novas orientações, será permitida a presença de apenas um acompanhante (mãe ou pai) durante 24 horas, de preferência, a mãe. Ou seja, como Michelle amamenta a filha, ela sempre será a acompanhante da bebê e o pai não poderá vê-la, já que não haverá revezamento como antes.

“Não somos contras as regras. Respeitamos e tomamos todos os cuidados, mas não conseguimos aceitar o impedimento de um pai visitar a filha na UTI. Se essa situação continuar por meses, ele simplesmente não poderá ver a filha”, conta Michelle.

Antes da mudança, os pais já eram impedidos de tocar nos bebês. “Não posso ofertar a mamadeira nem segurar no colo ou tocar a minha bebê, apesar de doer, compreendemos e aceitamos a regra, mas o impedimento de visitar e ver a minha filha é quase desumano. Nosso objetivo é conseguir que os pais tenham um horário em que possam visitar os filhos, mesmo que seja limitado”, diz Jair.

“Hoje, pela primeira vez, eu consegui amamentar minha filha durante 20 minutos com a ajuda de um bico de silicone. Estava aflita porque ouvi comentários pelos corredores que até mesmo as mães que não amamentam os filhos seriam impedidas de visitá-los. Os bebês ficarão apenas sob o amparo dos profissionais de saúde", relata Michelle.

Procurado pela Crescer, o Hospital e Maternidade São Luiz Itaim disse em nota:

“O Hospital e Maternidade São Luiz – Itaim esclarece que está seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde e que adicionalmente tomou algumas medidas de contingência da pandemia mundial, visando proteção dos bebês das UTI’s. A fim de evitar aglomeração e circulação nas UTI’s está restringindo a presença de apenas um (1) acompanhante (pai ou mãe) durante as 24 horas, sendo preferencialmente a mãe para amamentação. Ainda assim, o pai poderá visitar o bebê durante boletim médico diário ou revezar os dias com a mãe, caso a mãe não esteja amamentando ou opte por retirar leite. Ressaltamos que todas as medidas são única e exclusivamente em virtude do atual cenário e visam a segurança e saúde dos bebês”.

Jair, no entanto, contesta a resposta do hospital. "A resposta deles é mentirosa. Não posso ver a minha filha nem no boletim. Dependo da boa vontade de uma enfermeira. Eles não podem ser tão desumanos, aliás, é uma grande mentira esse lado da humanização deles", completa.

Um caso parecido aconteceu na cidade de Itajaí (SC). Após o nascimento do seu filho com 31 semanas por meio de uma cesárea de risco por conta de um episódio de pré-eclâmpsia, Lú* foi orientada pelo Hospital Marieta Konder Bornhaunsen a permanecer em casa por conta do risco de infecção nos pontos da cirurgia. Enquanto isso, seu esposo passou a visitar o filho do casal na UTI neonatal diariamente entre 7h e 8h. No entanto, assim como na maternidade paulistana, as regras mudaram do dia para a noite.

“Ontem quando meu marido chegou para receber o laudo médico, viu um comunicado que restringia as visitas apenas aos domingos às 15h durante 15 minutos e de apenas um dos pais. Para as mães que amamentam, as visitas estão liberadas diariamente entre 13h30 e 18h. Eu me senti muito triste. Só porque eu não amamento, eu não posso ver o meu filho? Eu não escolhi não amamentar. Meu filho ainda é muito pequeno e recebe o meu leite por meio de uma seringa”, diz Lú.

Diante da pressão dos pais e mães, o hospital reviu a postura. Em um comunicado oficial, assinado pela direção, a instituição afirma:

“Está suspensa temporariamente a permanência 24 horas dos pais dentro da unidade. Aos pais, cujos recém-nascidos não possuam necessidade de estimulação ao seio materno, será permitida a visita presencial de um dos pais, das 18h30 às 19h. No caso dos recém-nascidos com necessidade de estimulação ao seio materno, a entrada das mães se dará das 13h30 às 18h. Durante a permanência na unidade neonatal, os pais deverão utilizar máscaras”.

Dessa forma, hoje será o primeiro dia que Lú poderia ver o seu filho.

*Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Cuidados-com-o-recem-nascido/noticia/2020/03/coronavirus-o-sofrimento-de-pais-proibidos-de-visitar-seus-bebes-na-uti-neonatal-em-sp-e-sc.html

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