Quer frustração maior do que saber que sua tão esperada festa de aniversário, que estava chegando, de repente, precisar ser cancelada? As crianças costumam contar os dias para cantar parabéns junto dos amigos e da família e assoprar as velinhas (aliás, assoprar as velinhas é um hábito que, provavelmente, terá de ser repensado daqui para frente). Por conta da crise do coronavírus, muitos pais estão optando por cancelar ou adiar as comemorações. De acordo com os especialistas, essa é mesmo a recomendação. "Nesse momento, o ideal é cancelar ou adiar mesmo. E isso pode se estender para um mês, dois, não dá para saber quanto tempo vai durar", explica o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, do Hospital Sabará (SP).
Na coletiva de imprensa do Ministério da Saúde na tarde desta terça-feira (17), o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, também falou sobre o assunto, reforçando que encontros dessa natureza não devem ser realizados quando se trata de locais com transmissão comunitária, ou seja, quando já não é mais possível identificar a fonte de contaminação. "Festas de família, com 8, 10 pessoas, podem ser feitas em locais que ainda não têm transmissão comunitária. Se a família tem pessoas idosas, com mais de 65 anos, elas devem se manter distantes e, obviamente, se qualquer outra pessoa da família estiver com algum sintoma de síndrome gripal, ela não deve participar de festas de aniversário”, disse.
Segundo o médico, mesmo quando as festas são organizadas para acontecerem ao ar livre, existe o risco de contaminação. "Por menor que seja, qualquer evento que reúna mais do que dez pessoas, principalmente, se você coloca todo mundo dentro da mesma sala, é risco. Por isso, a recomendação oficial é não realizar festa de aniversário, chá de bebê, chá de revelação... A reunião ao ar livre tem um risco menor, mas não dá para dizer que seja zero porque as pessoas se aproximam. A não ser que você faça uma reunião e que coloque todo mundo a 1 metro um do outro", afirma. E aí não tem graça fazer festa, não é mesmo? O infectologista reforça ainda que, hoje, o mais seguro é cada um ficar na sua casa, sair o mínimo possível e permancer, de preferência, distante das outras pessoas. "Eventos sociais devem ser desmarcados e feitos posteriormente, quando a situação voltar à normalidade", completa.
Ok, sabemos que o melhor, pelo bem da saúde geral, é cancelar ou adiar festas. Mas como dizer isso a uma criança que contava os dias para cantar Parabéns a você ao lado dos amigos? "As crianças sofrem mais porque são imediatistas. Precisamos, então, aproveitar essa situação para trabalhar a questão de que nem tudo está no nosso controle", explica a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (SP).
A especialista aconselha os adultos a, sempre que forem fazer algum combinado com as crianças, acrescentar no final: "a não ser que haja uma mudança de planos". Assim, os pequenos já começam a entender que nem tudo está absolutamente sob o nosso controle. "As mudanças de plano precisam fazer parte da vida das crianças. Elas se frustram, é saudável, normal e até esperado. O que os adultos precisam fazer é acolhê-las, entender o lado delas, mas fazer com que elas saibam que é algo não podemos mudar. Por mais que ela grite, chore, se desespere, mas está consolidado que a festa não vai sair agora", explica.
Ela reforça que oferecer presentes ou atividades mirabolantes como compensação, como forma de "limpar o vazio". O melhor, segundo ela, é explicar mesmo, de acordo com a idade, o que está acontecendo. "Os pais podem dizer que agora não é possível, porque a vovó e o vovô correm o risco de ficar doentes", exemplifica. É assim que eles vão desenvolvendo a resiliência, que é a capacidade de se adaptar a situações adversas. "O ideal é chamar as crianças para participarem da solução. Pergunte: o que podemos fazer juntos para comemorar, sem causar riscos?" Um bolo em casa é sempre uma boa ideia.
Se a festa ainda estiver no início do planejamento ou se a ideia era fazer algo mais caseiro mesmo, é mais fácil voltar atrás. Mas e nos casos em que os pais já contrataram fornecedores de alimentos, decoração e até buffets? O ideal é conversar primeiro diretamente com a empresa e tentar entrar em um acordo. "Estamos em uma situação de força maior, que ninguém causou, ninguém tem culpa. A princípio, ninguém deve sofrer prejuízo", explica Fernando Capez, diretor-executivo da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP). "Não havendo consenso, o consumidor é considerado parte mais vulnerável na negociação. Isso será levado em conta na hora de decidir quem deverá arcar com as consequências", explica. De acordo com o Capez, o primeiro passo é tentar um acordo entre as partes, o segundo é acionar o Procon e o terceiro é partir para a justiça.
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