Tuesday, July 28, 2020

Mônica Pessanha: "As 5 fases do esgotamento parental"

Cansada na sexta-feira? (Foto: Reprodução)

 

Não sei em relação a vocês, mas para mim o ano de 2020 chegou virando a vida, em muitos aspectos, de ponta-cabeça. De repente, nos pegamos tendo quer fazer adaptações em nossas rotinas para dar conta de responsabilidades diferentes: trabalhar em home office e entregar as demandas da empresa, ajudar os filhos a se concentrarem nas aulas online (missão quase impossível, né?), ajudá-los dar conta das tarefas escolares, realizar as tarefas domésticas (louça virou sinônimo de bactéria porque se multiplica em alguns minutos! Risos).

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Tudo isso sem a marcação de tempo a que estávamos acostumados, em que as coisas aconteciam em momentos diferentes e definidos. Você que está lendo esse texto, deve pensar que tenho poderes mágicos ou de clarividência que me possibilitam ver o que se passa dentro de muitos lares. Não! É que, guardadas as proporcionalidades (eu só tenho uma filha adolescente), eu vivo muitas dessas demandas. Com o acréscimo de que elas chegam até mim durante as sessões como terapeuta.

Sim, alguns pais estão cansados, ansiosos, frustrados e angustiados. Eu diria ainda que eles estão esgotados. Verdade! O esgotamento ou a síndrome de burnout, que só recentemente ganhou um lugar no rol dos sofrimentos humanos na DSM, deixou de ser conhecida apenas nos escritórios das grandes corporações e passa a ganhar espaço dentro das casas, principalmente depois do advento da covid-19.

Agora, pensem comigo: a pandemia causa o esgotamento parental ou há outros processos que levam a esse esgotamento, que a pandemia só fez acentuar?  Entre as duas hipóteses, eu fico com a segunda. Mas quais são esses processos que levam ao esgotamento parental e que a pandemia ajudou a acirrar?

Falo em processos, porque o esgotamento não é algo que acontece da noite para o dia. Consigo ver cinco fases distintas antes de o esgotamento acontecer. Claro que nem todos os pais passam necessariamente por todas as fases ou na mesma ordem e com a mesma intensidade, mas conhecê-las pode aumentar nossa ciência em relação a elas e nos permite a fazer ajustes antes que o esgotamento chegue até nós. Como gosto de técnicas mnemônicas, para ajudar a lembrar do processo, vou chamá-lo de ISAFE (Idealização, Superinvestimento, Auto-sacrifício, Frustração, Espiral de esgotamento)

1. A idealização
Essa é a fase em que os pais estão mergulhados em seu ideal de pais perfeitos. Nessa fase, eles acreditam que não têm o direito de cometer erros por medo de serem julgados ou por pressionarem a si mesmos para não reproduzirem com os filhos tudo o que eles sofreram na sua infância.

É claro que os pais não idealizam a parentalidade sozinhos. A cultura da sociedade em que vivemos contribui para aumentar essa pressão (propagandas em que as mães estão sorrindo, crianças são “obedientes” nem sequer discutem com os irmãos, na hora do jantar todos estão sentados bonitinhos, etc).

2. Superinvestimento nos filhos
Por estarem convencidos da importância de sua missão, os pais investem toda a energia neste papel. Eles se dedicam às atividades de cuidados e extracurriculares, tarefas de casa, refeições; passam tempo brincando ou conversando com filhos. Esse excesso de investimento acompanha o sentimento de ser essencial, o que leva os pais a um círculo vicioso de não querer delegar nem pedir ajuda, sob pena de sentirem que não são bons pais por causa disso.

3. Auto-sacrifício
Nessa fase, os pais superestimam sua força e negligenciam suas necessidades, em benefício dos filhos. Prejudicam a qualidade e / ou a quantidade de sono. Já não se encontram mais com os amigos. Também ignoram momentos de lazer ou intimidade como casal.

4. Frustração
As fases anteriores nos trazem até a frustração. Em princípio, ela se traduz em um esboço de insatisfação e decepção esporádicos. E, então, se intensificam, chegando a se tornar muitas vezes amargura.

Essa frustração pode ter várias origens:

A impressão de não ter sucesso;

Achar que os esforços não estão dando resultados;

Falta de reconhecimento do cônjuge ou dos filhos (às vezes, qualificados como “ingratos”);

5. Espiral do esgotamento com perda de energia
Se a frustração persiste, os pais entram no espiral do esgotamento. Eles começam a sentir o cansaço acumulado durante os últimos meses ou anos e tornam-se plenamente cientes dos sacrifícios exigidos por seu papel como pais.

A perda de energia se materializa através de:

• Perda de paciência;

• Mais irritabilidade;

• Pensamentos pessimistas;

• Conflitos que passam a ocorrer com muito mais frequência.

Talvez você tenha se reconhecido em alguma fase desse processo, mas mais importante do que reconhecê-lo, é saber como sair dele. Minha primeira sugestão é: reequilibre os pratos. Isso significa que pedir ajuda não pode ser algo deixado de lado. Delegue aquilo que pode ser delegado. Outro ponto importante: encontre satisfação fora da parentalidade (reserve um tempo para si mesma, veja os amigos – só por chamada de video na quarentena, ok? – encontre alguma atividade que lhe traga satisfação – pintura, condicionamento físico, artesanato etc).

Por último e não menos importante, lembre-se de que as crianças não precisam de pais perfeitos, elas precisam de pais felizes e, não há nada mais pesado e que cause mais infelicidade, do que tentar ser perfeito e esconder nossas vulnerabilidades. Ao ter isso em mente e mudar o que precisa ser mudado, você verá sua frustração, ansiedade e medos desaparecerem. Seus laços com seus filhos receberão uma porção de revigoramento.

 


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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Monica-Pessanha/noticia/2020/07/monica-pessanha-5-fases-do-esgotamento-parental.html