Sunday, July 26, 2020

Como a pandemia afeta a saúde mental dos avós

Tânia e Rosana (Foto: Arquivo pessoal )

 

Avó de duas meninas, a funcionária pública Tânia Coimbra, 58, teve que se acostumar a ver suas pequenas pela tela do celular. Para matar a saudade, todos os dias eu faço café e fico conversando com elas por vídeo", disse a avó, que mora em Macapá, capital do estado de Amapá. O distanciamento das netas começou logo no início da pandemia do coronavírus. Como é diabética e hipertensa, a amapaense precisou se isolar em casa. 

A funcionária pública sempre esperava as visitas de sua filha Daniele Coimbra e do genro Rodrigo Juarez. Eles traziam a pequena Rosana, de 4 anos, para almoçar com a avó. Sua outra neta também tem 4 anos e ela a chama de "neta do coração". Catarina não tem o sangue de Tânia, mas chegou em sua vida de uma forma bem especial. "Após um tempo desempregada, encontrei um emprego para cuidar da Catarina, que tinha apenas três meses. Fiquei com ela até três, foi quando passei no concurso público". 

Ana Carolina Beckman e Nilso Silva, pais de Catarina, também se tornaram filhos do coração de Tânia. Inclusive, atualmente, Nilso é responsável por comprar os produtos e alimentos da funcionária pública, já que ela não sai de casa. O isolamento não tem sido fácil para a avó. Como trabalhava com saúde da família, ela passava muito tempo na rua visitando as pessoas. Agora, seu trabalho é feito totalmente de casa. 

Quer receber as notícias da CRESCER pelo WhatsApp? Clique neste link, cadastre o número (11 98808-7558) na lista de contatos e nos mande uma mensagem. Para cancelar, basta pedir.

NOVA ROTINA

Em tempos de quarentena, Tânia teve que mudar completamente sua rotina. "O que eu faço hoje é limpar a casa e cozinhar todos os dias", diz a avó. O que ela sente mais falta é tocar e abraçar as pessoas. "Um dia o Nilson estava trabalhando e eu fui ao mercado. Quando cheguei lá, encontrei um amigo, minha primeira reação foi tentar abraçá-lo, mas lembrei que não poderia". Tânia também sente falta de fazer exercício físico, já que não vai mais à academia.

Segundo Natan Chehter, geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o isolamento pode afetar os idosos mentalmente e levá-los a uma tristeza e desânimo profundo e isso acaba desregulando seu sono e alimentação. No entanto, é preciso driblar esse sentimento com uma rotina estabelecida para ocupar a mente com outras atividades. Praticar exercício físico é um dos exemplos."Levante os pesos que você tem em casa, como uma garrafa por exemplo, faça alongamentos e meditação". 

Para saber como lidar com cada fase do seu filho, da briga para dormir, comer até o que fazer na hora da birra, cadastre-se na nossa Newsletter.

Reunião da família de Tânia no Natal (Foto: Arquivo Pessoal )

 

O especialista ainda complementa que o distanciamento pode ser driblado por pequenos atos, que torna a distância um pouco menor. "Nada impede da avó cozinhar uma comida para os netos e filhos irem pegar na portaria"

Para evitar a sensação de abandono, a tecnologia pode ser uma boa aliada. É uma oportunidade dos avós transportarem sua rotina para o meio digital. Para quem não se acostumou com as telas, o médico diz que a tradicional ligação pelo telefone pode funcionar. "A família pode ser o alicerce para as pessoas não desestabilizarem é uma atitude que pode garantir que os idosos sejam acolhidos". 

Tânia conta que tenta conversar com as netas todo dia. A pequena Rosana sempre pergunta se já pode ir para a sua casa. "Eu já arrumei minhas coisas, vô!", diz a menina. Já Catarina liga para avó e não fala, quer apenas a companhia de Tânia para vê-la brincar. "Ela anda comigo com celular pela casa". 

Com relação ao coronavírus, a funcionária pública explica que Rosana tem mais consciência do que está acontecendo. A pequena envia vídeos para avó, explicando como se proteger e passar álcool em gel. 

Quer ver outros conteúdos exclusivos e assinar, além da CRESCER, todas as outras revistas e jornais da Editora Globo ao mesmo tempo? Acesse o Globo Mais, por R$ 4,90 (por três meses)

CRIANÇAS EM CASA 

Para a avó Lucia Simione, 50, a rotina não mudou muito. Como suas filhas trabalham na área da saúde, ela precisou continuar cuidando das netas. A pequena Laura, de 2 anos, é filha da dentista Talita Simione e a Livia, que também tem 2 anos, é filha da atendente Bruna Simione, que trabalha em um hospital. 

A avó, que mora em São Paulo, explica que as filhas tentaram diminuir a carga de trabalho, mas que ela continua cuidando netas. As meninas não dormem em sua casa. Então, Lucia tenta manter todos os cuidados de higiene para que o vírus não entre em sua casa. "A gente se protege como pode. Nós a ensinamos a usar máscara e também não a levamos para lugar nenhum.". 

O geriatra Natan Chehter explica que o ideal é evitar o contato das crianças, que muitas vezes são assintomáticas, com os idosos. Já nas situações que não é possível se afastar como é o caso da avó Lucia, a atenção tem que ser redobrada. Segundo especialista, é importante higienizar as mãos e os brinquedos constantemente e seria interessante também usar máscara dentro de casa. 

AVÓS TÊM VIDA PRÓPRIA

Ficar distante e dos netos é um desafio para os avós. No entanto, Wimer Bottura, psiquiatra e Presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, explica que os avós precisam desenvolver vida própria, para além dos cuidados das crianças. "Perceberem que antes da pandemia, estavam vivendo a vida dos netos e isso não é bom nem para eles e nem para os netos", diz o médico. 

Segundo o especialista, os avós podem resgatar atividades que sempre gostaram de fazer, como ler um livro, ouvir músicas e até mesmo participar de grupos com outros idosos. Talvez, fazer uma ligação para um antigo amigo. É importante também se afastar, se possível, do excesso de notícias trágicas, pois isso, afirma Wimer, só trará ainda mais ansiedade para os idosos. 

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2020/07/como-pandemia-afeta-saude-mental-dos-avos.html