Tuesday, July 21, 2020

Covid: "Fiquei 6 dias isolada, longe do meu bebê. Meu peito empedrou", conta mãe

Valeria com o filho de 1 ano e 7 meses (Foto: Arquivo pessoal)

 

"Foram dias longos, viu?", afirma Valeria Ibanhez, enfermeira e coordenadora de unidades básicas de saúde em Mogi das cruzes, São Paulo, referindo-se ao isolamento. Ela, que ainda está se recuperando do coronavírus, suspeita que contraiu o vírus no trabalho. "Acho que foi em alguma visita nas unidades de saúde", diz. "Tive sintomas bem leves e fui no médico duas vezes. Eles suspeitaram de sinusite. Mas um terceiro pediu o exame no quinto dia de sintomas, quando eu já tinha perdido o olfato e o paladar. Isso começou a me preocupar. Nesse mesmo dia, resolvi me isolei no quarto. Não tive contato nem mesmo com meu filho de 1 ano e 8 meses. Imaginei: 'Melhor eu tê-lo pertinho de mim, dentro da mesma casa, do que ter que levá-lo no hospital', conta.

"Não foi fácil. Meu peito empedrou, cada choro dele, eu chorava junto. Teve um dia que ele caiu e eu consegui escutar a cabeça dele batendo no chão! Ele chorava de soluçar! Esse foi o dia que mais me machucou. Quase quebrei o isolamento pra agarrar ele bem pertinho de mim", lembra Valeria. "Mas tive uma rede de apoio que foi meu marido e minha sogra. Sem eles, eu não teria conseguido. Estou no 13º dia desde o primeiro sintoma; ontem (20) foi o último dia de medicações", comemora.

Nesta segunda-feira, depois de quase uma semana sem contato, Valeria pode pegar seu bebê. "Saí do isolamento e dei mama pra ele! Foi a melhor coisa, o nosso reencontro", comemora. Tanto o filho quanto o marido de Valeria fizeram exames e os resultados deram negativo. "Fico brincando com ele e estou amamentando novamente. Já com minha sogra e meu marido, uso máscara e mantenho distanciamento. Hoje, não sinto mais nenhum sintoma. O olfato ainda não voltou completamente, mas já consigo distinguir cheiros mais fortes como manjericão e gengibre", diz.

COVID X AMAMENTAÇÃO

Foram longos seis dias longe do pequeno, sem amamentar. "Tenho visto diversas pessoas próximas a mim com resultado positivo do exame. Um dos casos é um enfermeiro que tem um filho que nasceu um dia depois do meu. Apesar de os estudos mostrarem que crianças tem poucos ou nenhum sintoma, o filho desse enfermeiro também contraiu e ficou diversos dias com febre, saturação baixa e tomou diversas medicações. Como a amamentação dele não é  mais exclusiva, achei que o custo benefício seria melhor. Preferi me afastar do que correr o risco de vê-lo doente. Achei que seria mais protetor o isolamento do que os benefícios que a amamentação dá nesse momento", explicou.

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Sobre manter a amamentação mesmo com o resultado positivo, o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês e Hospital Albert Einstein, ainda não há um consenso nacional a respeito da transmissão do vírus através do aleitamento materno. "Por enquanto, a última recomendação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), diz que a mãe infectada pode, sim, amamentar, desde que lave as mãos antes de pegar o bebê e use máscara", afirma. "Já há estudos que dizem ter identificado o vírus no leite materno, no entanto, mas ainda são muito poucos casos de transmissão em um universo tão grande de pacientes. Então, por enquanto, do ponto de vista brasileiro, ainda não há justificativa para a recomendação de suspender o aleiotamento materno. Paralelo a isso, justifica, sim, o reforço de medidas de cuidado e atenção higiênica para evitar uma possivel transmissão da mãe infectada para o bebê. Portanto, esses estudos não geram ainda uma mudança de posição, mas, sim, um sinal de alerta", finaliza.



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