Tuesday, October 23, 2018

Educar todos os filhos da mesma forma: sim ou não?

Segundo especialistas, as diferenças precisam ser respeitadas (Foto: Thinkstock)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eles até podem ser um a cara do outro, mas, quase sempre, as semelhanças entre irmãos se estringem apenas as aparências. Normalmente, as personalidades são completamente diferentes. No entanto, seja para evitar conflitos, comparações ou sentimento de culpa, os pais acabam tratando todos da mesma maneira.

“Eu tenho 3 filhos: Claricy, 10, Murillo, 6, e Helena, 1. Crio todos de forma igual, amo todos, dou carinho a todos, chamo a atenção de todos, boto de castigo. Quando compro roupas e calçados, compro pra todos. Presentes para todos. Se faço festa de aniversário pra um, faço pra todos! Igualdade total”, comentou a mãe Andressa Rodrigues Garcia.

“Aqui se comprar uma boneca pra uma, a outra também ganha. Não tem isso de separar não”, disse Karini Bezerra, mãe de Caila Lucia, 6, e Ana Cristina, 1 anos e 6 meses. Mas será que esse é o único caminho?

Segundo a psicológa Ana Cristina Fróes, presidente da Associação de Terapia Familiar do Rio de Janeiro (ATF-RJ), "você até pode criar todos os filhos da mesma forma, mas eles não serão iguais, pois tem o estilo de cada um. O pai e a mãe têm que ter habilidade e flexibilidade para compreende-los", explicou.

“É fundamental ouvir os filhos, e ao fazer isso, as respostas de cada um serão diferentes. Por exemplo, enquanto um prefere fazer futebol, o outro quer aula de música. Ignorar isso, mostra que você não está escutando seu filho”, comentou a psicóloga Letícia Wilke Franco Martins, especialista em Infância e Família.

Segundo as especialitas, é importante compreender as necessidades desde cedo. Sheila Ramos Pinheiro, mãe de Heloísa, 9, e Carolina, 4, disse que apesar da idade das meninas, as diferenças entre elas já são evidentes. “Helô é muito tranquila e Carol é mais decidida e inquieta. Elas têm personalidades diferentes, então a forma de educar também é diferente. Sempre com muito diálogo, porém, conforme a situação. Mas em relação a presentes, festas, roupas e passeios tudo igual”, contou.

Mas segundo a psicóloga Ana Cristina, até mesmo nos passeios, as diferenças precisam ser respeitadas. "Tem os passeios que cada um gosta, por isso, é importante fazer combinados ou encontrar algo em comum, que todos gostem", disse ela. E completou: "tem que ter diferenciação, sim, mas, por outro lado, as regras da casa precisam ser as mesmas, principalmente sobre organização e horários. Mesmo que sejam adequadas no tempo de cada um".

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CUIDADO COM OS RÓTULOS

No entanto, o alerta é para os perigos de criar rótulos. “Pode ser muito complicado, muito sofredor para um filho quando existe comparação. Isso gera muitos conflitos internos e complicações emocionais. Se essas escolhas de educar diferente for por rótulos, como um mais inteligente, um possuir mais facilidade que o outro, pode marcar uma pessoa pra sempre, podendo resultar em um adulto que acredite que realmente é menos inteligente ou difícil de lidar. Isso é muito ruim para a formação da identidade do jovem”, explicou Letícia.

“Em relação a benefícios, um filho pode ser mais independente e seguro de si. Provavelmente esse possa viajar sozinho, enquanto o segundo filho é mais inseguro e precisa que a mãe se sinta mais segura para deixa-lo ir. Não é sobre capacidade e sim necessidade”, disse. 

E assim como os rótulos, também é importante tomar cuidado com as questões de gêneros, como dar mais permissão para o filho, por ser homem, do que para a menina. "Isso não deveria existir, mas ainda é muito comum e também pode gerar bastante conflitos nas famílias", completou.

"Uma criança muito tímida ou com dificuldade de relacionamento social, por exemplo, é importante puxar um pouco mais, mas sem criticar. Nunca rotule uma criança de tímida, chata, banguceira, burra... tudo isso vai marcando e formando a personalidade dela. A auto imagem é como me vejo, mas nessa fase da infância e pré-adolescência, a pessoa se vê como as outras pessoas dizem que ela é", completou Ana Cristina.

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DIÁLOGO E ENTENDIMENTO

As especialistas explicam que uma das consequências de ignorar as diferenças é o sentimento de incompreensão. “Cada um tem que ser analisado na sua singularidade, pois você pode ser agressivo impondo algumas coisas pra aliviar a 'minha culpa de pai ou mãe'. No entanto, vai passar para o filho a sensação de que os pais não o entendem, não conseguem compreende-lo, de acordo com o que ele precisava naquele momento”explicou Letícia.

"Quando a gente não releva as diferenças, acaba comprometendo, tirando a possibilidade do filho de ter uma autonomia maior", disse Ana Cristina. "Educar igual no sentido de dar o mesmo apoio, solidariedade e conversa é importante, mas sem esquecer as diferenças. É um desafio de relacionamento, mas que começa dentro de casa: tolerar as diferenças e aceitar sem criticas", disse.

Cacau Trugillo, que tem Valentina, 4, e Raphael, 3, concorda: “cada um tem a sua personalidade, então não dá para criar igual. A atenção e o amor é o mesmo, mas as necessidades de cada um são diferentes”.

 



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