Thursday, February 28, 2019

Era digital? 98% das crianças citam alguma brincadeira que não tem a ver com eletrônicos entre as favoritas

98% das crianças citam brincadeiras analógicas entre as preferidas (Foto: Pexels)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nina, 11 anos, só ganhou seu primeiro celular aos 9 e, segundo a mãe, a fonoaudióloga e artesã Roberta Canalonga, 40, não foi nada fácil segurar a ansiedade da filha. "Enquanto ela estava lá, brincando e se divertindo com algo, as amigas olhavam para baixo, para seus celulares. É quase como sofrer bullying por não ter um celular", conta. Mas hoje, a preocupação da mãe é outra. "Tentamos incentivar as brincadeiras analógicas sempre, como piqueniques com amigos, bicicleta, trazer amigas em casa...", explica. 

Essa é uma luta diária não só da Roberta, mas de quase todos os pais. Afinal, parece que essa geração já nasceu conectada. Eles aprendem a lidar com os eletrônicos antes mesmo de deixarem as fraldas e a impressão é que são abduzidos pelas telas: enquanto estão lá não respondem, é como se estivessem fora de seus corpos...

Uma brincadeira substitui a outra?
No entanto, o novo estudo "Era uma vez...", sobre comportamento infantil, realizado pelo canal de TV a cabo Gloob em parceria com a Inesplorato e o Instituto Quantas, revela que, sim, há espaço para todos os tipos de brincadeiras na rotina das crianças. Desmistificando a ideia de que uma coisa substitui a outra, mostrando que elas podem ser complementares.

Ao todo, foram entrevistadas 646 crianças entre 6 e 9 anos de diversas classes sociais e estados do Brasil, exceto a região norte. De acordo com a pesquisa, 71% delas disseram que o tablet ou o celular é seu brinquedo preferido. Por outro lado, 98% citaram alguma brincadeira analógica entre as favoritas. Segundo o Gloob, brincadeiras analógicas são aquelas que não têm qualquer envolvimento com a tecnologia. Quando perguntadas quais elas mais gostavam de brincar, elas citaram, principalmente, bola, bonecos (heróis e princesas), skate, bicicleta, patins, carrinho, desenho e pintura, blocos de montar, massinha, slime, brincar na terra/areia, cozinha, espadas, jogos de tabuleiro e quebra-cabeça. Já entre os brinquedos digitais estavam o tablet, o smartphone e o videogame.

O estudo revelou ainda que 87% das crianças preferem brincar acompanhadas. A maioria, 73%, dá peferência a outras crianças como amigos, irmãos ou primos. No entanto, 35% disseram que brincam sozinhas. E quando surgem conflitos durante a brincadeira, 50% delas responderam que pedem a ajuda dos pais; 25% param de brincar; 25% resolvem sozinhas.

Como encontrar um ponto de equilíbrio?

A professora universitária e mãe Juliana Marinheiro, 41, disse que ainda não presenteou nenhuma das filhas com tablet. "Não dei ainda. A mais velha sempre pede, mas estou evitando ao máximo, por que sei que se liberar, a menor utilizará também", explica. Por enquanto, Isabela, 5, e Gabriela, 3, só tem contato com os eletrônicos na escola. "Elas têm uma aula de tecnologia em um tablet gigante, 2 vezes por semana. Mas em casa brincam muito de boneca, adoram desenhar, pintar e jogar jogos", conta. "Dias desses, meu marido montou mesinha e cadeira para elas terem um espaço para pintura", diz.

Isabela, 5, e Gabriela, 3, ganharam espaço para incentivar a pintua (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

Segundo a psicanalista Denise Sousa Feliciano, membro da Sociedade de Psicanálise de São Paulo e da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SP-SP), Juliana está certa. A primeira preocupação é com a exposição precoce à tecnologia. "A Sociedade Brasileira de Pediatria segue a recomendação da Academia Americana de Pediatria. A orientação é de que até os 2 anos de idade, a criança não seja exposta a nenhum tipo de mídia. Isso por que até essa faixa etária, ela está em um desenvolvimento psíquico muito intenso. Depois dessa idade, a liberação pode ser gradual", explica.

"Algumas pessoas ainda acreditam que quanto mais cedo for o contato com as telas, mais rápido será o desenvolvimento da criança. Mas esse pensamento é equivocado. A imagem de uma animal, por exemplo, jamais substituirá a interação real com aquele bicho. Se ela passar muito tempo ligada à tecnologia, vai perder toda a complexidade da interação, deixando de desenvolver todos os recursos necessários para lidar com outros seres. Isso, a longo prazo, pode levar ao isolamento", alerta. "A questão da socialização é fundamental e está totalmente nas mãos nos pais. Além disso, o brincar proporciona que a criança aprenda com o cheiro, a textura... Tudo isso vai desenvolvendo a capacidade de criar fantasias e histórias. É o que a gente chama de eixo do desenvolvimento", completa.

"Às vezes, a gente vê uma acomodação, pois os eletrônicos mantem as crianças quietas. Eles se tornaram um recurso dos pais quando precisam fazer alguma atividade. No entanto, eles precisam entender que estão formando um padrão que essas crianças vão adotar pra sempre em suas vidas", conta.

Mas é claro que, assim comos os analógicos, os eletrônicos também possuem seus benefícios. "Sim, o uso bem feito da tecnologia pode ser um coadjuvante no desenvolvimento da criança. Oferecer, com regras, uma hora por dia, é importante. Mas além do tempo, os pais também precisam estar atentos à qualidade do conteúdo que a criança está vendo", orienta.

Então, como chegar a um equilíbrio? Na casa da empresária Marília Tannuri Verni, 42, tablets e celulares são liberados somente aos finais de semana. "Durante a semana, só brincadeiras com brinquedos, jogos e etc", conta a mãe de Lorenzo, 5, e Ian, 11. Mas ela admite que nem sempre é fácil. "Na segunda-feira, ficam com cara de tédio e dizendo 'não tenho nada pra fazer', mas a partir da terça-feira a brincadeira rola solta. Só que é preciso 'muuuita' conversa e pulso firme pra não ceder as tentações", admite.

"Os pais vão ter que encontrar os seus meios. O que eles precisam entender é que não estão fazendo mal aos seus filhos. Eles não podem deixar de impor as regras por medo de frustrar a criança. Essa superproteção também é prejudicial, pois a frustração faz parte da adaptação no universo civilizatório. As crianças costumam buscar sempre o prazer e a satisfação imediata e o papel dos pais é de regrar", diz. "Educar dá trabalho e é exaustivo. O cuidado é contínuo. Nenhum pai pode deixar que seu filho cresça sozinho", finaliza.

Saiba mais sobre o estudo

O novo estudo do Gloob, tem como tema principal a “colaboração". A temática vai ao encontro da premissa do “Juntaê”, uma causa social que a Unidade Infantil da Globosat, composta pelos canais Gloob e Gloobinho, lançou em julho deste ano, e que fala sobre a consciência coletiva para crianças. O objetivo do novo estudo, batizado de “Era uma vez...”, é instrumentalizar a causa adotada pelo canal e nortear ações que inspirem a colaboração entre crianças. Nos próximos dias, a plataforma Gente disponibilizará o estudo na íntegra.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2019/02/era-digital-98-das-criancas-citam-alguma-brincadeira-que-nao-tem-ver-com-eletronicos-entre-favoritas.html

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