Entre as muitas siglas que um casal à espera de um bebê passa a escutar com frequência, existe uma que representa o dia mais esperado da gestação: DPP ou Data Prevista de parto. Como diz o nome, trata-se de uma previsão, calculada considerando que a criança nasça ao completar 40 semanas. Em uma gravidez normal, essa data pode variar de 38 a 42 semanas. E por mais que a ansiedade para ter o filho nos braços seja grande, ninguém deseja que ele chegue antes disso, já que esse é o tempo necessário para o seu desenvolvimento completo dentro do útero. Mas o nascimento antecipado é mais comum do que se imagina. Segundo um estudo coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a cada hora, nascem no Brasil 40 crianças prematuras, com menos de 37 semanas. São mais de 12% dos nascimentos no país.
Diversos estudos, de áreas diferentes, mostram que é mesmo preciso direcionar um cuidado mais atento a essas crianças. Uma pesquisa recente da Washington University School of Medicine, para dar um exemplo, sugere que as conexões cerebrais nos bebês prematuros podem ser enfraquecidas, o que aumenta o risco de problemas neurológicos e psiquiátricos.
Tudo depende do peso e da idade gestacional ao nascer – uma criança que veio ao mundo na 28ª semana é bem diferente de uma que nasceu na 36ª, embora ambas sejam prematuras. A seguir, respondemos algumas perguntas relacionadas ao dia a dia com filhos que chegaram antes da hora e colocaram a família em um cenário totalmente inesperado.
Gravidez gemelar e problemas como pressão alta, encurtamento do colo e malformação
fetal aumentam o risco de prematuridade. E, às vezes, é necessário induzir o parto por problemas de saúde da mãe ou da criança. No entanto, na maioria dos casos, isso acontece de forma espontânea: mesmo com uma gestação tranquila, a bolsa se rompe sem que a mulher perceba ou ela entra em trabalho de parto antes da hora. Aí, claro, os pais são pegos totalmente desprevenidos e se sentem inseguros.
Não necessariamente. Isso varia de acordo com a idade gestacional, o peso e as complicações ao nascer – bebês com menos de 30 semanas ou peso inferior a dois quilos, por exemplo, sempre serão internados. O pediatra é que vai indicar a necessidade, mas, em geral, eles ficam na UTI para ganhar peso, desenvolver o sistema pulmonar e aprender a sugar.
Sim, mas vale o bom senso. Como a maioria dos anticorpos é passada da mãe para o bebê no último trimestre de gestação, o prematuro nasce menos protegido. Oriente os amigos e familiares para higienizarem bem as mãos, não beijar o bebê no rosto e esperar para conhecê-lo caso estejam doentes. Também é bom não reunir muita gente, pois a maior parte das doenças é transmitida pelo contato.
É um sinal de que não teve problemas mais sérios. Os cuidados serão parecidos aos de um bebê a termo, embora sempre haja uma atenção maior com o peso. Siga as recomendações do médico. Alguns recursos como massagem terapêutica e banhos de ofurô podem confortar e auxiliar o prematuro durante a internação. Diversos estudos já comprovaram também que o método canguru, no qual o bebê tem contato pele a pele com a mãe, pode ajudar na recuperação de bebês de baixo peso e prematuros. Além de manter os pequenos aquecidos e facilitar a amamentação, estudos comprovam que a técnica comprovou, mais uma vez, que o método promove o crescimento e o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças prematuras.
Quando os médicos liberam o bebê, ele já está mais amadurecido e pronto para uma vida normal – a menos que existam sequelas graves. Em casa, casos mais complicados podem exigir atenção semi-intensiva com home care. É importante saber que o prematuro precisa descansar. Ele permaneceu em um local com barulho e luzes ligadas 24 horas, além de um berço ou incubadora com ruído de motor. Por isso, o silêncio é fundamental. Como há mais dificuldade de manter a temperatura corporal, vale agasalhar bem a criança. Certifique-se também de que ela esteja com os exames e as vacinas em dia de acordo como tempo que permaneceu na UTI. Talvez seja necessário voltar algumas vezes mais ao pediatra para acompanhar o peso. No mais, as condutas são semelhantes às de um bebê a termo: ele já pode dormir no berço, sem almofadas, travesseiros ou mantas, o quarto e a casa devem ser bem ventilados e livres de umidade e o melhor é dar o banho em um local sem correntes de ar, com sabonete neutro.
Cada prematuro receberá recomendações específicas. O mais comum, no entanto, é que, após ter atingido 2,5 quilos, ele possa passear ao ar livre, se o clima permitir. Antes das primeiras vacinas, evite saídas para ambientes aglomerados e fechados, como shoppings, supermercados ou festas de aniversário em buffets.
A Sociedade Brasileira de Imunizações e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam um calendário com algumas adaptações para bebês nascidos antes de 37 semanas, já que estão mais suscetíveis a infecções. O tipo, as datas e o número de doses dependem basicamente do peso ao nascimento e de quão prematuro ele for. Os pais devem ficar atentos às recomendações do pediatra e seguir o calendário à risca. Familiares próximos, funcionários de casa e irmãos também precisam manter as vacinas em dia, para evitar transmissão de doenças contagiosas. Vale lembrar que, na UTI, o bebê não pode receber vacina de vírus vivo, como a rotavírus e a pólio oral. A BCG também deverá ser aplicada quando ele tiver no mínimo dois quilos.
Ainda no hospital, o bebê prematuro deve fazer alguns exames bem conhecidos e de grande importância para todo recém-nascido, como os testes do pezinho, do olhinho e da orelhinha. Muitas vezes, o pediatra recomenda as versões mais abrangentes e completas, como o teste do pezinho máster ou super. O teste do olhinho, por exemplo, pode detectar catarata e glaucoma congênitos ou retinoblastoma, mas não a retinopatia da prematuridade, uma das principais causas de cegueira infantil. No caso dos prematuros, um exame mais específico, o mapeamento da retina, deve ser realizado.
Quanto menor a idade gestacional e o peso, e quanto maior o tempo de permanência na UTI neonatal, provavelmente mais profissionais estarão envolvidos no cuidado pós-alta. Normalmente, essa equipe multidisciplinar é composta por fisioterapeuta, neurologista, oftalmologista, fonoaudiólogo, cardiologista e pneumologista. Mas é o pediatra do bebê que vai orientar sobre a necessidade de acompanhamento com esses especialistas.
Na UTI, o bebê muito pequeno não é alimentado via oral. Usa-se sonda pela boca ou nariz e, dependendo de suas condições, pode demorar para que ele aprenda a sugar – esse reflexo costuma se firmar com 34 semanas. É essencial que a mulher seja orientada a tirar o leite para alimentar seu filho, mesmo enquanto ele está com a sonda. À medida que o bebê cresce, pode começar a tentar sugar no seio. Não é fácil, mas extremamente importante. Não se esqueça que eles costumam ser mais sonolentos e precisam de estímulo para acordar e mamar. E não desista!
Ele é um indicador de que a alimentação está adequada e o crescimento permanece dentro do esperado. Para quem nasceu antes da hora, engordar pode ser desafiador. Além de o sistema gastrointestinal ter menor capacidade de absorção e ser mais vulnerável à ação de agentes infecciosos, alguns prematuros não conseguem sugar. Isso atrapalha o aleitamento e, consequentemente, o ganho de peso. Mas outros fatores também podem ser avaliados, como estatura, qualidade do sono e desenvolvimento motor.
A idade contada a partir da data de nascimento, a cronológica, é a usada para o calendário vacinal. Já a corrigida, que é calculada descontando a quantidade de semanas que faltavam para completar 40, é a que vale para a avaliação do peso, do desenvolvimento neuropsicomotor e do perímetro cefálico (isso até mais ou menos 2 anos, de acordo com o caso).
Não há como prever. Geralmente, há um atraso no crescimento nas primeiras semanas e as medidas podem se igualar às de um bebê nascido a termo nos primeiros meses de vida. Mas, quanto antes e menor a criança tiver nascido, mais difícil tende a ser a recuperação. A maioria dos prematuros de muito baixo peso, ou seja, menos de 1,5 quilo, ainda terá atraso de crescimento quando atingir as 40 semanas de idade corrigida, e só vai recuperar por volta dos 3 anos.
Somente nos primeiros meses, quando ainda está em fase de recuperação nutricional. E, mais uma vez, isso vai depender das condições de nascimento e de como passou o período de internamento na UTI.
Na grande maioria das vezes, não. Claro que há mais riscos de contato com vírus, por isso, é importante uma alimentação e uma higiene adequadas. Se a criança apresenta atrasos significativos, pode haver necessidade de avaliar o desenvolvimento neurocognitivo antes de decidir sobre o ingresso na escola. O papel dos pais, do pediatra e do psicopedagogo é fundamental no processo de adaptação.
Durante o tempo de internação, eles vivem em um ambiente de muito estresse e estímulo: luz e barulho, além de pessoas mexendo neles o tempo todo. Isso pode causar uma sensibilidade maior e até mesmo hiperatividade. Para minimizar os impactos, as UTIs neonatais procuram orientar os funcionários a falarem mais baixo e a fazerem horários de silêncio. As crianças ficam alguns períodos na penumbra somente com a presença dos pais. Em casa, a adaptação costuma ser mais difícil. Elas pode se assustar e demorar um pouco mais para começar a diferenciar dia e noite. Com o tempo, isso vai melhorando.
Fontes consultadas: Jofre Cabral, diretor clínico da UTI Neonatal da Perinatal Laranjeiras, no Rio de Janeiro (RJ); Renato Soibelmann Procianoy, presidente do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Renato Souza, obstetra de Alto Risco e doutorando em Tocoginecologia pela Unicamp (área de Prematuridade); Rosângela Garbers, chefe da UTI Neonatal da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em
Curitiba (PR).
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