Tuesday, November 17, 2020

16 respostas sobre os cuidados necessários com o bebê prematuro

Pezinho de prematuro (Foto: Thinkstock)

Entre as muitas siglas que um casal à espera de um bebê passa a escutar com frequência, existe uma que representa o dia mais esperado da gestação: DPP ou Data Prevista de parto. Como diz o nome, trata-se de uma previsão, calculada considerando que a criança nasça ao completar 40 semanas. Em uma gravidez normal, essa data pode variar de 38 a 42 semanas. E por mais que a ansiedade para ter o filho nos braços seja grande, ninguém deseja que ele chegue antes disso, já que esse é o tempo necessário para o seu desenvolvimento completo dentro do útero. Mas o nascimento antecipado é mais comum do que se imagina. Segundo um estudo coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a cada hora, nascem no Brasil 40 crianças prematuras, com menos de 37 semanas. São mais de 12% dos nascimentos no país.

Diversos estudos, de áreas diferentes, mostram que é mesmo preciso direcionar um cuidado mais atento a essas crianças. Uma pesquisa recente da Washington University School of Medicine, para dar um exemplo, sugere que as conexões cerebrais nos bebês prematuros podem ser enfraquecidas, o que aumenta o risco de problemas neurológicos e psiquiátricos.

Tudo depende do peso e da idade gestacional ao nascer – uma criança que veio ao mundo na 28ª semana é bem diferente de uma que nasceu na 36ª, embora ambas sejam prematuras. A seguir, respondemos algumas perguntas relacionadas ao dia a dia com filhos que chegaram antes da hora e colocaram a família em um cenário totalmente inesperado.

1) Há algum fator que aumenta o risco de prematuridade?

Gravidez gemelar e problemas como pressão alta, encurtamento do colo e malformação
fetal aumentam o risco de prematuridade. E, às vezes, é necessário induzir o parto por problemas de saúde da mãe ou da criança. No entanto, na maioria dos casos, isso acontece de forma espontânea: mesmo com uma gestação tranquila, a bolsa se rompe sem que a mulher perceba ou ela entra em trabalho de parto antes da hora. Aí, claro, os pais são pegos totalmente desprevenidos e se sentem inseguros.

2) Todo prematuro deve passar pela UTI neonatal?

 

Não necessariamente. Isso varia de acordo com a idade gestacional, o peso e as complicações ao nascer – bebês com menos de 30 semanas ou peso inferior a dois quilos, por exemplo, sempre serão internados. O pediatra é que vai indicar a necessidade, mas, em geral, eles ficam na UTI para ganhar peso, desenvolver o sistema pulmonar e aprender a sugar.

3) Enquanto internado, ele pode receber visitas?


Sim, mas vale o bom senso. Como a maioria dos anticorpos é passada da mãe para o bebê no último trimestre de gestação, o prematuro nasce menos protegido. Oriente os amigos e familiares para higienizarem bem as mãos, não beijar o bebê no rosto e esperar para conhecê-lo caso estejam doentes. Também é bom não reunir muita gente, pois a maior parte das doenças é transmitida pelo contato.

4) E se o bebê não precisou ficar internado, há algum cuidado especial?

É um sinal de que não teve problemas mais sérios. Os cuidados serão parecidos aos de um bebê a termo, embora sempre haja uma atenção maior com o peso. Siga as recomendações do médico. Alguns recursos como massagem terapêutica e banhos de ofurô podem confortar e auxiliar o prematuro durante a internação. Diversos estudos já comprovaram também que o método canguru, no qual o bebê tem contato pele a pele com a mãe, pode ajudar na recuperação de bebês de baixo peso e prematuros. Além de manter os pequenos aquecidos e facilitar a amamentação, estudos comprovam que a técnica comprovou, mais uma vez, que o método promove o crescimento e o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças prematuras.

 

5) Quais cuidados devo ter em casa após a alta?

Quando os médicos liberam o bebê, ele já está mais amadurecido e pronto para uma vida normal – a menos que existam sequelas graves. Em casa, casos mais complicados podem exigir atenção semi-intensiva com home care. É importante saber que o prematuro precisa descansar. Ele permaneceu em um local com barulho e luzes ligadas 24 horas, além de um berço ou incubadora com ruído de motor. Por isso, o silêncio é fundamental. Como há mais dificuldade de manter a temperatura corporal, vale agasalhar bem a criança. Certifique-se também de que ela esteja com os exames e as vacinas em dia de acordo como tempo que permaneceu na UTI. Talvez seja necessário voltar algumas vezes mais ao pediatra para acompanhar o peso. No mais, as condutas são semelhantes às de um bebê a termo: ele já pode dormir no berço, sem almofadas, travesseiros ou mantas, o quarto e a casa devem ser bem ventilados e livres de umidade e o melhor é dar o banho em um local sem correntes de ar, com sabonete neutro.

6) Com quanto tempo meu filho pode fazer passeios fora de casa?

Cada prematuro receberá recomendações específicas. O mais comum, no entanto, é que, após ter atingido 2,5 quilos, ele possa passear ao ar livre, se o clima permitir. Antes das primeiras vacinas, evite saídas para ambientes aglomerados e fechados, como shoppings, supermercados ou festas de aniversário em buffets.

7) O calendário de vacinação é o mesmo?

 

A Sociedade Brasileira de Imunizações e a Sociedade Brasileira de Pediatria  recomendam um calendário com algumas adaptações para bebês nascidos antes de 37 semanas, já que estão mais suscetíveis a infecções. O tipo, as datas e o número de doses dependem basicamente do peso ao nascimento e de quão prematuro ele for. Os pais devem ficar atentos às recomendações do pediatra e seguir o calendário à risca. Familiares próximos, funcionários de casa e irmãos também precisam manter as vacinas em dia, para evitar transmissão de doenças contagiosas. Vale lembrar que, na UTI, o bebê não pode receber vacina de vírus vivo, como a rotavírus e a pólio oral. A BCG também deverá ser aplicada quando ele tiver no mínimo dois quilos.

8) Existem exames específicos para os prematuros?

Ainda no hospital, o bebê prematuro deve fazer alguns exames bem conhecidos e de grande importância para todo recém-nascido, como os testes do pezinho, do olhinho e da orelhinha. Muitas vezes, o pediatra recomenda as versões mais abrangentes e completas, como o teste do pezinho máster ou super. O teste do olhinho, por exemplo, pode detectar catarata e glaucoma congênitos ou retinoblastoma, mas não a retinopatia da prematuridade, uma das principais causas de cegueira infantil. No caso dos prematuros, um exame mais específico, o mapeamento da retina, deve ser realizado.

9) Precisa ter acompanhamento com médicos específicos?

Quanto menor a idade gestacional e o peso, e quanto maior o tempo de permanência na UTI neonatal, provavelmente mais profissionais estarão envolvidos no cuidado pós-alta. Normalmente, essa equipe multidisciplinar é composta por fisioterapeuta, neurologista, oftalmologista, fonoaudiólogo, cardiologista e pneumologista. Mas é o pediatra do bebê que vai orientar sobre a necessidade de acompanhamento com esses especialistas.

10) Como fica a amamentação?

Na UTI, o bebê muito pequeno não é alimentado via oral. Usa-se sonda pela boca ou nariz e, dependendo de suas condições, pode demorar para que ele aprenda a sugar – esse reflexo costuma se firmar com 34 semanas. É essencial que a mulher seja orientada a tirar o leite para alimentar seu filho, mesmo enquanto ele está com a sonda. À medida que o bebê cresce, pode começar a tentar sugar no seio. Não é fácil, mas extremamente importante. Não se esqueça que eles costumam ser mais sonolentos e precisam de estímulo para acordar e mamar. E não desista!

11) Por que há tanta preocupação com peso?

Ele é um indicador de que a alimentação está adequada e o crescimento permanece dentro do esperado. Para quem nasceu antes da hora, engordar pode ser desafiador. Além de o sistema gastrointestinal ter menor capacidade de absorção e ser mais vulnerável à ação de agentes infecciosos, alguns prematuros não conseguem sugar. Isso atrapalha o aleitamento e, consequentemente, o ganho de peso. Mas outros fatores também podem ser avaliados, como estatura, qualidade do sono e desenvolvimento motor.

12) Como se calcula a idade de um prematuro?

A idade contada a partir da data de nascimento, a cronológica, é a usada para o calendário vacinal. Já a corrigida, que é calculada descontando a quantidade de semanas que faltavam para completar 40, é a que vale para a avaliação do peso, do desenvolvimento neuropsicomotor e do perímetro cefálico (isso até mais ou menos 2 anos, de acordo com o caso).

13) Quando ele deve se equiparar a um bebê nascido a termo?

Não há como prever. Geralmente, há um atraso no crescimento nas primeiras semanas e as medidas podem se igualar às de um bebê nascido a termo nos primeiros meses de vida. Mas, quanto antes e menor a criança tiver nascido, mais difícil tende a ser a recuperação. A maioria dos prematuros de muito baixo peso, ou seja, menos de 1,5 quilo, ainda terá atraso de crescimento quando atingir as 40 semanas de idade corrigida, e só vai recuperar por volta dos 3 anos.

14) Se ele ficar doente ou pegar um resfriado, é mais preocupante do que com bebês nascidos a termo?

Somente nos primeiros meses, quando ainda está em fase de recuperação nutricional. E, mais uma vez, isso vai depender das condições de nascimento e de como passou o período de internamento na UTI.

 

15) Precisa esperar mais tempo que as outras crianças para entrar na escola?

Na grande maioria das vezes, não. Claro que há mais riscos de contato com vírus, por isso, é importante uma alimentação e uma higiene adequadas. Se a criança apresenta atrasos significativos, pode haver necessidade de avaliar o desenvolvimento neurocognitivo antes de decidir sobre o ingresso na escola. O papel dos pais, do pediatra e do psicopedagogo é fundamental no processo de adaptação.

16) É verdade que os bebês prematuros se assustam com mais facilidade?

Durante o tempo de internação, eles vivem em um ambiente de muito estresse e estímulo: luz e barulho, além de pessoas mexendo neles o tempo todo. Isso pode causar uma sensibilidade maior e até mesmo hiperatividade. Para minimizar os impactos, as UTIs neonatais procuram orientar os funcionários a falarem mais baixo e a fazerem horários de silêncio. As crianças ficam alguns períodos na penumbra somente com a presença dos pais. Em casa, a adaptação costuma ser mais difícil. Elas pode se assustar e demorar um pouco mais para começar a diferenciar dia e noite. Com o tempo, isso vai melhorando.

Fontes consultadas: Jofre Cabral, diretor clínico da UTI Neonatal da Perinatal Laranjeiras, no Rio de Janeiro (RJ); Renato Soibelmann Procianoy, presidente do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Renato Souza, obstetra de Alto Risco e doutorando em Tocoginecologia pela Unicamp (área de Prematuridade); Rosângela Garbers, chefe da UTI Neonatal da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em
Curitiba (PR).

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Quem-ama-vacina/noticia/2020/11/16-respostas-sobre-os-cuidados-necessarios-com-o-bebe-prematuro.html

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