Um artigo publicado no início do mês por um pesquisador da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, defende que os hormônios liberados nos organismos da mãe e do bebê durante o parto podem interferir no desenvolvimento da criança, inclusive a longo prazo.
Segundo William Kenkel, a produção de hormônios do estresse - que existem para estimular o trabalho de parto e para ajudar o bebê na adaptação da vida fora do útero - tendem a ser interrompidos durante as cesáreas de emergência e, no caso de uma cesárea agendada, a produção pode nem ser iniciada.
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Mas quais os efeitos da ausência desses hormônios?
O pesquisador explica que hormônios que atuam no início da vida são capazes de atuar em uma programação de desenvolvimento, o que significa que podem causar mudanças permanentes.
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Ainda de acordo com o artigo, os hormônios liberados durante um trabalho de parto podem ser benéficos em mais de uma função. A ocitocina, por exemplo, conhecida como hormônio do amor, ajuda a mãe a se relacionar com o bebê, além de regular o apetite, a temperatura e a resposta ao estresse do recém-nascido. No caso de uma cesárea, ou de partos com intervenções obstétricas, a sinalização da ocitocina é afetada.
"Esses aspectos aparentemente desconectados da vida compartilham conexões usando o mesmo hormônio; e quando intervenções médicas afetam esses hormônios, isso pode causar resultados surpreendentes", afirmou Kenkel, professor assistente de ciências psicológicas e do cérebro na Universidade de Delaware.
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Pesquisas anteriores já tinham identificado possíveis ligações entre a cesárea e resultados negativos para a saúde das crianças, incluindo obesidade, asma e autismo. O professor estuda se isso pode estar relacionado com a interrupção hormonal que acontece com a cesárea.
O professor cita ainda a necessidade de estudos sobre possíveis intervenções que poderiam ser aplicadas em cesáreas para garantir um desenvolvimento que se assemelhe mais aos resultados associados ao parto natural. Uma prática semelhante já é comum em bebês prematuros, que geralmente recebem cortisol para ajudar a amadurecer os pulmões.
"Podemos investigar se fazer uma intervenção semelhante faz sentido na cesariana para qualquer outro hormônio, para que o corpo comece com o pé direito", afirmou.
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