Desde que se tornou mãe de Bento, há 7 anos, a atriz Juliana Silveira vê seu mundo girar em torno do bem-estar e das necessidades do menino. Ela, que é casada com o empresário João Vergara, que é pai do garoto, conta que também se tornou uma pessoa mais flexível e generosa com a chegada da maternidade. Em entrevista exclusiva à CRESCER, Juliana reconhece ainda que educar é negociar o tempo inteiro. “Com a criança, o pai, a escola, as mães da escola...”
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Na televisão desde 1983, quando iniciou como Angelicat no programa “Casa da Angélica”, ela não renovou o contrato com a Record, após 11 anos na casa, e lança no próximo mês um aplicativo para falar sobre maternidade e beleza, entre outros assuntos que fazem parte de sua vida. Confira a entrevista completa:
A maternidade sempre foi um desejo seu?
Eu queria muito ter filhos só que eu tinha acabado de conhecer o João [marido da atriz]. Oito anos já se passaram e quando eu converso com o meu marido sobre isso, a gente consegue entender que foi uma decisão acertada, baseada na força da intuição, do desejo de ter um filho e na confiança de que a gente conseguiria fazer dar certo. Existia amor, os mesmos objetivos e queríamos constituir uma família. Eu já tinha uma estabilidade financeira e ele também. Apostamos e a resposta veio rápida: dois meses depois de começarmos o relacionamento eu estava grávida.
O que mudou na sua vida e rotina desde que o Bento nasceu?
Tudo mudou. Minha rotina de sono, de alimentação, de colocar o trabalho em primeiro lugar. Bento já chegou me mostrando que eu não posso ter o controle das coisas e o que os meus desejos e as minhas necessidades já não estão em primeiro plano. E isso é libertador. O meu mundo agora gira em torno do bem-estar e das necessidades dele e da nossa família. Bento me ensinou a ser mais flexível, generosa, amorosa e a negociar melhor. Porque educar é negociar o tempo inteiro com a criança, com o pai, com a escola, com as mães da escola e todo um universo novo que entra na sua vida após a chegada do bebê. Com ele eu aprendi que eu sou capaz de cuidar e de amar alguém incondicionalmente. Eu brinco com ele: "mesmo quando você não me obedece na hora ou faz uma pirraça, eu continuo te amando intensamente. Você não acha isso muito louco?" E ele sempre ri e diz que também me ama mesmo quando estou brigando com ele. Esse tipo de relação e de aceitação do outro com suas qualidades e defeitos eu conheci depois que o Bento chegou, e a qualidade desse amor reverbera no meu casamento também. Sou muito melhor como esposa depois da maternidade.
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Como foram os primeiros meses com o Bento? Você teve baby blues?
Eu tive 15 dias de baby blues. Foi na volta da maternidade e coincidiu com o início das cólicas do Bento. Ele começava a chorar no final de tarde/início da noite. Era o horário que o João chegava em casa do trabalho. Eu entregava o Bento para o pai e enquanto ele chorava em seu colo na sala eu me trancava no lavabo para chorar também. Estávamos em fusão emocional, e ser mãe me transformou em uma mulher emotiva, sensível e muito delicada. Eu também precisava de colo e de cuidados. Me sentia renascendo junto com o Bento, com todas as dores, inseguranças, amores intensos e alegrias do processo. Queria protegê-lo e amá-lo, mas estava cansada da cesárea, preocupada com o leite e a amamentação, com o cordão umbilical. Me cobrava para que tudo desse certo. Sofri até entender que eu precisava relaxar e delegar um pouco. Todas nós precisamos de ajuda e de apoio neste momento. A forma como esta rede de apoio se estabelece não importa. Cada mãe vai encontrar o melhor formato que se encaixa na sua vida. Mas acho extremamente necessário esse olhar de alguém que pode ser sua mãe, sua sogra ou melhor amiga. Pode ser um babá ou enfermeira contratada para a função. Mas os 3 primeiros meses são intensos emocionalmente e fisiologicamente.
Como é conciliar carreira e maternidade para você?
Eu não passei muito por essa transição no primeiro ano do Bento porque eu estava em casa. Tive sorte nesse sentido. Quando fui fazer a primeira novela depois do nascimento do Bento, ele já estava andando e eu consegui vê-lo dando os primeiros passinhos, fui eu que dei a primeira papinha, a primeira refeição, vi o primeiro dente nascer, eu estava em casa participando de cada fase. Bento já estava falando e eu me senti mais segura para contratar uma babá. Passei por todo o processo de adaptação... Tive ciúmes da babá, depois fiquei agradecida e chorei de saudades do meu bebê. Me trancava no banheiro entre uma cena e outra quando a saudade apertava ou quando uma gravação atrasava e eu precisava ficar mais de 12 horas seguidas fora. Existiram noites em que eu cheguei e ele já estava dormindo... Mas a vida é assim. Milhares de mulheres passam por este momento e todas nos adaptamos e sobrevivemos. Quando olho para trás e vejo a reação do meu filho todo orgulhoso ao assistir a uma cena minha, tenho certeza de que fiz a escolha certa ao voltar para o meu trabalho. Minha vida profissional durante muitos anos foi a minha prioridade. Depois do Bento, ela não ocupa mais o primeiro lugar, mas é uma parte fundamental para a minha existência plena e feliz. Gosto de trabalhar, de ter novos desafios e de ser independente financeiramente. Não saberia fazer de outro jeito.
Você acha que ter dedicado os primeiros meses da sua vida exclusivamente ao bebê a ajudou com as descobertas da maternidade?
Eu tive essa experiência e sei que tive sorte. Mas acredito que é possível repensar as normas da licença-maternidade. Acho que seis meses em casa seria o ideal. Cada caso é um caso, cada família tem um acordo nesse sentido e cada filho tem uma necessidade diferente. Você passa a vida inteira elaborando o poder transformador da maternidade e cada fase do seu filho será um novo recomeço. É como uma montanha-russa que não tem fim, cheia de emoção, aventura, intensidade e altos e baixos.
Você tem ajuda da família nos cuidados com o Bento?
Eu tenho sim. Conto muito com a ajuda da minha sogra, que mora aqui no Rio de Janeiro. Meus pais moram em Santos (SP) e os dois trabalham, mas eles sempre vêm visitar. Aqui em casa funciona da seguinte maneira: temos uma funcionária maravilhosa que fica durante a semana. Nos finais de semana, eu tenho uma folguista para quando precisamos sair ou temos algum compromisso profissional. Se ela não tem disponibilidade, contamos com a minha sogra para ficar com o Bento. Sempre deu certo assim e quando surge algum imprevisto, a gente se vira, se adapta.
João é um pai presente? Como vocês dividem as tarefas da casa e com o Bento?
João é um pai consciente do seu papel e da importância dele. Ele não me ajuda nas tarefas da casa ou com o Bento. Ele faz a sua parte de uma forma amorosa e tranquila. Ele é virginiano e ama organizar as coisas. Aqui em casa, as compras do supermercado ficam a cargo dele e as idas ao futebol do Bento também. Vamos nos dividindo assim. Faço o dever com o Bento, dou o banho, mas não existe uma regra em relação ao papel de cada um. Somos um time e todos nós podemos desempenhar as funções necessárias na criação do Bento e na manutenção da casa. Nunca existiu uma conversa em que as funções foram distribuídas. As coisas acontecem organicamente, conforme as necessidades da semana. Quando o João passa 15 dias fora trabalhando, eu faço tudo e vice versa. E seguimos assim.
O que você mais aprendeu com o Bento nesses anos de vida dele?
Bento me ensinou e me mostrou que a minha capacidade de amar estava aqui dentro de mim e ela é infinita. Me ensinou a ser mais paciente e gentil, com ele e comigo. Me ensinou a ser feliz com as coisas e momentos simples. Preencheu a minha vida de cor e de alegria.
Quais são as coisas que você não abre mão de fazer com o Bento?
Eu amo viajar com ele. Adoro ver os seus olhos curiosos desbravando um lugar novo. Amo sair para caminhar e tomar um sorvete ou comer um chocolate. Gosto de brincar de jogos, de conversar. Ficar deitada no sofá, com ele no meu colo conversando mesmo. Sobre tudo: a vida, sobre os cachorros que ele ama que nem eu, sobre os amigos da escola, sobre os sentimentos. Bento é bom de papo e adora “filosofar” (risos). Eu ganhei um grande amigo e companheiro de vida.
Você pretende ter mais filhos?
Quero e essa é mais uma questão que precisa ser resolvida em um curto espaço de tempo. Minha médica diz que eu tenho uma janela de dois anos para tentar. Nossa família não está completa. Eu e João queremos mais um bebê. Dois filhos e encerramos esse assunto (risos). Até que o destino ou os nossos desejos nos provem que estamos enganados. Afinal, como Bento me ensinou: não temos o controle de nada, mas temos coragem de sobra.
Você não quis renovar o contrato depois de 11 anos na Record. O que motivou essa decisão?
Vontade de ter novas experiências. Bento me inspira e me dá coragem para fazer essas coisas, sabia? Achei que a maternidade ia me deixar medrosa, mas foi o contrário. Vejo ele experimentando a vida sem limitações e me dá vontade de fazer a mesma coisa. As portas estão abertas e posso voltar se me oferecerem uma personagem incrível. Deixei amigos e sou grata por toda história que eu construí nesses 11 anos. Fui muito feliz na Record e amadureci como profissional e artista.
O que você está fazendo no momento?
Estou lançando um aplicativo. Desde 2015 que eu tento fazer algo específico para a internet, mas só agora estou começando a entender melhor qual o caminho que eu queria trilhar. Vamos lançar na segunda quinzena de novembro. Vou poder exercitar o meu lado comunicadora, me aproximar das pessoas e interagir com o público. Meu plano A continua sendo a carreira de atriz.
E quais são os planos para o futuro?
Acabei de gravar uma participação em um série produzida pela atriz Paloma Duarte e dirigida pelo Paulo Fontenelle. É uma comédia, que se chama "Cinema Café". A série tem previsão de estreia em 2019 no canal fechado Cine Brasil TV. Tenho a geração de conteúdo para o aplicativo que vamos lançar em novembro. Já tenho uns dois meses de conteúdo pré-aprovado, mas vamos sentir o que agrada mais e vamos criar novos quadros conforme a resposta do assinante. Vai ser um ano de muito aprendizado, cheio de desafios, do jeito que eu estava procurando.
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