“Agora eu era a mãe, era a rainha e era também a bruxa. E pela minha lei, filho meu será sempre feliz".
É na utopia desse faz de conta, tão doce quanto doído, que venho me fazendo mãe, conduzindo os seres a mim destinados como filhos e me reconhecendo como gente, como mulher, como filha.
Eu venho até aqui um tanto para me ouvir, para registrar as vias que sigo, os meios que eu arrumo para norteá-los. Nem sempre comigo na dianteira ensinando. E com o desejo de, quem sabe um dia, eles possam tomar para si o que aprendem na pele sobre o percurso que transito para ir me compondo mãe.
Mesmo sabendo que não nasci para esse posto. Que, francamente, esse nunca foi o sonho da minha vida. Que, até hoje, não aprendi a cozinhar para alimentá-los e que não abro mão da babá pairando entre nós.
Arrisco dizer que eles desconfiam de que não sou a mãe-maravilha, ou mãe super-alguma-coisa-muito-boa que aparece vez ou outra nos desenhos que Francisca estampa ou no ideal imaginário comum lá no portão da pré-escola.
Me sinto culpada escolha não, outra sim. Conheci sofrendo alguns preceitos básicos da maternidade. E ainda choro sozinha de medo de não dar conta do mundo versus minhas crias.
Confesso que imprimo, às vezes, o papel de uma maluca descompensada no subconsciente deles. E me envergonho. E viro monstro, bruxa má, e eles não vão gostar nunca mais de mim, só do papai, segundo suas próprias palavras.
E me envergonho.
E me envergonho outras tantas vezes.
É, eu não nasci pra ser mãe… Mas ter me tornado uma me faz renascer todos os dias em fé, capacitada a olhar com amor para o caminho onde me deixei para trás, cheia de crenças para voltar de novo e de novo e de novo para a procura de um reencontro comigo.
E ser um ser possível de existir pela existência do outro, inteiramente pronto para meditar em contemplação de tal ser num mantra infinito de proteção. E me revelar natureza primitiva, uma coisa meio bicho leão.
E ainda assim carregar o poder da mágica em meus beijos.
São eles que me armam da potência que peleja contra a mediocridade, que tanto me intimida. E é bem ali que meu ego se curva. Francisca veio com toda a sua doçura para ser minha mentora e abriu caminho para o nosso Zeca.
Esse trajeto é nosso e eu venho me achando em cada curva onde eles me acompanham.
Que eles sejam sempre pacientes comigo.
Porque, daquilo que eu me tornei, "a mãe" é o que eu mais sou feliz em ser.
MARIANA DU BOIS é atriz, mãe de Francisca, 6 anos, e Zeca, 2, e escreve sobre maternidade. "Agora eu era a mãe, era a rainha e era também a bruxa.E pela minha lei, filho meu será sempre feliz"
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