Comer vai além de nutrir, é um ato social. Quem é que não curte sentar com a família e os amigos com um bom papo e uma comida gostosa? Segundo uma pesquisa realizada pela CRESCER, 53% das crianças fazem as refeições na sala de jantar, 61% à mesa – entre as que frequentam a escola, a prática é mais frequente – e, o que é melhor, 90% têm o hábito de comer com os pais.
Mas para que o momento seja aproveitado ao máximo, alimentando o corpo e a mente, digamos assim, é preciso estar presente de verdade. No nosso estudo, 17% das crianças usam o tablet, o computador ou o celular na hora das refeições. No entanto, os gadgets deveriam ficar longe da mesa. “Com eles, a criança se alimenta sem prazer, respeito e atenção. Vai comer mais ou comer menos – e pode ser candidata, futuramente, à obesidade ou à carência de nutrientes”, alerta o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, professor associado da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e coordenador do Centro de Nutrologia e Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi, do Sabará Hospital Infantil (SP), uma das maiores autoridades em nutrição infantil do país. A seguir, ele comenta os principais aspectos comportamentais das crianças – e da família – ao redor da mesa.
O lugar e a companhia durante a refeição importam?
Sim. Quando os pais têm maior controle e dão o exemplo, a criança tende a fazer a refeição no lugar adequado, que é a mesa. Conforme crescem e ganham autonomia, querem fazer a refeição onde bem entenderem. A mesa tem a ver com disciplina e convivência familiar. Tem de ter cadeira estável e com altura adequada para cada idade, para que, com as costas apoiadas e a postura correta, a criança consiga ter o prato ao alcance das mãos, e coma com firmeza e equilíbrio. Mas isso depende da disponibilidade dos pais. No almoço, eles podem não estar junto, por causa do trabalho. Por isso, recomendamos que pelo menos algumas refeições semanais sejam feitas com a família, não importa quantos membros estejam presentes. Isso vai ajudar a formar melhores hábitos.
A pesquisa da CRESCER observou que, em algumas situações, a escola pode incentivar bons hábitos à mesa, como comer no lugar certo. O senhor concorda?
A escola é um bom exemplo de limite, de fato. Ali ninguém come correndo, de pé ou no corredor. Existe um refeitório e elas aprendem o que é adequado – e, sim, ver os colegas ajuda. Mas o primeiro exemplo deve começar na família.
As crianças fazem todas as refeições regularmente, incluindo finais de semana, em horários regulares, conforme o estudo. Isso é um bom sinal?
Sim, todas as refeições são igualmente importantes, pois cada uma delas tem sua função. O ideal é que a criança faça três principais e duas intermediárias. O que chamamos de lanche é também uma refeição, e não um “belisco”. Isso significa que não dá para comer qualquer coisa [em casa ou na escola], e o que vai diferenciar um de outro é o planejamento.
Já a preocupação de comer a cada três horas diminui à medida que elas crescem, em nossa pesquisa. O cuidado é essencial?
Depende. Crianças menores precisam ter horários mais regulares; isso cria disciplina e facilita o controle dos pais. Já as mais velhas têm mais variação de horário por conta das atividades extracurriculares. É preciso ter um padrão de comportamento, porém com flexibilidade. O mesmo vale para a regra de comer a cada três horas. O bebê geralmente come com esse intervalo, mas isso varia de criança para criança. O importante é prestar atenção no filho para saber as necessidades dele.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Alimentacao/noticia/2018/10/90-das-criancas-tem-o-habito-de-comer-junto-com-os-pais.html