Monday, December 28, 2020

Alexandre Coimbra: "Eis que bate a nossa porta a segunda onda, este caldo ainda maior porque nos encontra cansados de guerra, combalidos pelo ano dificílimo"

Mãe colocando máscara em criança (Foto: Getty Images)

 

Pela primeira vez, o reveillón não parece se aproximar munido da tradicional esperança revestida de champanhes borbulhantes. Difícil imaginar um ano realmente novo, se cada dia deste 2020 parece querer continuar se repetindo depois que dezembro terminar. O vírus não dá trégua, em que pese tanta gente que consiga construir as negações contrárias. Chegamos ao final do ano acompanhados do amargor dos lutos em série, das dificuldades de convivência levadas à enésima potência, da dureza das crises financeiras. Mas também da tristeza e raiva das crianças, adolescentes, mães, pais e professoras do ensino remoto - toda essa gente que suportou bravamente um contexto árido de adaptações múltiplas, preocupações básicas e dúvidas amplas sobre as eficácias dos métodos. Os home offices superlotando as expectativas de metas e pressionando as mentes e corações desesperados pelo retorno da vida que existia e que talvez não retorne jamais.

 

E eis que bate à nossa porta da casa quarentenada a segunda onda, este caldo ainda maior, porque nos encontra cansados de guerra, combalidos pelo ano dificílimo. Ela chega, impassível aos nossos pedidos de clemência e compaixão. O que podemos fazer diante deste ano que se aproxima como o desaguar de uma onda tsunami, lavando os horizontes melhores que começávamos a desenhar como alento para tudo o que já vivemos até aqui?

Primeiro, as mãos dadas. Não há enfrentamento possível desta tragédia coletiva se não for coletivamente. Sigamos juntos. Resgatemos a possibilidade de nos encontrarmos em pequenas esquinas dos dias. Depois, pense comigo: você não chega ao final do ano da mesma forma que recebeu a notícia da chegada da pandemia, em meados de março. Quem você era? O que você precisou mudar no seu funcionamento? Pense em cada milímetro da sua capacidade adaptativa. Tudo o que você conseguiu fazer diferente. Enxergue com honestidade e humanidade tudo o que você conseguiu viver, sem florear nem tampouco ser o carrasco da sua desesperança. Encare também tudo o que se deteriorou em você. Repense sua vida, seus acordos familiares e profissionais, sua saúde integral. O tempo é de se renovar de dentro para fora. 2021 chega com seus estranhamentos já previsíveis, e como já conhecemos em alguma dimensão a esquisitice desta época, podemos fazer acontecer mudanças em nós para que a vida seja mais palatável. Hoje é um novo dia de um tempo que ainda não terminou, mas que pode ter um belo reinício dentro de cada um de nós.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Alexandre-Coimbra-Amaral-A-humanidade-em-nos/noticia/2020/12/alexandre-coimbra-eis-que-bate-nossa-porta-segunda-onda-este-caldo-ainda-maior-porque-nos-encontra-cansados-de-guerra-combalidos-pelo-ano-dificilimo.html

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