Muitos pais se cobram pela felicidade constante na relação com os filhos. Isso pode virar um peso esmagador, daqueles que você nem percebe que carrega, porque acredita que “a vida é assim”. Mas, de repente, do nada, vira um choro que explode no susto; vira uma taquicardia inexplicável ou algo ainda pior.
Entender que felicidade é estar inteiro e presente na vida dos seus filhos, aconteça o que acontecer, é uma sabedoria.
Buscar a felicidade como obrigação diária é desumano. Não somos assim. Temos muitos humores diferentes ao longo do mesmo dia. Podemos estar tristes e ser animados por uma música em alguns instantes. Podemos estar felizes até que uma lembrança nos deixe introspectivos. Assim é a vida. E é assim que as relações têm de ser: verdadeiras, honestas.
Às vezes, o Romeo vem até mim e diz: “Papai, para de ficar bravo. Fica feliz!”. E eu não estou bravo, de forma alguma. Estou apenas pleno, vivendo de acordo com o momento. Sentado assistindo à TV, por exemplo. Para a mente neurodiversa dele, com algumas dificuldades de entendimento e comportamento social, o que representa a felicidade é o sorriso. Portanto, a ausência dele significa braveza/tristeza. Isso representa a busca eterna pela felicidade, que não está aparente, mas está lá.
Expliquei para o Romeo, de forma didática, que só porque eu não estava sorrindo, não queria dizer que eu não estava feliz, ou melhor, não era só porque eu não estava sorrindo que eu estava triste ou bravo. Ele entendeu, bonitinho, e eu tive este insight: fiquei pensando no quão pesado e humanamente impossível é viver buscando o sorriso constante como representação da felicidade. Eu libertei o Romeo e me libertei também.
É preciso lembrar que estar em paz e em equilíbrio é a felicidade. Aconteça o que acontecer.
Você acha que soa loucura dizer que, quando seu filho cai da bicicleta, se rala, chora, sente dor e busca por você, isso também faz parte do processo de felicidade? Para mim, não. Se você entende que a “vida feliz” é atingir um nível de aceitação pessoal e das consequências ao redor em plenitude, momentos difíceis e doloridos como esse são recebidos de outra forma.
Estar cabisbaixo, triste ou preocupado faz parte da vida de qualquer um e, dependendo da idade do seu filho, é bom que ele veja essas características em você, para que as identifique como normais. Afinal, frustração, irritação e braveza são sentimentos comuns para qualquer idade. Se você se forçar a ser apenas um sorriso ambulante na vida de seus filhos, estará sendo injusto com você e com eles. Até porque, depois de certa idade, crianças não aceitam sorriso oco. Elas sacam. E isso as afasta.
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