Escrevo num mês em que inevitavelmente se fala do negro por conta do Dia da Consciência Negra. E também se fala de cristianismo, porque o Natal começa a dar as caras, com o Advento. E, há pouco, também falamos de Dia das Bruxas, que conecta com o Dia do Saci.
E o que estou fazendo aqui, querendo achar um ponto em comum entre três datas que podem não ter coincidências entre si?
Estou trazendo um óbvio que pode passar despercebido e se transformar apenas em objeto de propaganda e consumo ou de bandeiras vazias, que só querem aparecer num instante: a cultura, a tradição e as ideias diversas saem de nós, adultos, para as crianças. E uma das ferramentas que enraíza ou subverte estes temas na área das crianças é a brincadeira.
Pense na última vez que você brincou de ciranda com seu filho. Uma brincadeira antes tradicional, comum em todos os cantos do Brasil, que refletia os processos sociais de uma época. Hoje, é desconhecida em algumas metrópoles. Por outro lado, PACMan já está no imaginário de jovens adultos, como marca de uma relação social que acontecia em fliperamas.
Não quero abrir aqui qualquer discussão sobre uma ou outra brincadeira em específico. Mas mostrar como as brincadeiras carregam consigo muito da cultura, da tradição e da forma de vida. Seja familiar ou de uma sociedade maior.
E é com as brincadeiras que apresentamos aos nossos filhos, que podemos expandir os horizontes deles, para novas culturas, novas tradições e formas de olhar o mundo e as pessoas. Existe uma infinidade de jogos e brincadeiras que traduzem costumes dos índios brasileiros; ou de um país de maioria negra; ou de cultura árabe, japonesa, maori.
São as brincadeiras de casinha que podem mostrar as relações sociais familiares – as de antes e as de hoje. Ou o brincar de trabalhar que abre possibilidades para meninas e meninos testarem profissões talvez nunca sonhadas para eles, por nós, adultos.
Ao mesmo tempo, são as brincadeiras que perpetuam as tradições, as origens. Porque para as crianças ampliarem os horizontes, elas precisam saber quais são suas raízes.
No final das contas, este texto foi só para convidar a todos nós, pais, mães, família a apresentarmos aos nosso filhos vários tipos de brincadeiras e a abrirmos nossa mente para as novas brincadeiras que surgem todos os dias.
E para não ficarmos só no abstrato, tem um vídeo aqui que fala como é possível “falar” de respeito às diferenças com as crianças, com dicas de brincadeiras.
Patrícia Marinho é publicitária, mãe de duas meninas, a Carol, de 14 e a Gabi, de 6 anos; e Patricia Camargo é jornalista, mãe do Henrique, de 11 anos, da Sofia de 9 anos e da Larissa, de 8 anos. As “Patricias” são sócias do Tempojunto, que mostra como a brincadeira é fundamental para o desenvolvimento das crianças e dá sugestões práticas de como incluir o brincar no dia a dia e na relação entre as mães, os pais (e tios, e avós...) e seus filhos. Aqui elas tiram dúvidas, dão dicas e contam como o brincar pode fazer a diferença no convívio com as crianças de qualquer idade
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