Monday, March 1, 2021

Alexandre Coimbra Amaral: "Este jeito estranho de se recomeçar"

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Pai e filho em abraço (Foto: Getty Images)

 

Volte no tempo comigo: o que você sentia nos tempos que vinham depois do carnaval, quando o ano realmente começava, na sua infância ou adolescência? Você vivia provavelmente um misto de tristeza pelo fim das férias e excitação pelo novo ano letivo. Você era um amontoado de memórias recentes que precisavam ser contadas infinitamente para os amigos da rua, da família e da escola. Uma criança de férias tem ao seu lado o tempo amplificado para explorar o mundo e brincar do que nem sabia que poderia ser brincado. De repente, se depara com jogos guardados no armário das fases anteriores, e se lembra de como era quando mais jovem. Ou traz a pele bronzeada da viagem à praia ou à piscina de plástico na casa dos avós. E, assim, costumava ser o início de um novo tempo.

A promessa do feliz ano novo finalmente conseguia ser percebida, porque tudo era novo: a professora, os cadernos, alguns colegas, ou até a escola. Acontece que, agora, estamos no ano da mudança de ciclo mais estranha de todos os tempos, porque os parênteses que a quarentena nos convidou a viver parecem que ainda não têm hora para deixar de existir. Ainda há os distanciamentos, as máscaras, os frascos de álcool em gel.

 

Para muitos de nós, é difícil ser aquela mãe ou pai cheio de motivação e entusiasmo para servir de modelo para os filhos, desanimados com o reinício do ano com todas as restrições tão chatas. Estamos como eles: também cansados, preocupados, talvez mais amedrontados que as crianças, inclusive. Mas essa é justamente a chave que abre a porta possível: se esses somos nós hoje, é assim que conseguiremos ser mães e pais.

A quarentena nos deixa mesmo esse legado do aumento da intimidade entre adultos e crianças, em seus estados menos harmônicos. É hora de abraçá-los muito, chorar juntos se necessário, lamentar a extensão da jornada pandêmica, deixar as raivas saírem, compartilhar nossas iras, falar das faltas que existem nas rotinas dos grandes. Não há forma de sairmos disso se não for no compartilhamento honesto das dificuldades emocionais. Isso constrói o que chamamos de resiliência, que é a capacidade de superar adversidades e aprender com elas.

 

Eu desejo a você um reencontro consigo, com seu filho e com a vida que temos diante de nós: incerta e exigente, mas nunca maior que nossa capacidade de falar dela, de crescer a partir dessa fala e dos abraços que confortam as durezas inevitáveis. Porque somos mesmo esse misto de dúvida e coragem, em que sentimos a vida nos dando ao mesmo tempo poderes supersônicos e uma pedra de kriptonita nas mãos.



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Alexandre-Coimbra-Amaral-A-humanidade-em-nos/noticia/2021/03/alexandre-coimbra-amaral-este-jeito-estranho-de-se-recomecar.html

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