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Na brincadeira
O brincar é o ápice da capacidade criativa e imaginativa. Mas isso só será atingido se você não ficar dirigindo a brincadeira – deixe seu filho à vontade. Procure não oferecer somente brinquedos “prontos”, que já tenham uma finalidade única. Blocos de montar, bonecos, papéis em branco e lápis de cor permitem uma infinidade de brincadeiras, como acontece na casa da professora Marina Scopel, 40, mãe de Giulia, 2, e Gabriela, 4: “Separo sucata e, nesses meses de pandemia, brincamos de pescaria com ímã, robôs de papel e jogos da memória com tampinhas”, conta.
Vale também prestar atenção ao seu discurso: frases como “isso é coisa de bebê/menina/menino” podam a imaginação, assim como ficar dizendo que a brincadeira está errada. Você pode, inclusive, estimular seu filho a criar novas regras para um jogo (como no Uno, que vem com algumas cartas em branco para isso).
Se a brincadeira é na tela, fique atento ao conteúdo. Procure alternativas em que a criança seja a protagonista e não apenas receba o estímulo ou a informação de forma passiva. Os gadgets podem, sim, prejudicar a capacidade criativa da criança, mas isso acontece quando são usados em excesso e de maneira errada. Se o seu filho brinca com um jogo bacana, grava e edita vídeos ou inventa uma música num aplicativo, por exemplo, em doses de tempo controladas, não há problema algum – tudo é questão de equilíbrio.
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Na rotina
Sabe aqueles momentos básicos do dia a dia com o seu filho, como tomar banho, comer ou guardar os brinquedos? Experimente usar o recurso do lúdico nessas horas – além de facilitar sua vida, pois a criança tende a cooperar mais facilmente, também serve de estímulo à imaginação. Na hora de chamar seu filho para o banho, diga “vamos até o banheiro imitando um tubarão?”. Em vez de brigar toda vez para ele arrumar a bagunça, que tal inventarem juntos uma música para essa tarefa?
Outro fator importante é aguçar a curiosidade. Como trabalhar isso? Não apressando o pequeno no caminho: se ele se encantou por um bichinho no jardim, encoraje-o a parar para observá-lo, a fazer perguntas, pois isso favorece a criação de momentos para o faz de conta. Também é válido dispor de sucata, tecidos e outros materiais para seu filho criar cenários e enredos e deixar a mente fluir.
E não se esqueça de algo fundamental: é no fazer nada que acontece o chamado ócio criativo. Quando a criança não tem uma atividade dirigida ou uma tela na sua frente, ela fica muito mais livre para criar. Então, dê espaço para “momentos de tédio”.
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Na cultura
Já falamos aqui do quanto a arte ajuda no estímulo à imaginação e à criatividade. Por isso, quanto mais você puder expor seu filho a bons conteúdos artísticos desde cedo, melhor. Assistam a filmes, leiam bons livros (em crescer.com.br, há listas incríveis para ajudar você na escolha). Quando a pandemia passar, leve-o a museus, espetáculos de dança e de música e a peças de teatro — enquanto isso, acesse esse tipo de programa de forma digital.
A literatura infantil é peça-chave nesse cenário, e a química Rafaela Castellar, 39 anos, sente hoje isso na prática. “Eu e meu marido sempre gostamos de ler e, desde que soube da minha gravidez, li muito para ‘minha barriga’. O primeiro presente do Nicolas, 6, foi um livro. Acredito que por meio da leitura conseguimos aumentar o vocabulário e a compreensão sobre as coisas e, assim, a imaginação e a criatividade crescem. Hoje, antes de dormir, às vezes meu filho pede para inventar uma história em vez de ler um livro. Ele dá ideias, e vamos construindo o enredo juntos. Com certeza devo muito disso ao hábito de ele gostar de livros”, diz.
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Na escola
Muitas vezes, conforme a criança cresce, as escolas deixam de dar atenção ao faz de conta. Para a especialista no brincar Estéfi Machado, o simples fato de o pequeno ter de atingir padrões e unificar pensamentos já reduz a imaginação. “Um jeito de minimizar isso é o brincar livre, em qualquer idade”, defende.
Os benefícios de uma educação criativa e que valorize o brincar no ambiente escolar foram comprovados recentemente em pesquisa conjunta das universidades de Maastrichdt, na Holanda, e South Australia, na Austrália. O estudo aponta que a criatividade é uma competência central em todas as disciplinas escolares, o que a torna crucial para o sucesso numa carreira tanto na área de ciências como na artística. “A imaginação e a criatividade são propulsores de uma atitude investigativa, propositiva, e que permite a resolução de problemas. O ser humano é simbólico, e a criatividade e a imaginação compõem a nossa essência. As escolas devem estimular essas habilidades”, diz Cristina Nogueira Barelli, coordenadora pedagógica do curso de pedagogia do Instituto Singularidades, em São Paulo.
Para a neuropsicóloga Deborah Moss, os colégios não devem ficar só no conteúdo pedagógico. “O faz de conta é um excelente recurso educacional. Como não perder isso na escola? Basta escutar as crianças. Elas mesmas não vão deixar que se esqueça desse mundo imaginário porque é algo muito latente nelas”, diz.
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Na saúde
Estimular o mundo imaginário é válido e importante em qualquer situação, inclusive nos momentos relacionados à saúde — e, em especial, àqueles que envolvem risco emocional, como em ambientes hospitalares. Nesses locais, há adultos em vários estados de ansiedade, e circunstâncias relacionadas a eles e às crianças que envolvem dor e sofrimento. “Então, o entretenimento, a leitura de histórias, a brincadeira na hora certa, o fazer artístico aumentam a autoestima, diminuem estímulos dolorosos, melhoram o sistema imune e contribuem para a recuperação” diz Luiz Scocca. No ambiente hospitalar isso ajuda a criança a lidar com uma situação que ela não tem maturidade emocional para enfrentar. É como uma válvula de escape.
Um exemplo é a ação que o Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, faz todos os anos, normalmente no Dia das Crianças. Os pacientes internados se deparam com personagens, como Homem Aranha, Pantera Negra, Mulher Maravilha e Capitão América fazendo a limpeza das janelas. Para a psicóloga Dora Leite, coordenadora do Setor Child Life do Sabará, as crianças precisam desse momento lúdico para um melhor desenvolvimento. “O brincar é o meio de a criança se comunicar, se desenvolver, se proteger e enfrentar desafios, como o da hospitalização. Por isso, a brincadeira é essencial no cuidado da saúde infantil, pensando sempre nessa questão de forma ampliada, como o bem-estar físico, psíquico e social. É imprescindível haver no ambiente hospitalar pediátrico ferramentas que dialogam com a criança a partir da linguagem que ela nos ensina”, afirma.
1. Não estimular que a criança faça perguntas. Deixe que seu filho questione. Se você desconhecer a resposta, não há vergonha em dizer “não sei, vamos descobrir juntos?”.
2. Viajar (quando for possível de novo, claro!) só para lugares considerados “para crianças”. Investir em viagem é uma das melhores maneiras de estimular a curiosidade: não se prenda somente a destinos óbvios, permita-se desbravar o novo junto com seu filho.
3. Fazer as mesmas coisas, como ir somente a lugares conhecidos e comer alimentos sempre iguais. Nada pior para a criatividade do que se acomodar.
4. Não abordar a diversidade: ofereça ao seu filho diferentes versões do mundo, por meio de brinquedos, livros, filmes, passeios ou histórias.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/03/pensamento-magico-ativar-5-maneiras-de-estimular-seu-filho-usar-imaginacao-no-dia-dia.html