Como a exclusão digital pode dificultar o acesso de crianças ao sistema de saúde nos próximos anos? Sem internet de qualidade, muitas famílias ficarão excluídas de um acompanhamento médico ideal? Como garantir que essa desigualdade não aconteça? Essas foram algumas das perguntas respondidas no painel “Acesso Digital: um novo determinante social da saúde”, que aconteceu na semana passada durante o SXSW – maior festival de criatividade e inovação do mundo. Com a pandemia da Covid-19, as consultas e acompanhamentos pediátricos por telemedicina se tornaram realidade e representantes de três hospitais infantis norte-americanos contaram como estão lidando com essa nova rotina.
No Childrens’s Hospital Los Angeles, por exemplo, cerca de 26% do atendimento ambulatorial hoje é pela telemedicina, e isso garantiu que muitas crianças continuassem tendo o atendimento médico apropriado. “Em outras regiões, vimos que o acompanhamento pediátrico simplesmente parou durante a pandemia. Se a criança não apresentou nenhum sintoma fora do normal, nenhuma consulta foi feita e isso não é nada bom. Especialmente nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento precisa ser acompanhado”, contou Mona Patel, vice-presidente de operações ambulatoriais do hospital. “Também conseguimos dar um apoio de saúde mental para as famílias, o que foi essencial nesse momento.”
Outro benefício da telemedicina, segundo Natalie Pageler, diretora de informação médica do Stanford Children’s Hospital, é que o pediatra consegue ver a criança e sua família no ambiente doméstico e isso traz muita informação para o médico. “Com esses dados, ele pode, inclusive, receitar um tratamento mais adequado.” Outro benefício diz respeito às consultas de acompanhamento. Muitas famílias precisavam de horas para chegar aos consultório e agora isso ficou muito mais fácil. “Mas precisamos prover o acesso. Tivemos o caso de uma família que entrou na consulta virtual e o pediatra reconheceu a parede do fundo. Eles tinham ido ao hospital com o filho para poderem usar o wi-fi porque não tinham outra forma de se conectar.”
A dificuldade de acesso é justamente o ponto de atenção do avanço da telemedicina. “A exclusão digital nos preocupa muito. Não adianta termos o melhor atendimento virtual possível se as famílias não conseguirem acessá-lo. E isso não pode ser um determinante para o futuro de saúde das crianças”, afirma Jackie Ward, diretora de enfermagens do Texas Children’s Hospital.
Mona Patel, concorda: “A equidade da saúde e o acesso aos cuidados é extremamente importante e precisamos ficar atentos a isso. Assim como as escolas estão buscando parceiros para garantir o acesso digital das crianças às aulas remotas, os hospitais precisam fazer o mesmo movimento.” Ela conta que, em Los Angeles, eles têm montado “hubs virtuais” dentro de organizações comunitárias para garantir o acesso a telemedicina das famílias que não têm condições. “E as escolas, claro, também poderão ser grandes aliadas nesse processo de democratização ao atendimento virtual. Se não fizermos nada, essa exclusão digital da saúde poderá se tornar uma tragédia social.”
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