Tuesday, July 7, 2020

Teresa Ruas: 'Vamos dar colo aos bebês!'

Teresa Ruas (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Quando somos pais de bebês, crianças pequenas e/ou profissionais que trabalham com o crescimento, desenvolvimento e aprendizagem infantil, sempre recebemos perguntas e dúvidas sobre a real “eficácia” do colo para os nossos pequenos.

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Ao longo da minha experiência profissional como terapeuta infantil e como mãe de dois prematuros, recebo algumas preguntas/afirmações muito frequentes e que causam muitas dúvidas nos pais, tais como: “ Teresa, mas se eu der muito colo o meu bebê não ficará mal acostumado?”; “Se eu der muito colo, o meu filho (a) não ficará muito manhoso (a), mimado (a)?”; “O meu bebê somente quer ficar no meu colo, será que ele está doente?”; “ Eu não consigo fazer mais nada porque o meu bebê somente quer ficar no meu colo!”

E para que eu me posicione sobre essas dúvidas recorrentes no mundo da maternidade e paternidade, irei me recorrer a teorias que fundamentam o desenvolvimento infantil e a profissionais incríveis que fazem parte da equipe interdisciplinar do projeto @prematurosbr, como a Dra. Márcia Dias Zani - pediatra, neonatologista e fundadora do @nucleopequenostesouros - e Ana Luiza Andreotti - Terapeuta Ocupacional e fundadora do @to_integrasense -, com quem tanto dialogo e escrevo sobre essa temática.  

Portanto, inicio o nosso diálogo, afirmando o quanto é importante que os pais e profissionais da saúde compreendam que o bebê, desde o ambiente intrauterino, é um grande órgão sensorial. Isso quer dizer que todo bebê, seja a termo ou prematuro, receberá/perceberá/discriminará as informações sobre a condição física de seu corpo, do meio ambiente, das pessoas e dos objetos que o rodeiam pelos sentidos sensoriais, por exemplo, por meio da visão, audição, olfato, tato, entre outros sistemas sensoriais.

Sabemos que todos os sistemas sensoriais são de extrema importância para promover todo e qualquer desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Porém, como estamos falando sobre a importância do colo para os nossos pequenos, precisamos compreender que a pele é o grande entorno e contorno para os bebês. Pele essa que está cheia de receptores táteis e por isso o sistema tátil ser tão importante nos primeiros anos de vida de toda criança. Sendo que desde o útero, a sensação do toque já é percebida e vivenciada entre o filho e a mãe por meio do líquido, da placenta, do cordão e na relação do próprio corpo do bebê em desenvolvimento e crescimento intrauterino. 

Como curiosidade para os pais leitores dessa nossa coluna tão especial sobre prematuridade, quero que saibam que o sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a se desenvolver no ambiente intrauterino. Algumas pesquisas afirmam que com apenas 7 semanas de gestação há o surgimento desse sistema.

Isso quer dizer que ao nascermos, a nossa primeira forma de interação, vínculo, contato afetivo, aconchego e segurança com o outro é por meio do toque e do entorno que damos ao corpo de um bebê. E como é possível darmos um contorno/entorno a um corpo pequenino? E qual é o lugar mais propício para essa experiência de aconchego, segurança e entorno entre o corpo dos pais e o corpo de um bebê? Podemos até pensar em várias alternativas, mas é inevitável que o COLO de uma mãe e de um pai não seja o lugar e a experiência mais oportuna e mais rica de afeto, aconchego, segurança, toque, contorno e entorno entre dois corpos que desejam uma conexão afetiva. 

Até mesmo os prematuros, com seus corpos pequenos, frágeis e cheios de fios gostam e necessitam da sensação do toque humano. A ciência já sabe que os nossos prematuros gostam de sentir o toque mais profundo em seus corpinhos. Gostam de sentir o peso de uma mão inteira aberta ou com os dedos fechados sobre algumas partes de seu corpo - como tronco, tórax, cabeça e pés. Não gostam de sentir o toque mais leve ou suave, por exemplo, quando os acariciamos com as pontinhas dos nossos dedos. Inclusive, muitos bebês quando são acariciados com o toque suave agitam-se muito, tendo como consequência a queda de saturação. E isso acontece porque as células que captam a sensação do toque profundo estão mais “maduras” e desenvolvidas do que as que captam as sensações do toque mais superficial.

Essas informações sobre as particularidades da prematuridade são de extrema importância, pois como tocamos o bebê, como o acariciamos e como o acalentamos, é também a forma como ele se expressará, demonstrando conforto ou desconforto, prazer ou desprazer, segurança ou insegurança.

Além disso, nas UTI's Neonatais, o Método Canguru conseguiu maior respaldo científico, justamente, diante de pesquisas com animais e crianças em situação de privação afetiva, as quais verificaram uma forte relação entre a falta do toque, do afeto, do acolhimento dos pais e os atrasos significativos  quanto ao crescimento – especialmente ganho de peso -, desenvolvimento dos bebês e crianças - especialmente quanto à cognição e as emoções - e à função imune.  A falta do contato pele a pele, o que chamamos de toque nutricional entre pais e bebê, foi um dos principais causadores de estresse pós-natal, interferindo diretamente na saúde fisiológica e emocional de pais e bebês.

Todos os bebês, independente de serem a termo ou prematuros e, segundo minha parceira Dra. Márcia Dias Zani, nascem despreparados e incapazes de sobreviverem sozinhos. Eles pedem o contato próximo, até mesmo como uma forma de garantir a própria sobrevivência. Dar colo não irá mal acostumar um bebê em pleno processo de amadurecimento neurológico.

Ao contrário, o entorno corporal, sensorial e afetivo propiciado pela experiência de cuidado e proteção, por meio do colo humano, apenas aumentará a segurança dessa criança; potencializando ainda mais todo o seu processo de desenvolvimento e crescimento. Ser dependente do contato afetivo e da proteção dos pais é inerente a todo bebê em desenvolvimento. E, a medida que o bebê vai conhecendo o seu corpo, compreendendo como se relacionar com os objetos e pessoas ao redor, sua segurança vai aumentando, transformando-o em um ser ativo em seu contexto.

O colo, mesmo que ainda necessário como refúgio/acalento/segurança/proteção em vários momentos da vida de uma criança, especialmente durante a primeira infância, vai dando lugar às descobertas e ganhos de habilidades, como o brincar utilizando as mãos, o sentar, o engatinhar, o andar, entre tantas outras habilidades conquistadas por meio da maturação neurológica - desenvolvimento cerebral -, experiência ambiental e interação afetiva. Os nossos bebês crescem, e o ganho da autonomia e independência fazem com que os nossos braços fiquem vazios com maior frequência, gerando muita saudade dos momentos em que nossas crias se aninhavam somente em nossos colos. A fase exaustiva do colo passa e passa muito rápido. Podem acreditar!

E se o seu filho nasceu prematuro, o colo, os cafunês, o carinho, as carícias, as massagens, os passeios de sling são de extrema importância. Afinal das contas, todas essas ações humanas são marcadas pela proximidade, pelo toque, contato intimo e afeto. E, é justamente a experiência afetiva, tão presente no momento em que oferecemos o nosso colo como acalento/morada/proteção, que gera marcas significativas em todo bebê. E são essas marcas significativas que possibilitam o bebê a aprender sobre o mundo que o rodeia e a fazer marcas afetivas em seu corpinho, especialmente em sua pele. 

Colo, definitivamente, não estraga ninguém. Afinal, a segurança emocional é base fundamental para potencializar todos os nossos sentidos, experiências, interações; garantindo a VIDA e potencializando todo desenvolvimento  e aprendizagem infantil.

Aberta a campanha: Vamos dar colo aos bebês!

Um grande abraço, Teresa Ruas e equipe @prematurosbr

 

 

 

 

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Teresa-Ruas-Vida-de-Prematuro/noticia/2020/07/teresa-ruas-vamos-dar-colo-aos-bebes.html

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