Monday, August 24, 2020

Excesso de telas pode fazer crianças perderem habilidade de desenhar

Menina brinca com tablet (Foto: Thinkstock)

 

As telas já fazem parte da nossa realidade diária. Com a quarentena, o consumo de conteúdo por tablets, televisões e notebooks tornou-se uma constante. Para as crianças, não é diferente. As telas se tornaram aliadas dos pais na hora de manter os filhos entretidos, além de serem usadas para as aulas à distância, mas quais são os limites?

Segundo a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em psicologia do desenvolvimento, os limites devem ser dados pelos pais dentro de casa, assim como o bom exemplo. "Os pais precisam ser modelos e mostrar que eles fazem outras atividades e têm outros lazeres, além das telas. É importante criar oportunidades dentro da família para todo mundo ficar offline e oferecer para espaço e oportunidade para as crianças brincarem livres, soltas, com criatividade", aponta.

O uso extensivo de telas, quando não aliado e intercalado a atividades diferentes, pode causar atraso de desenvolvimento motor e social nas crianças. Isso acontece porque, enquanto estão focadas na tecnologia, elas não praticam atividades físicas ou criativas.

 

"Se pensarmos em termos neurológicos, o cérebro se desenvolve por meio de estímulos. Então, se você não anda, você deixa de andar, porque você acaba não promovendo esse estímulo neurológico. Quando a criança fica só nas telas, ela acaba não tendo aquela exploração psicomotora que ela tem quando você dá um caderno e um lápis. Se ela só digita teclas, ela deixa de estimular uma habilidade psicomotora. Por isso, é essencial alternar atividades. Como as telas são muito acessíveis, acabam sendo uma carta na manga para os pais conseguirem trabalhar; acaba sendo uma solução muito fácil. Mas, às vezes, você pode, em vez de dar toda hora um tablet, oferecer um caderno e um lápis, um giz de cera", sugere Deborah.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que crianças de até 2 anos não sejam introduzidas a telas em nenhum momento. A partir dessa idade, elas podem ser apresentadas gradualmente.

"É necessário deixar essas crianças um pouco no ócio. É uma geração que não sabe viver o tédio porque tem internet, tem programação infantil a qualquer hora, sob demanda. Antigamente, chegava um horário que acabava a programação infantil na TV, então, você precisava inventar brincadeiras, usar a criatividade e a imaginação. É o que a gente chama de ócio criativo. Eles não têm isso, porque na hora que estão entediados, entram na internet, e vem tudopronto. Não tem isso de construir e esperar. Eu tinha que esperar o próximo episódio do meu programa, que seria apenas no dia seguinte ou talvez na próxima semana. Hoje, você pode assistir dez episódios no mesmo dia, não tem tempo de espera. Os pais precisam criar oportunidades para que essas crianças brinquem sem telas, para que  aprendam a esperar", analisa. Deborah também sugere o resgate de brincadeiras antigas para entreter os filhos por períodos maiores, longe de smartphones e tablets.

 

"Os pais também têm que ser modelos. Se eles ficam o dia inteiro nas telas, acabam mostrando que a vida é assim, que a gente fica sempre olhando para baixo. Você perde a oportunidade de as crianças brincarem espontaneamente.Temos que pensar que, sim, existem vantagens, há muitas informações ali, mas, por outro lado, é uma atividade passiva", ressalta. Moderação é a palavra-chave.

Danos à visão


 

De acordo com Lisia, o vício pode ainda causar danos de curto e longo prazo aos olhos das crianças. "Além dos sintomas subjetivos, como cansaço visual, ardor, desconforto e dor de cabeça, a criança pode ter pseudomiopia [sintomas de miopia gerados pelo esforço feito para enxergar telas de perto] ou até um aumento de miopia. É possível ter estrabismo, sintomas de olho seco e até olho seco de verdade. Quando prestamos atenção em alguma coisa, temos a tendência de piscar menos e isso pode induzir ao olho seco. Pode surgir também a dificuldade para enxergar, tanto de longe quanto de perto. Tudo isso pelo uso aumentado de telas", explica a oftalmologista.

Para crianças maiores e adolescentes, a oftalmologista Lisia Aoki recomenda métodos de descanso que também podem ser oferecidos a adultos, como o método 20-20-20. A cada 20 minutos de uso de telas, a pessoa deve fixar seu olhar por 20 segundos em algo que esteja a aproximadamente 6 metros. Para quem estuda ou precisa passar mais tempo em frente à tela, é recomendável uma pausa de 15 a 20 minutos a cada duas horas. 

Embora boa parte dos sintomas possam ser tratados facilmente, como colírios recomendados para o tratamento de olho seco, o estrabismo e o aumento de miopia podem gerar problemas futuros. "Pode descompensar estrabismo, pode fazer com que a criança tenha que usar tampão, usar óculos ou até mesmo ter que fazer uma cirurgia", alerta Lisia.



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