Monday, April 15, 2019

"O conhecimento médico sobre a criança é bom, mas é preciso que sobre espaço para o nosso olhar", diz Chris Nicklas

Vinculo entre mãe e filho (Foto: Getty Images)

 

Por volta dos...

Já viram isso?

Em muitos textos sobre o desenvolvimento do infantil vemos esta expressão “por volta dos...”.

Por volta dos seis meses começa a introdução alimentar. Por volta dos dois anos a criança já começa a ter controle do esfíncter.

Por volta dos três meses o bebê começa a fazer mamadas mais espaçadas.

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E por aí vai!

Isto nada mais é que um convite a nós mães, para que exerçamos o nosso papel de facilitadoras do desenvolvimento da criança. Mas penso que também é, a meu ver, “O” grande desafio que a maternidade (e a paternidade) nos coloca.

Desenvolver este olhar, esta sensibilidade, não é fácil, ainda mais hoje que o que mais fazemos é procurar fórmulas e respostas prontas para as nossas dúvidas e perguntas.

Algumas mães conseguem se apoderar dessa posição e conduzem com firmeza cada etapa do processo do bebê, sustentando suas decisões quando questionadas pelos outros ao seu redor e fazendo uso da tal intuição materna.

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Uma vez conversei com uma mãe que era exatamente assim, me deu até inveja, kkkk!

Me fez parar para pensar no quanto fui rígida e tensa com a execução de tarefas e cronogramas. Que horror.

Essa mãe me contou como, quando da chegada dos seis meses, não sentiu seu filho pronto para a introdução alimentar. Comentou também que ela mesma não se sentia preparada para dar aquele passo. E assim, decidiu viver cada dia de uma vez, foi observando seu bebê (e se observando), de forma a tentar captar as nuances de seu comportamento, na procura de algum sinal, inclusive de interesse dele pelos alimentos.

Não se trata de rebeldia, e nem de irresponsabilidade, mas sim de amadurecimento e conexão.

Me recordo de uma vez ter lido o texto de uma antropóloga que havia acompanhado uma tribo indígena por alguns meses. Nela observou como se dava a apresentação da comida sólida para os bebês.

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Disse-me que, curiosamente, o bebê tinha um papel ativo (e determinante) na transição para os outros alimentos. Era-lhe oferecido, por volta dos seis meses, quando os dentes já estivessem despontando, uma massinha feita de algum tipo de grão. Esta massinha ficava na mão da criança para que fosse manuseada, servisse de brinquedo e ali ficava, como que esquecida... Até que a criança a colocasse na boca, por decisão própria. Vejam que interessante: a mãe só colocava na mão do bebê, mas era ele quem decidia quando este alimento iria para a boca.

Em cada cultura é possível observar uma forma diferente de lidar com a passagem de uma etapa para a outra do desenvolvimento de uma criança.

Na nossa o que rege tudo é o conhecimento médico\científico, que óbvio, não é de todo mal, desde que sobre espaço para o nosso olhar, a nossa subjetividade.

Aquela mãe, de que falei, começou a introdução alimentar quando seu filho estava quase completando sete meses e tudo correu bem, dentro do seu tempo.

Fica a dica!

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

 

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos. (Foto: Edu Rodrigues)

 



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