Wednesday, March 20, 2019

Dr. Carlos González: você sabe mesmo o que é criação de apego?

Criação com apego seguro ou inseguro? (Foto: Pexels/ Pixabay)

 

Em meados do século passado, John Bowlby propôs a teoria do apego. Cada criança estipula uma primeira relação com uma pessoa, habitualmente a mãe, e, a partir dela, estabelecerá, mais para a frente, outras relações, com seu pai e os familiares, com seu marido ou esposa, com seus próprios filhos.

Décadas mais tarde, cunhou-se a expressão “criação com apego” para se referir a uma certa maneira de educar os filhos. Uma expressão muito feliz, mas a teoria do apego diz, precisamente, que todas as crianças têm apego e, portanto, não é possível uma “criação sem apego”.

“Não é possível uma criação sem apego. o que pode acontecer é ele ser seguro ou inseguro”
 

O que pode acontecer é de o apego da criança com a mãe ser seguro ou inseguro. O seguro é melhor, mas o inseguro não é patológico. Não é uma doença mental. Em diversos estudos, 30% ou até mais das crianças têm um apego não seguro.

Não é fácil descobrir se o apego é seguro. Para saber, um psicólogo especializado precisa fazer alguns testes específicos. Eu não sei fazer esses testes; não sei se meu vínculo com meus filhos ou o deles comigo foi seguro. Tampouco adiantaria que eu soubesse.
Vários pais dizem estar criando os filhos com apego, mas a maioria deles não leu os “oito princípios” detalhadamente explicados no site attachmentparenting.org. Muitos parecem achar que “criação com apego” significa “muita amamentação, muita cama compartilhada e muito colo”. Três coisas que são ótimas, mas que pouco ou nada têm a ver com criação com apego.

O apego da teoria se desenvolve paulatinamente entre os 6 e os 12 meses, a partir das experiências cotidianas do bebê. Quando a criança comprova que, habitualmente (não “sempre”, porque isso é impossível, na prática), alguém a consola quando chora; que, quando chama, alguém responde e suas necessidades são atendidas, ela desenvolve um apego seguro. Ela tem a segurança de que será atendida e, portanto, chora relativamente pouco. Consolá-la é fácil.

Há décadas, quando poucas mães nas sociedades industriais davam o peito e eram “proibidas” de pegar os bebês no colo ou dormir com eles, a maioria das crianças tinha um apego seguro. Isso porque é possível acolher um bebê que chora, é possível sorrir para ele, cantar para ele, embalá-lo e consolá-lo, ainda que nos tenham proibido de dar colo. Por outro lado, muitos daqueles que tiveram bastante colo e foram amamentados por anos têm um apego inseguro, porque também é possível ignorar a criança em nossos braços ou dar o peito só para que fique quieta, ainda que o que ela esteja pedindo seja outra coisa.

Carlos González, pediatra (Foto: Divulgação)

 

 



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