Friday, December 21, 2018

Jornal para crianças ganha prêmio como projeto de incentivo à leitura

livro; familia; leitura; literatura (Foto: Thinkstock)

 

Seu filho sabe dos principais acontecimentos do Brasil e do mundo? De que forma você conversa com ele sobre as notícias que ganham as manchetes dos principais jornais, mas parecem complexas demais para as crianças? Seria bom se houvesse um jornal para os pequenos, que tratasse dos assuntos atuais de uma forma que os ajudasse a compreender o impacto desses acontecimentos na realidade em que vivem, não? A boa notícia é que esse jornal existe. Fundado em 2011, o Joca produz jornalismo voltado para crianças e adolescentes, com temas atuais em uma linguagem contextualizada e adaptada ao público infanto-juvenil. A qualidade editorial e a inovação do projeto renderam ao veículo no último dia 10 o Prêmio de IPL – Retratos da Leitura, na categoria Mídia. O prêmio reconhece projetos de incentivo e fomento à leitura no Brasil.

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Num país como o Brasil, em que a leitura não está incorporada à rotina nem mesmo dos adultos, como mostra um estudo feito pelo Instituto Pró-Livro, que apontou que ler livros é a 10ª atividade favorita da população, perdendo para práticas como assistir TV, ouvir música e navegar na internet, ter um jornal atrativo para crianças é uma forma de contribuir para a mudança de pensamento e percepção de realidade dessa nova geração. Noção da própria realidade, aliás, é outra coisa que falta aos brasileiros. De acordo com a pesquisa “Os Perigos da Percepção”, realizada em 38 nações no ano passado pelo instituto Ipsos Mori, o Brasil é o segundo país no mundo em que as pessoas mais têm a percepção equivocada da realidade, ficando à frente apenas da África do Sul. E são esses alguns dos desafios que motivam Stéphanie Habrich, fundadora e diretora executiva do Joca a fazer com que o jornal tenha cada vez mais alcance, quebrando barreiras. “Meu maior sonho hoje é poder estar em todas as escolas públicas do Brasil, participando da formação cidadã dessa geração e proporcionando a todos os jovens e crianças do Brasil, independentemente da classe social, a oportunidade de conhecer o mundo e o o país em que vivem. Meu sonho é dar à eles ferramentas para saberem se posicionar e lutar por seus direitos e conquistas”, diz ela, que é mãe de Luca, 15, Matteo, 13 e Nicolas, 10. Em todo país, 150 instituições de ensino já recebem o jornal, mostrando que esse sonho segue pelo caminho certo.

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Antes de lançar o Joca, Stéphanie Habrich trabalhou em importantes instituições financeiras internacionais. Até que se tornou mãe e viu na maternidade um novo caminho para mudar completamente de rumo. “Queria muito que meus filhos tivessem acesso às reportagens incríveis que temos sobre o Brasil, assim como proporcionar ferramentas a todas as crianças do país. Comecei com as revistas destinadas para leitores mirins e, conforme meus filhos foram crescendo, surgiu a ideia do Joca. Hoje, eles sendo adolescentes, já estou pensando e lançando um produto para leitores maiores e mais fluentes. A criatividade acompanha o crescimento dos meus filhos e a experiência que tenho com eles em casa”, diz.
O Joca foi inspirado em vários títulos de publicações voltadas para crianças em outros países, como a Time For Kids, com mais de 1,5 milhão de assinantes, e a First News, no Reino Unido, com mais de 2 milhões de leitores.

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bebê; leitura; livro; história; mãe (Foto: Shutterstock)

 

Protagonismo infantil
Uma das missões do Joca é estimular as crianças a serem protagonistas das próprias histórias. E isso já é visto no cotidiano dos alunos que interagem com o jornal: além de  participarem das publicações enviando sugestões de pautas, respondendo a enquetes e comentando as notícias, eles já movimentaram até mesmo uma editora a traduzir um livro. Após lerem notícias no site do Joca sobre o diário de uma garota síria, publicado nos idiomas árabe e francês, os alunos da Emef Professor Laerte José dos Santos, Osasco (SP), enviaram cerca de 200 cartas para o jornal pedindo o livro em português. “Depois de receber as cartas e sentir o impacto que a notícia teve sobre essas crianças, decidimos procurar por editoras que quisessem traduzir o livro e publicá-lo no Brasil. A editora Dark Side, em parceria com o Joca, publicou O Diário de Myriam com cartas das crianças. Houve lançamento na Bienal do Livro de São Paulo deste ano, com a presença de algumas das crianças que enviaram as cartas – cartas, essas, que aparecem nas primeiras páginas do livro em português”, conta orgulhosa a fundadora do jornal. As dificuldades das crianças sírias refugiadas motivou alunos a exercitarem a empatia: por iniciativa própria, eles fizeram um bazar na escola com as suas roupas em levantaram R$300, que foram doados aos refugiados sírios de São Paulo.

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Importante ferramenta para o aprendizado escolar
Mais do que estar fisicamente presente nas escolas públicas e particulares, os professores que recebem a publicação contam também com um área exclusiva de acesso ao site, com vídeos tutoriais, exercícios desenvolvidos quinzenalmente, entre outros conteúdos exclusivos.

Se o maior desafio do jornal é desenvolver um novo conceito que ainda não faz parte da sociedade brasileira, o maior estímulo é a certeza de estar contribuindo na educação e na formação das crianças. O impacto que do trabalho feito em parceria com professores, alunos e o jornal também é visto na escola pública, seja pela igualdade de oportunidade dos alunos, seja pela noção de pertencimento e cidadania. Após receber a doação de 30 exemplares da Parceiros da Educação, a Escola Estadual Henrique Dumont Villares, no Jaguaré (SP), passou a usar o jornal em sala de aula num sistema de rodízio, alcançando 800 alunos ao longo de 15 dias. Coordenadores e professores se uniram para aproveitar o material da melhor forma e os frutos vieram já no ano seguinte, em 2016: “Os alunos do ensino fundamental atingiram no IDEB uma nota superior à que o MEC previa para 2030, posicionando a escola como a melhor colocada em São Paulo e uma das maiores do país”, conta Stéphanie. A experiência se espalhou por outras escolhas públicas, como a Escola Estadual Adalgisa Segurado da Silveira, na zona sul de São Paulo, e Escola Estadual Alcides da Costa Vidigal (SP), que passaram a receber o Joca da Henrique Villares. “Essas e outras escolas públicas aumentaram em cerca de 20% a nota do SARESP em relação ao ano anterior após um ano de Joca na sala de aula”, completa.

 



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