Depois de quase um ano sem aulas presenciais, a reabertura das escolas foi muito celebrada por pais e filhos. Mas, desde o anúncio da retomada, que, em alguns locais, como São Paulo, já foi cancelada, ao menos temporariamente, os protocolos sobre a segurança deste processo já davam conta de que possíveis “pausas” para isolamento de turmas poderiam ocorrer, quando fossem confirmados casos de covid-19 entre alunos, professores ou demais funcionários.
Como os pequenos (e suas famílias) têm lidado com esse vai e vem das aulas em algumas escolas?
Fernanda Rezende Fioravante tem 38 anos e trabalha como atendente de caixa. Sua filha Alice, 5 anos, frequenta a escola desde o berçário e teve muita dificuldade com a nova rotina em casa, ao longo do ano passado. Esse ano, Fernanda decidiu mandar a pequena para a escola de novo: “Eu estava pagando uma pessoa para ficar com ela, mas isso pesa muito no meu orçamento. Então eu a mandei para a escola, mas com muito medo”, contou. Já Alice estava animada: “É um misto de emoções muito difícil. Por um lado, ela sente falta e precisa desse convívio com outras crianças, mas por outro lado, mesmo os protocolos seguidos pela escola não foram suficientes para evitar que a covid chegasse até a turma dela”, relatou Fernanda.
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A mãe contou que a professora de Alice testou positivo para o novo coronavírus e, por consequência, as aulas da classe foram suspensas por 15 dias. “A Alice está bem chateada e preocupada. Eu expliquei que ela não poderia voltar para a escola e que a professora dela estava doente”, contou Fernanda.
Não há um protocolo único nacional que determine como os governos estaduais, municipais ou as administrações de escolas particulares devem proceder quando houver um caso de coronavírus suspeito ou confirmado. O guia de protocolos do MEC – a que CRESCER teve acesso – prevê que nas fases azul e verde, todas as escolas abram apenas com medidas preventivas contra a covid-19. Já nas fases amarela e vermelha, as escolas devem ser abertas, porém podendo ser fechadas pelas autoridades locais levando em consideração critérios de risco dentro daquela comunidade.
Também fazem parte do documento as medidas de segurança que já conhecemos dentro das escolas abertas: uso de máscara, higiene constante, distanciamento, não compartilhamento de objetos pessoais, aferição de temperatura na entrada, ventilação dos ambientes, revezamento das turmas para redução da circulação de alunos, e o isolamento em caso de qualquer sintoma.
Outra determinação é que os sintomas em alunos, professores ou funcionários devem ser comunicados imediatamente às escolas e, assim também, pelas escolas à UBS mais próxima, devendo a possibilidade de suspensão das aulas ou fechamento da escola ser analisada localmente. O que o guia não menciona é por quanto tempo o isolamento da pessoa contaminada e do grupo que teve contato com ela deveria ser mantido.
Mas existe um protocolo ideal quando um caso de covid-19 é identificado?
Segundo explica o médico Marco Aurelio Palazzi Safadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, quando um caso de covid-19 é identificado na escola, a pessoa deve ficar afastada por, pelo menos, 10 dias. Já as pessoas que tiveram contato com o doente – na mesma bolha – também devem ser afastadas, mas por 14 dias.
O especialista reforça, porém, que não existe nenhuma evidência científica que dê sustentação à relação entre a abertura das escolas e o aumento dos casos de covid-19. “Os casos de covid-19 aumentaram na comunidade de uma forma geral, em todos os grupos etários - e não é diferente entre as crianças. Na verdade, o grupo etário que teve maior aumento foi o de adultos jovens e não o de crianças e adolescentes. Continuamos com um perfil da doença mostrando muito menor impacto nas crianças”, afirma à CRESCER.
Na escola de Miguel, 5, as aulas também precisaram ser suspensas pouco depois de serem retomadas. “Achei que seria ótimo voltar à escola, mas ele foi 10 dias e teve que parar de ir, porque houve um caso confirmado e dois suspeitos de covid na escola”, conta a mãe Brenda Manólio, 25, que é manicure. “Graças a Deus, ele entendeu superbem a situação.”
Priscilla tem um filho de 1 ano e 8 meses que frequentava a escola desde os 6 meses de idade. Ficou cerca de três meses no berçário, e logo veio a pandemia. O tempo em casa, conciliando os cuidados com Felipe, a casa e o trabalho remoto, foi bastante desafiador, e o retorno também não foi fácil. “Ele retornou em outubro do ano passado e foi um pouco complicado, pois tivemos que fazer uma readaptação. Antes da pandemia, a escola oferecia todas as refeições, mas depois, nós tínhamos que preparar tudo”, relata a gerente de projetos.
A turma de Felipe também teve as aulas suspensas por conta de pelo menos três casos no corpo administrativo da escola. “Ele ainda é pequeno para sentir essa frustração de deixar os coleguinhas e professores. O que mais me machuca é às vezes ele pedir uma atenção e eu não conseguir dar."
Quando é necessário o isolamento de uma turma, a criança então tem que voltar ao ensino remoto. E nem todas as crianças lidam bem com isso, como explica a psicóloga ínfantil Bruna Anastácia, de Fortaleza (CE). “Sabemos que o processo online não funciona para todas as crianças, de todas as idades. Então, poder voltar ao espaço presencial foi muito significativo, porque a escola é um espaço de socialização, de trocas, de construção e de muito aprendizado. Com certeza, essas quebras de rotina trazem impactos negativos, porque a criança volta a se adaptar à socialização e depois precisa ficar em casa novamente. A própria criança sente saudade da escola, dos amigos e da professora de forma presencial”, diz.
Para atenuar o medo e os impactos das mudanças, o diálogo é a melhor saída. “Não precisa falar a realidade total para elas, porque isso pode gerar um medo muito maior, mas é importante mantê-las sempre informadas do porquê dessas mudanças”.
Mesmo que as escolas se mantivessem abertas, as três mães ouvidas pela CRESCER pretendem manter os filhos em casa pelas próximas semanas, mas retornarão às aulas assim que a situação se amenizar.
Em casa, o foco deve ser nos momentos de leveza e de brincadeira, tentando que haja ao máximo vivências presenciais – ainda que com os pais ou outros moradores da casa. “As crianças são muito concretas, então, as aulas presenciais as ajudam em vários sentidos. Trazem mais aprendizagem, interações e aquisição de habilidades socioemocionais. Qualquer atividade presencial é mais facilitadora para os processos e aspectos de desenvolvimento da criança”, diz Bruna.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/03/pandemia-como-ficam-criancas-e-os-pais-em-meio-ao-vai-e-vem-das-aulas-nas-escolas.html