O pequeno Benício tem apenas dois anos, mas já pode ser considerado um "investidor". Isso porque seu pai, o mentor de carreira Douglas Bálico, 37, decidiu investir para o filho logo quando o bebê nasceu, em novembro de 2019. Ele e a esposa, Roberta Bitelli, optaram por um aporte mensal de no mínimo R$ 200. Com esse investimento, o casal espera que após 15 anos, o menino tenha um montante de em média R$ 100 mil, caso tenha uma rentabilidade média de 12% ao ano. E o futuro jovem vai poder escolher o que fazer com o dinheiro. "O objetivo é dar liberdade e autonomia para que ele faça suas escolhas. Acho muito precipitado falar que é preciso fazer um intercâmbio, por exemplo. Queremos que ele tenha liberdade", diz Douglas, que mora em São Paulo.
Nos últimos anos, vem crescendo o movimento de pais que abrem contas de investimentos para menores de idades. Só na corretora Rico Investimentos, em 2020, comparando com 2019, o número de contas abertas para pessoas menores de 18 anos cresceu cerca de 90%. "No passado, estávamos acostumados com aquela ideia dos pais montarem uma poupança para os filhos, porque os juros eram altos. Hoje, não vale mais a pena", afirma Betina Roxo, estrategista da Rico.
Com a tradicional poupança sendo menos lucrativa, o caminho foi procurar outros tipos de aplicações e essa ideia vem se popularizando entre os pais. No entanto, fique atento! Existem algumas regras a seguir para não se enrolar. A primeira delas é ter uma reserva de emergência. Segundo Betina, as famílias precisam ter em mente que antes de investir para os filhos, é necessário fazer um planejamento familiar, pois se acontecer algum imprevisto, não é preciso tirar do investimento da criança.
Para criar seu "pé de meia", basta fazer um cálculo simples para estabelecer um objetivo: você pega quanto gasta por mês e multiplica por seis — ou 12, se você quer ter dinheiro por ano inteiro. A estrategista da Rico explica que esse capital deve ficar em um investimento seguro, mas isso não significa que os pais precisam colocá-lo na poupança. O próprio Tesouro Direto — quando a pessoa compra títulos públicos, isto é, empresta dinheiro para o governo — já rende mais que a poupança. As famílias devem também ter suas próprias aplicações, além da reserva de emergência.
Ao montar uma carteira de investimento, também é necessário entender qual é o seu perfil e objetivo. No caso dos pais que investem para os filhos, os rendimentos são mais a longo prazo, porém isso não é uma regra. Pode ser para a faculdade daqui a três anos ou um intercâmbio.
COMO INVESTIR?
Betina diz que definindo um objetivo é mais fácil escolher o tipo de investimento. "No caso de um bebê que acabou de nascer, os planos, geralmente, são mais a longo prazo, então é possível optar por aplicações mais arriscadas". Mas, fique tranquilo, "arriscado" não significa que você vai perder todo o dinheiro. A especialista explica que os investimentos de renda variável estão mais ligados com a movimentação do capital. O mercado é muito volátil, então as ações, por exemplo, podem estar em alta ou em baixa, quando não há um tempo específico para recuperar o montante investido, os pais podem escolher o momento ideal para vender suas ações.
Sempre depende do seu objetivo! Se seu filho vai viajar daqui seis meses ou um ano, uma aplicação em fundos cambiais, tipo de investimento que protege contra as alterações de moedas como o dólar e o euro, pode ser interessante. É possível ter também uma aplicação em algum tipo de renda fixa, como o Tesouro Direto e o Certificado de Depósito Bancário CDB — que funciona como o empréstimo do seu dinheiro para uma instituição bancária. Além disso, há a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), que também se oferece um empréstimo para o banco, mas para financiar empreendimentos e atividades do setor imobiliário.
Agora, se as famílias estão olhando para um futuro distante, daqui cinco ou 10 anos, a renda variável é um bom caminho, diz Betina. "É claro que é preciso investir em ações de empresas sólidas e que tenham uma perspectiva mais favorável.
Myrian Lund, professora dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também explica que os pais não precisam ter medo das ações. "Quando você coloca em um bom fundo, nunca vai perder seu dinheiro. As ações têm ciclos de alta e baixa e é normal. Por isso, só se deve sacar o dinheiro em momentos de alta. "Se você tem data para usar o dinheiro, aí não é bom entrar nesse produto", diz a especialista.
Para os pais que são iniciantes no universo dos investidores, é possível entrar em fundos de ações. "Sempre que você entra em um fundo, está entrando em um 'veículo de investimento', que tem um 'motorista', que vai te guiar e escolher as melhores ações para você investir", explica Myrian.
De acordo com a professora, para começar a aplicar é possível recorrer aos bancos ou a um tipo de corretora. No entanto, é necessário estar atento se a pessoa que fará a orientação tem uma certificação de planejador financeiro. "Essa é uma certificação internacional cada vez mais solicitada e permite que o orientador entenda os sonhos e objetivos do investidor", diz a especialista.
TENHA VÁRIOS INVESTIMENTOS
A estrategista da Rico Investimentos alerta que um das principais falhas dos pais é não ter uma carteira de investimento diversificada. Douglas, pai de Benício, decidiu não cometer esse erro. "Eu aprecio a diversificação, pois permite que enquanto uma área de sua aplicação não desempenhe tão bem, a outra possa suprir". O mentor de carreira explica que costuma aplicar um quarto de seu capital em ações, um quarto em fundos imobiliários, um quarto em aplicações com maior exposição ao dólar e um quarto em reservas de emergência.
Douglas conta que pelo menos nos primeiros 10 anos não pretende falar para o filho sobre o montante investido. "Acreditamos que falar sobre isso antes desse período não agregaria nada. Ele precisa viver sua infância da melhor forma, diz o pai".
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